17 janeiro 2025

Almirante Gouveia e Melo (64)

 (Continuação daqui)




64. Um caminho


Na condição de jovem economista, oriundo de um país com uma larga tradição vinícola, vivendo na América do Norte no início dos anos oitenta, eu assisti a um fenómeno emergente que me impressionou e para o qual só encontrei explicação muito mais tarde. 

O Chile, um país na altura com uma população semelhante a Portugal, sem  a tradição vinícola de Portugal, estava a conquistar o mercado do vinho nos EUA e no Canadá. O Chile tinha descoberto uma mina de ouro que poderia ter sido de Portugal.

Só anos mais tarde, em conversa com um especialista português do sector, e pedindo-lhe uma explicação para este paradoxo, ele deu-ma e era simples.

-Foi o Pinochet. O regime do Pinochet fez da indústria do vinho um desígnio nacional.

Num país de tradição católica, como o Chile, é preciso autoridade e liderança para definir um caminho. Na cultura católica é a autoridade (da Igreja) que define o caminho (para Deus) e que dita o caminho ao povo. Em democracia, o povo não é capaz de o fazer - o povo envolve-se numa grandiosa discussão que acaba por se tornar uma algazarra e não sai nada dali.  

O Almirante Gouveia e Melo não vai ter os poderes do General Pinochet. Mas traz autoridade e liderança a Portugal. E traz também um caminho - a Economia do Mar (cf. aqui).

A Economia do Mar (The Blue Economy) reúne dois grandes activos de Portugal e que lhe dão uma enorme vantagem comparativa sobre a concorrência - um dos maiores territórios marítimos do mundo e uma invejável tradição marítima. 

16 janeiro 2025

Almirante Gouveia e Melo (63)

 (Continuação daqui)




63.  Claramente de Direita


As ideias de Esquerda e Direita na política nasceram na Assembleia Constituinte que se seguiu á Revolução Francesa quando os defensores da ordem estabelecida se sentaram à direita do Rei e aqueles que punham em causa a ordem estabelecida se sentaram à sua esquerda.

E o que era a ordem estabelecida?

Era essencialmente a ordem estabelecida pela Igreja Católica que, durante séculos e até à modernidade, foi dominante na moldagem cultural da civilização ocidental.

Esquerda e Direita podem, portanto, definir-se em relação à cultura católica. Os países que permaneceram predominantemente católicos são de direita (e esta é a cultura de Portugal); os países que se opuseram à dominância do catolicismo são culturalmente de esquerda (v.g., Inglaterra, Prússia, países nórdicos).

Em termos de instituições, o exemplo acabado de uma instituição de Direita é a própria Igreja Católica. Um exemplo típico de uma instituição de Esquerda é a Maçonaria (cf. aqui).

A Direita distingue-se da Esquerda pelo seu ênfase numa autoridade pessoal, suprema e absoluta (expressa na figura do rei absoluto ou do Papa), a valorização da autoridade e da hierarquia, a prevalência da comunidade sobre o indivíduo, uma economia que dá prioridade à iniciativa privada em detrimento do Estado, a liberdade que se realiza sob a autoridade.

A Esquerda, pelo contrário, opõe-se a tudo isto. Acaba com a autoridade pessoal e absoluta do governante supremo e substitui-a por uma autoridade impessoal - a do povo - expressa na democracia; acaba com a ideia de comunidade e substitui-a pelos partidos; tira a autoridade do caminho da liberdade, e inverte a hierarquia entre estes dois valores; atribui um papel excessivo à iniciativa privada ou ao Estado consoante se inspire no calvinismo (liberalismo anglo-saxónico) ou no luteranismo (socialismo germânico). 

Depois de tudo o que tenho escrito acerca do Almirante Gouveia e Melo, é altura de perguntar:

-O Almirante é um homem de Direita ou de Esquerda?

-Claramente de Direita.


(Continua acolá)

Almirante Gouveia e Melo (62)

 (Continuação daqui)



62. Amigos


No passado mês de Dezembro o semanário Tal & Qual fez uma capa em que associava o Almirante Gouveia e Melo à Maçonaria, com um artigo de página inteira no interior.

O Almirante reagiu com um firme desmentido no site da Marinha (cf. aqui) e até fez queixa do jornal à ERC. Na semana seguinte, o semanário voltou ao assunto dizendo que o Almirante era uma queixinhas (cf. aqui).

No início deste mês foi a vez de dois ex-dirigentes maçónicos virem a público anunciar o lançamento de um Movimento de apoio à candidatura do Almirante à Presidência da República. Diziam-se amigos do Almirante e, perguntados se o Almirante aprovava a iniciativa, acabaram por admitir que ele nunca tinha sido consultado e que até ficou um pouco "aborrecido" ao tomar conhecimento dela (cf. aqui)

Esta semana foi concretizado esse Movimento de Apoio que não pôde, no entanto, utilizar na sua designação social o nome do Almirante, seguramente porque este não permitiu (cf. aqui).

Num país de forte tradição católica como é Portugal, a Maçonaria é uma instituição altamente impopular. A Igreja Católica proíbe mesmo os seus fieis de pertencerem à Maçonaria (cf. aqui).

Conclusão:

-Com amigos destes, o Almirante não precisa de inimigos.


(Continua acolá)

15 janeiro 2025

Almirante Gouveia e Melo (61)

 (Continuação daqui)




61. Armas ou manteiga


A preferência que os portugueses exprimem nas sondagens pelo Almirante Gouveia e Melo parece corresponder ao chamamento de um figura de unidade para presidir ao país. Esta figura de unidade é necessária para mitigar o divisionismo causado pelos partidos, os quais têm partido a comunidade em autênticas "seitas", cada vez mais agressivas umas com as outras.

É para preservar essa figura de unidade aos olhos dos portugueses que o Almirante deve evitar participar  em debates e entrevistas como aquela que deu no Podfest do Expresso na última sexta-feira (cf. aqui), e à qual me referi em baixo (cf. aqui).  É que os debates, as entrevistas, as mesas redondas contribuirão sempre para dividir os cidadãos em torno da figura do Almirante, destruindo-lhe o capital principal que está na base da sua popularidade - o de aparecer, aos olhos dos portugueses e por cima dos divisionismos partidários, como uma figura de unidade nacional.

Os seus adversários nem perderam tempo para aproveitar a entrevista em dois pontos principais, atribuindo ao Almirante posições que ele próprio não exprimiu, como a de preferir despesas militares a despesas sociais e a de ser favorável ao recrutamento militar obrigatório (cf. aqui). Ilustrarei com o primeiro destes pontos.

Os economistas britânicos usam  um modelo económico muito simples para ilustrar a ideia de trade-off, isto é, de que tudo tem um custo na vida - senão em termos de dinheiro, certamente em termos de outros bens -, que é a ideia de custo de oportunidade. O modelo chama-se "Guns or butter", às vezes também chamado "Canons or butter", em suma, "Armas ou manteiga", e que se pode ilustrar do modo seguinte.

Numa economia simples em que se produzem apenas dois bens - armas e manteiga -, se a sociedade decidir produzir mais armas vai ter de produzir menos manteiga, e vice-versa. Este modelo assenta em duas suposições, para além da principal e a mais realista, que é a de que os recursos são escassos: a primeira é a de que esta economia não tem crescimento porque, havendo crescimento, é possível produzir ao mesmo tempo mais canhões e mais manteiga; a segunda é a de que só existem dois bens nesta economia, porque havendo mais, podem-se produzir mais canhões e mais manteiga, embora a expensas de outros bens (v.g., arroz, feijão, trigo, milho).

Em abstracto, quando perguntado como é que o Estado financiaria o aumento das despesas militares a que está obrigado no seio da NATO, o Almirante não excluiu as despesas sociais, sem nunca ter dito que essa seria a sua primeira opção, embora tendo deixado claro que numa situação limite (v.g., uma guerra), como é óbvio,  isso seria uma inevitabilidade.

Porém, aquilo que foi uma conversa em abstracto acerca de armas e manteiga, logo um dos adversários do Almirante se encarregou de converter num dualismo concreto e divisionista, a saber, que o Almirante preferia as despesas militares às despesas sociais, ao passo que ele preferia as despesa sociais às despesas militares (cf. aqui).

Ora, esta conversa do Almirante com os jornalistas do Expresso, que parece totalmente inofensiva, divide os portugueses em torno do Almirante e contra o Almirante porque a maioria dos portugueses prefere obviamente (em abstracto) despesas sociais a despesas militares, os portugueses preferem naturalmente manteiga a canhões. (E também um serviço militar livre a um serviço militar obrigatório)

Se o Almirante cometer este erro muitas vezes de andar por aí a dar entrevistas ainda vai perder as eleições, desbaratando o seu precioso capital de figura de unidade nacional.  

(Continua acolá)

14 janeiro 2025

Almirante Gouveia e Melo (60)

 (Continuação daqui)


Cerimónia de Abertura do Ano Judicial (cf. aqui)


60. A promiscuidade

Eu espero que o Almirante Gouveia e Melo, quando fôr Chefe de Estado, não se preste a participar nesta cerimónia, muito menos a presidi-la.

É uma cerimónia  medieval, caduca (fruto de uma tradição profundamente anti-democrática), ostentatória do poder (à boa maneira da Inquisição), corporativa (os participantes são todos juristas) e que exibe em toda a sua plenitude e solenidade a promiscuidade que existe entre o poder político e o poder judicial em Portugal. 

Só faltou, este ano, a presença da Igreja Católica para abençoar tudo isto (cf. aqui). Houve um protesto, curiosamente vindo de um juiz, também dirigente da Igreja Católica, que melhor representa a promiscuidade entre o Estado e a Igreja (cf. aqui). 

A presença de um Chefe de Estado nesta cerimónia equivale a validar a acção dos principais responsáveis pelas três corporações ("capoeiras") que se apropriaram do sistema de Justiça, pondo-o ao seu serviço, e subtraindo-o ao serviço da comunidade, a tal ponto que a Justiça é hoje o serviço do Estado em que os portugueses menos confiam (cf. aqui e aqui).

(Continua acolá)

Almirante Gouveia e Melo (59)

 (Continuação daqui)


Fonte: cf. aqui


59. O primeiro 


Em cima, o primeiro erro público do Almirante já sem a farda de Almirante, cometido na passada sexta-feira.


(Continua acolá)


13 janeiro 2025

Almirante Gouveia e Melo (58)

 (Continuação daqui)




58. A crise do Estado de Direito


Cristo, que nasceu judeu, veio substituir o Judaísmo, que é uma Religião de Direito - uma Religião de Leis, as Escrituras - por uma Religião de Pessoas, simbolizadas na sua própria Pessoa. Para o Judaísmo, Deus está em primeiro lugar nas Leis (Escrituras), para o Cristianismo Deus está em primeiro lugar nas Pessoas (Cristo, Virgem, Santos e todas as outras pessoas).

Na Igreja Católica, que é a mais antiga corrente do Cristianismo, Deus é simbolizado por uma Pessoa - o Papa -, não pela Bíblia.

A ideia do Estado de Direito, segundo a qual a autoridade suprema de uma sociedade humana é a Lei, é uma ideia distintamente judaica. Esta concepção judaica de que Deus está nas Leis (Escrituras), mais do que nas pessoas influenciou, decisivamente o protestantismo cristão no seu princípio Sola Scriptura, e foi daí que Portugal importou a concepção vigente do Estado de Direito.

Mas não é demais enfatizar que esta concepção de que são as Leis e não as Pessoas que devem constituir a autoridade suprema de uma sociedade não é uma concepção católica nem, por conseguinte, uma concepção portuguesa. Em relação a Portugal, o Estado de Direito é parte do "fato que não lhe serve".

No Inquérito à confiança das instituições organizado pela OCDE que tenho vindo a citar, os portugueses têm confiança máxima nas Pessoas e a confiança mínima nas instituições que estão relacionadas com as Leis - a Assembleia da República que as faz, o Governo que as aplica e os Tribunais que as julgam - e  ainda nos Partidos Políticos que estão no centro do moderno Estado de Direito Democrático (cf. aqui, Gráficos 6 e 7).

A mensagem é clara. Os portugueses confiam fortemente nas Pessoas e desconfiam de tudo o que diga respeito a Leis. Foi assim também com Cristo, as suas palavras mais duras  foram para com os Mestres das Leis, esses "hipócritas" que manipulavam as leis em proveito próprio e em prejuízo do povo.

Parece ser esta também a mensagem que o povo anónimo - uma espécie de "maioria silenciosa" do século XXI - exprime nas sondagens para a Presidência da República. O povo não acredita no Estado de Direito, o povo anda à  procura de um Papa, que substitua o Estado de Direito por um Estado de Pessoas.

O Almirante Gouveia e Melo é a personificação da crise do Estado de Direito em Portugal. 


(Continua acolá)

11 janeiro 2025

Almirante Gouveia e Melo (57)

 (Continuação daqui)

NRP Arpão


57. A Marinha


Eu fico encantado sempre que ouço ou leio o Almirante Gouveia e Melo falar da Marinha. Ontem estive a ver a "Grande Entrevista" que ele deu em Setembro ao jornalista Vítor Gonçalves da RTP: cf. aqui.

O meu sentimento, enquanto cidadão, é de orgulho porque, embora não podendo eu próprio julgar por falta de conhecimento, mas acreditando plenamente na pessoa do Almirante, a ideia com que fico é que a Marinha portuguesa é extremamente bem organizada e eficaz, pronta a actuar em caso de necessidade, utilizando eficientemente os escassos recursos que tem ao seu dispôr e a trabalhar na ponta da tecnologia moderna.

Quando, recentemente, perguntaram ao Almirante quantos submarinos necessitava mais para se sentir plenamente satisfeito como Chefe do Estado Maior da Armada, eu esperava que ele respondesse dez ou doze. Mas não. Respondeu apenas dois (para juntar aos dois já existentes). Fiquei sem palavras pela minha ignorância e pela parcimónia do Almirante.

Na entrevista ao Vítor Gonçalves, há um momento em que o orgulho de ser português - um povo que viveu o melhor período da sua história graças a marinheiros - atinge o máximo. É o momento em que o Almirante refere a recente missão, que ele próprio comandou, do submarino Arpão no Mar Ártico, operando sob o gelo. Segundo o Almirante, há apenas quatro Marinha´s da NATO que conseguem realizar semelhante façanha e a Marinha portuguesa é a única que o faz com um submarino convencional. Nada menos se esperaria de um país de grandes marinheiros.

Foram estas mesmas qualidades de liderança, coragem, determinação e capacidade de organização, guiada por critérios de eficiência, eficácia e economia, que distinguiram o Almirante como chefe da missão de combate à pandemia de covid19. E presumo que é por estas razões que os portugueses agora chamam o Almirante para Chefe de Estado. 

Como avaliar o Almirante nesta nova função que lhe parece destinada, o que esperar dele?

-Que ele ponha todos os serviços do Estado a funcionar como a Marinha.

E pode talvez começar por aquele serviço do Estado que os portugueses consideram o pior serviço público que o Estado oferece aos cidadãos - a Justiça (cf. aqui).  Tenho mesmo uma sugestão por onde iniciar o trabalho neste sector - o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), o mais conhecido departamento do Ministério Público.

A descrição que um  artigo recente do SOL (cf. aqui) faz do estado em que se encontra o DCIAP é assustadora: a desorganização completa, a mais radical falta de liderança, de autoridade e de hierarquia, toneladas (sic) de documentos por analisar, centenas de decisões por tomar, processos que se arrastam durante décadas, governos que caem, primeiros-ministros que se demitem, pessoas que ficam sob suspeita para o resto das suas vidas - cidadãos arruinados pela fama de criminosos, privados dos seus bens e muitas vezes da sua própria liberdade.

O DCIAP é uma vergonha para todos os portugueses, mas não uma vergonha qualquer. É uma vergonha criminosa. Está mais que visto que o actual  PGR não vai conseguir pôr o DCIAP na ordem porque ele próprio foi seu director durante anos e contribuiu, provavelmente mais de que qualquer outra pessoa, para o estado de desorganização criminosa em que o DCIAP actualmente se encontra.

Eu tenho grande esperança que o Almirante vai conseguir pôr o DCIAP na ordem, bem como todos os outros departamentos do Estado, de que o Almirante vai ser o Chefe. Porque, se não conseguir fazê-lo, eu, que sou talvez o cidadão que mais artigos escreveu a manifestar  confiança no Almirante para assumir o cargo de Chefe de Estado, passarei a ser aquele que mais artigos escreverá para apontar a sua incompetência para o lugar. 

(Continua acolá)

10 janeiro 2025

Almirante Gouveia e Melo (56)

 (Continuação daqui)




56. Confiança

Eu não me canso de repetir a minha própria declaração de interesses (cf. aqui), a saber, que não conheço o Almirante Gouveia e Melo, que nunca o vi em pessoa, que não escrevo em nome dele nem sequer para ele, mas somente para mim. E que, se ele falhar as minhas expectativas como Presidente da República, eu serei o seu maior crítico. Quanto mais alto se sobe, de mais alto se cai.

Aquilo que tenho é uma grande confiança no Almirante Gouveia e Melo, ele criou em mim grandes expectativas de que poderá contribuir para reformar o nosso sistema político e o Estado, de modo que os portugueses sejam outra vez governados pelo mérito, por uma verdadeira elite, e possam prosperar. 

E, sobretudo, que os portugueses voltem a acreditar na Justiça, que é uma instituição do Estado em que eles, presentemente, não acreditam.

Aquilo que me leva a ter uma enorme confiança no Almirante Gouveia e Melo não é nenhuma das suas declarações públicas acerca da Economia, da Marinha, do Covid-19, da Defesa ou dos Submarinos.

É a declaração pública que está acima. 

Eu tenho uma grande confiança nos homens, como ele, que estão dispostos a dar a vida por aquilo em que acreditam.

(Eu próprio já o fiz: cf. aqui. E falhei por pouco: cf. aqui) .


(Continua acolá)

Almirante Gouveia e Melo (55)

 (Continuação daqui)




55. Antes que venha outra ditadura


O chamamento do Almirante Gouveia e Melo à Presidência da República, com o seu perfil militar e os valores que lhe estão associados, é claramente um sinal do mal-estar dos portugueses com o regime de democracia partidária que há cerca de meio século governa o país.

É preciso não esquecer que os portugueses em 1926 receberam muito bem, primeiro, uma ditadura militar, e depois o regime do Estado Novo de Salazar, para pôr fim aos desmandos do regime de democracia partidária que governou o país durante a I República. 

A Revolução de 28 de Maio de 1926 foi um autêntico passeio de dez dias do Marechal Gomes da Costa de Braga até Lisboa, à frente das suas tropas, com algumas paragens (v.g., Coimbra e Santarém) para dar tempo aos oponentes para saírem da frente. Sete anos depois, a Constituição de 1933 viria a ser referendada esmagadoramente pelo povo português. 

Não foi caso único. Nos países católicos onde no último século se instalaram algumas das mais conhecidas ditaduras militares (v.g. Espanha de Franco, Brasil de Costa e Silva, Chile de Pinochet) ou de inspiração militar (v.g., Portugal de Salazar) foi sempre em resposta ao descalabro causado pelos regimes de democracia partidária.

Embora, nesse período, o maior descalabro da democracia partidária não tenha ocorrido em nenhum país católico, nem tenha sido sucedido por uma ditadura militar. Ocorreu na Alemanha e foi sucedido por uma ditadura civil. O Partido Nacional-Socialista (Nazi) de Hitler começou por ganhar as eleições legislativas com cerca de 40% dos votos. Mais tarde, o Parlamento, por maioria qualificada dos seus membros, conferiu a Hitler poderes quase absolutos. Os resultados são conhecidos.

O próprio Salazar ficou perplexo depois da Guerra quando viu os países da Europa a reconstruirem-se politicamente na base de regimes de democracia partidária. A perplexidade de Salazar resultava do facto de, na sua opinião, terem sido os  regimes de democracia partidária que, em primeiro lugar, tinham conduzido os países à Guerra - em primeiro lugar, a própria Alemanha. Mais de 70 anos depois, fica-se com a sensação de que Salazar, mais uma vez, pode ter tido razão.

O Almirante Gouveia e Melo tem falado recorrentemente de um risco acrescido de Guerra na Europa e ainda hoje voltou a fazê-lo, enfatizando a necessidade de se discutir o tema da Defesa nas próximas eleições presidenciais (cf. aqui). Ao contrário daquilo que ele parece às vezes sugerir, esse risco acrescido não vem só da Rússia, vem também das democracias partidárias. Afinal, quem iniciou a última Grande Guerra não foi a Rússia mas uma democracia partidária.

O que é que há de errado no regime político de democracia partidária?

O facto de não ser um regime político universal, um "fato" que sirva a todos os países. Na Inglaterra, que o criou, e nos países anglófonos, parece funcionar bastante bem. Nos países católicos, a prazo, não tem funcionado. Nos países árabes nem pensar e na Rússia seria catastrófico.

Cerca de 80% da população portuguesa não confia nos partidos nem se vê politicamente representada neles, embora a maioria aprecie a democracia (cf. aqui). Reformar o sistema político em Portugal, ou implementar uma alternativa que seja democrática, vai ser um das tarefas prioritárias do Almirante Gouveia e Melo para os próximos dez anos. Parece mais que óbvio que, confiando nele como parecem confiar, os portugueses  estarão dispostos a dar-lhe os poderes que sejam necessários para o efeito. Antes que venha outra ditadura.

(Continua acolá)

Almirante Gouveia e Melo (54)

 (Continuação daqui)




54. Sem sair de casa

Aquilo que a sondagem ontem divulgada pela TVI/CNN sobre as presidenciais (cf. aqui) veio sugerir mais uma vez é que o Almirante Gouveia e Melo será eleito Presidente da República praticamente sem sair de casa.

De facto, para além de um certo mínimo, que é muito pequeno, o Almirante só tem a perder - autoridade, prestígio e votos - cada vez que sair à rua em campanha eleitoral.

Esse mínimo inclui algumas alocuções televisivas em directo dirigidas ao povo português e uma ou outra entrevista com jornalistas da sua confiança pessoal. Tudo o que vá para além disso, nomeadamente debates televisivos, comentários à saída do restaurante, mesas redondas, conferências, banhos de multidão, entrevistas sem saber quem está do lado de lá, só o pode prejudicar.

O cardeal Joseph Ratzinger, mais tarde Papa Bento XVI, foi um grande intelectual e o grande doutrinador do catolicismo moderno, expresso na obra que ele próprio dirigiu e que considerava a obra da sua vida: o Catecismo da Igreja Católica.

Não surpreende que um intelectual assim tenha vindo da Alemanha, a pátria do protestantismo moderno, uma cultura que valoriza o intelecto e a razão.  Enquanto o catolicismo esteve entregue a teólogos do sul da Europa ou da América Latina não produziu nada de novo. Na realidade, a grande tragédia dos países de cultura católica, como Portugal, é que nos últimos cinco séculos não saiu deles uma única ideia original.

Na Introdução a um dos volumes da sua monumental obra  "Jesus Cristo", o Papa Bento XVI dirige-se aos leitores pedindo que leiam o seu livro com boa vontade, mesmo se discordarem dos argumentos ou não gostarem do autor. É que sem boa vontade e sem o coração aberto todo o diálogo é infrutífero, senão mesmo destrutivo. Por outras palavras, aquilo que o Papa sugere é que um leitor que, antes de ler o livro, já esteja preconceituado contra o livro ou contra o seu autor, está a gastar inutilmente o seu tempo e não contribui para nada de positivo.

É muito significativo que esta mensagem tenha sido escrita por um homem que vem da pátria do protestantismo, uma cultura em que cada pessoa chega a Deus pelo estudo das Escrituras e pelo diálogo construtivo e de boa-vontade com os outros, fazendo da liberdade de interpretação e discussão das ideias valores sagrados desta cultura.

É diferente na cultura católica. Nesta, chega-se a Deus pela autoridade  da Igreja na interpretação das Escrituras. A Igreja comunica com os crentes (leigos) de cima para baixo, com autoridade, não em diálogo, como fazem os protestantes. 

Na cultura católica, o diálogo serve para diminuir a autoridade, para deitar abaixo quem está lá em cima, para pôr ao mesmo nível quem está lá em cima e quem está lá em baixo. É por isso que o Almirante deve evitar debates, mesas redondas, conferências, entrevistas sem saber quem é o jornalista que está do outro lado, aparições públicas em que possa ser surpreendido por grupos adversos ou por jornalistas. Só virão para o destruir.

A mensagem do Papa Bento XVI é clara. Não vale a pena dialogar com quem nos quer mal.

(Continua acolá)

Almirante Gouveia e Melo (53)

 (Continuação daqui)



53. O ocaso dos partidos


Aquilo que de mais importante a sondagem ontem divulgada pela CNN sobre as eleições presidenciais (cf. aqui) veio revelar, é que os portugueses são capazes de escolher os seus governantes sem necessidade dos partidos, da apresentação de candidatos e de campanhas eleitorais.

Sem ter sido designado por qualquer Partido, sem se ter apresentado como candidato, sem ter feito qualquer campanha eleitoral, o povo português já escolheu o Almirante Gouveia e Melo para seu Presidente da República. Só falta saber se ele aceita.

Parece que, ao fim de 50 anos, cansado de que sejam os partidos e enfiar-lhes presidentes da República (e outros governantes) pela goela abaixo, o povo português finalmente se impôs e decidiu ser ele próprio a escolher o Presidente. E a margem não é pequena. Segundo a sondagem, numa segunda volta frente a qualquer dos candidatos apoiado por partidos, o Almirante ganharia com uma vantagem mínima de 20 pontos percentuais.

A designação dos candidatos pelos partidos, a apresentação de candidaturas e, finalmente, a campanha eleitoral são os três atributos do processo de escolha dos governantes numa democracia liberal ou partidária. São exactamente esses três atributos que estão ausentes - na realidade, são proibidos - no processo eleitoral de uma democracia de tradição católica ou portuguesa, e que enfatizei no post anterior.

Os portugueses não gostam de partidos (cf. aqui). A escolha do Almirante Gouveia e Melo para Presidente da República parece representar o ocaso dos partidos e, com eles, da própria democracia partidária.

(Continua acolá)