(Continuação daqui)
410. Muito cuidado
No dia em que passa um ano sobre a Decisão do TEDH Almeida Arroja v. Portugal e depois de eu próprio ter escrito mais de 400 posts sobre ela, resumo a seguir alguns factos interessantes ocorridos neste período e relacionados com o assunto.
Posts. O post mais popular desta série, a grande distância de todos os outros, é este, que tem o título "Branqueados": cf. aqui.
CSM. A reacção do Conselho Superior da Magistratura (CSM) ao meu protesto contra os dois juízes do Tribunal da Relação do Porto (TRP) que me condenaram é muito significativa. Mostra como a Justiça foi apropriada pelas corporações (juízes, advogados, procuradores do MP), que exibem o seu poder já sem qualquer vergonha. Para decidir uma questão em que de um lado estava eu e do outro dois juízes do TRP, o CSM designou um vogal que também é juiz no TRP, o qual, naturalmente, acabou a decidir que os seus colegas eram muito bons rapazes, e que isso de condenar um inocente é fruto da liberdade de julgamento que assiste aos juízes (cf. aqui e aqui).
Pagamento. O Estado português pagou-me em Agosto os 15 mil euros de indemnização a que o TEDH o condenou (dez mil por danos morais e cinco mil por despesas junto desse tribunal). Celebrei com uma mariscada no Restaurante Casalinho, na Nazaré (cf. aqui).
Reabertura do Processo. Em Setembro, ao abrigo da Decisão do TEDH, meti um requerimento de reabertura do processo no TRP, pedindo a minha descondenação e ser ressarcido das indemnizações, multas, e despesas que incorri junto dos tribunais portugueses. Ainda não houve decisão.
Advogado. Ao advogado que me representou junto do TEDH paguei 3500 euros, o montante que ele me pediu pelo serviço quando o aproximei em Abril de 2019. O pagamento devia ser adiantado porque, em tempos, uma prostituta lhe tinha ficado a dever honorários depois de concluído o processo sob o argumento que na profissão dela os pagamentos eram sempre adiantados. Paguei-lhe adiantadamente como a uma prostituta. Depois de sair a decisão do TEDH apresentou-me uma factura de 40 e tal mil euros que, depois de um grande desconto, ficava por cerca de 22 mil. Para me ver livre dele, acabei a pagar-lhe 11 650 euros (praticamente tudo aquilo que recebi do TEDH). Não satisfeito, pôs-me um processo cível por honorários, reclamando mais de 10 mil euros. Quando fui ao tribunal levantar o processo, que pesava sete quilos e trezentas (cf. aqui e segs), perante a minha indignação, a senhora que me entregou a papelada, de olhos muito abertos e voz quase secretiva disse-me: "O senhor tem de ter muito cuidado quando escolhe um advogado". Eu devia saber isso. Ainda não tinha sido ressarcido da extorsão dos advogados da Cuatrecasas e já outro me batia à porta.
Telefonema. Num dia do final de Março, recebi um telefonema da secretária do presidente do TRP, que estava muito aflita. Tinham-lhe dito que eu tinha enviado um e-mail ao presidente do Tribunal, que até já estava na internet (cf. aqui), mas ela não o conseguia encontrar. Reenviei o e-mail e ela não desligou o telefone enquanto não o recebeu do outro lado. Se eu ainda tinha algumas dúvidas que este blogue era lido no TRP, elas desapareceram nesse dia.
Conflitos de interesses. Queixei-me às autoridades católicas que tinham lá na direcção da Igreja um membro laico, que se apresentava como juiz, mas que era na realidade um fariseu que condenava inocentes (cf. aqui). Nunca obtive resposta. Quem falou grosso foi o CSM que veio logo dizer que ia acabar com as situações de conflito de interesses entre os juízes (cf. aqui). Passado um ano, o juiz Vaz Patto mantém todas as situações de conflito de interesses na Igreja (cf. aqui) e ainda juntou mais uma (cf. aqui). A conversa do CSM era só para apaziguar a populaça.