11 dezembro 2024

Almirante Gouveia e Melo (XV)

 (Continuação daqui)




XV. Realismo


"A moldagem psicológica do campo de batalha", foi uma das expressões utilizadas pelo Almirante Gouveia e Melo perante os políticos que o ouviam quando assumiu funções de coordenador da Taskforce contra a pandemia do covid19 e que, segundo ele próprio, foi recebida com total incompreensão (cf. aqui, min 14:13 e segs.).

Creio que se trata daquela fase anterior ao planeamento da operação militar em que se vai mapear o campo de batalha, identificando os contornos do terreno, as forças inimigas e o material de que dispõem, a moral das tropas, os riscos e os níveis de ameaça, e em que se faz a preparação psicológica dos militares para aquilo que vão encontrar.

O que é que se pede aos militares nesta fase das operações (e em muitas outras que vêm a seguir)?

-Realismo, a capacidade para interpretar a realidade com rigor,  uma qualidade que identifiquei abaixo como sendo um dos atributos do homem de elite (cf. aqui).

O realismo é o oposto do fantasismo, uma característica que é muito abundante nos povos de cultura católica, mas que não pode ter lugar numa operação militar. Se o terreno é montanhoso, que não se tome como sendo plano; que não se desvalorize o inimigo e as suas forças; que se identifique perfeitamente o material de guerra ao dispôr das forças adversas; que se tenham em atenção realisticamente os principais riscos e ameaças. É que, se o fantasismo prevalecer sobre o realismo, a guerra vai ser perdida e os militares vão acabar todos mortos.

A cultura católica é uma cultura de tudo - um dos seus lemas é "Há de tudo" - e, tal como o fantasismo pode nela ser levado ao extremo, assim acontece também com o realismo. A cultura católica, quando interpretada pelas suas elites, pode ser tão extremamente realista que se fala mesmo do realismo católico (cf. aqui) como um atributo desta cultura. Trata-se da capacidade para identificar o problema e encontrar soluções para o resolver. 

O Almirante Gouveia e Melo, na sua condição de comandante militar, virá trazer realismo à vida pública portuguesa. Mas é caso para perguntar, onde é que esse atributo se fará sentir mais intensamente?

Na Justiça, porque é na Justiça que se encontram os maiores fantasistas institucionais que existem no país, e que são largamente responsáveis pelo estado deplorável em que se encontra o sector.

Refiro-me aos advogados. Não há classe mais capaz de dizer que o branco é preto, que o criminoso é inocente, que o inocente é criminoso, que o assassino é um santo, que o ladrão é a vítima, que roubar carteiras é uma arte, que aquilo que se compra por cinco vale cinco mil, que a terra é plana, e que os porcos voam, do que a dos advogados.

Por isso,  quando o Almirante Gouveia e Melo se lançar na batalha para a Presidência da República e fizer a "Moldagem psicológica do campo de batalha" - algo que provavelmente já está a fazer - que não tenha dúvidas. O seus principais inimigos serão os advogados e, mais geralmente, os juristas porque todos os juristas começam normalmente a carreira como advogados. É em torno da Ordem dos Advogados que a corporação se reúne. São mais de 40 mil.  

Eu tenho fundadas esperanças que, se o Almirante for eleito, uma das primeiras instituições a entrar na ordem seja precisamente a Ordem (dos Advogados) e, com ela, a Justiça em Portugal.

10 dezembro 2024

Almirante Gouveia e Melo (XIV)

 (Continuação daqui)



XIV. A Economia


"Há três meses, quando no programa Sim ou Não, da Euronews, o jornalista lhe perguntou pelos principais desígnios nacionais, Gouveia e Melo elegeu este: «O principal desígnio do país é mudar a economia e tornar a nossa economia mais produtiva. Não podemos estar na cauda da Europa. Temos de transformar esta desvantagem numa vantagem significativa» (...)"

"Numa entrevista ao Expresso em 2021, balizou «A riqueza tem de ser criada senão andamos de mão estendida, e quem anda de mão estendida mais tarde ou mais cedo vai ter de pagar tudo o que comeu» (...)" 

(Revista Sábado, 5-11 de Dezembro 2024, pp. 38-39)


(Continua acolá)

09 dezembro 2024

Almirante Gouveia e Melo (XIII)

 (Continuação daqui)




XIII. Ordem

Na cultura católica, os valores prevalecentes na sociedade vêm de cima. A cultura católica é uma cultura hierarquizada e aristocrática. A própria Igreja Católica tem três níveis de hierarquia bem definidos, o padre, que se ocupa da paróquia; o bispo, que reina na diocese, e o Papa que  governa a humanidade inteira. 

Os tiques aristocráticos são visíveis por toda a parte, no tratamento dos bispos por Dom, nos anéis cardinalícios e nas vestes distintivas da alta hierarquia católica. A própria religião é transmitida de cima para baixo, dos padres para os leigos, uma palavra que diz tudo acerca da maneira como o clero católico olha para o povo (ignorantes).

Não é assim na cultura protestante onde nasceu a democracia. Os valores prevalecentes na sociedade vêm de baixo para cima. Alexis de Tocqueville, o autor liberal e aristocrata católico, que retratou magistralmente  os EUA poucos anos após o seu nascimento, ficou impressionado, por exemplo, como os americanos praticavam os valores religiosos nos seus assuntos diários,  como a boa-fé, o respeito pela palavra dada, etc.  

Quer dizer, na cultura católica, o povo reflecte a personalidade dos governantes. Na cultura protestante é ao contrário, é o povo (na realidade, a massa) que condiciona o comportamento dos governantes.

Por exemplo, após a derrocada do socialismo em 1989, o Papa João Paulo II publicou a Encíclica Centesimus Annus (muito provavelmente redigida pelo cardeal Ratzinger, futuro Papa Bento XVI) onde proclamava  a superioridade do capitalismo sobre o socialismo. Trinta anos depois, o Papa Francisco é um socialista convicto e um adversário radical do capitalismo. Em matérias que estão para além da teologia, não se pode confiar na Igreja Católica, diz hoje uma coisa e amanhã outra, segundo a personalidade de quem está no poder.

É assim também num país de cultura católica como Portugal. Salazar era um homem muito cumpridor, extremamente escrupuloso que fazia contas ao cêntimo e o Estado Novo reflectia a sua personalidade, sendo exemplarmente cumpridor nos compromissos que assumia. Depois, com o 25 de Abril, o povo ascendeu ao poder e no povo católico há de tudo, desde pessoas extremamente honestas até aos maiores caloteiros. O Estado português passou a reflectir a influência destes últimos e tornou-se o maior caloteiro do país, uma situação que se mantém ainda hoje.

A liberdade que vem com a democracia em breve é transformada pelo povo católico em permissividade, onde tudo é aceite e tudo é possível, os bons e os maus comportamentos, transformando as instituições naquilo que o povo correntemente chama  uma bandalheira.

Quando isto acontece e se generaliza, como parece estar a acontecer em vários sectores da vida pública portuguesa - na saúde, na justiça, na educação, até no Parlamento - é o próprio povo que clama por ordem, pelo regresso a uma liberdade ordeira que substitua a liberdade anárquica que reina nas instituições.   

Ora, a ordem é um importante valor militar e é, em última instância, imposta pelos militares. Não surpreende que o Almirante Gouveia e Melo esteja tão à frente nas sondagens para Presidente da República. O povo chama por um militar que venha pôr ordem nas coisas.

(Continua acolá)

08 dezembro 2024

Almirante Gouveia e Melo (XII)

 (Continuação daqui)




XII. Elite


"Resta-me acrescentar que os homens de elite de um país de tradição católica, a que tenho feito referência, se encontram frequentemente entre os militares, uma das poucas classes - talvez a única - que conserva a ideia de autoridade e o sentido da hierarquia, que a democracia destrói, e que é essencial à restauração da cultura natural do país". (cf. aqui)


"As principais características distintivas da elite são a sua dedicação a servir a comunidade, o seu respeito pela tradição, o seu realismo e a sua capacidade de julgamento". (cf. aqui)


"Na tradição protestante, o árbitro da política é a lei. Na tradição católica são os militares" (cf. aqui).


Adenda: Sobre a necessidade da elite num país de tradição católica como Portugal: cf. aqui.


(Continua acolá)

Almirante Gouveia e Melo (XI)

 (Continuação daqui)




XI. Verdade


O Presidente da República é, por inerência, o Comandante Supremo das Forças Armadas.

Ninguém vê o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a comandar sequer uma carga de cavalaria, quanto mais uma frota de submarinos ou um esquadrão de F-16.  Qualquer um vê o Almirante Gouveia e Melo a fazê-lo ou a delegar em quem o saiba fazer, e a ser obedecido.

O Almirante Gouveia e Melo vem trazer verdade ao cargo de Presidente da República, cuja função principal é precisamente a de defender a independência de Portugal e a liberdade dos portugueses face a qualquer inimigo externo ou interno.

Mas a verdade que o Almirante vem trazer á sociedade portuguesa excede largamente essa condição de substituir um Comandante Supremo das Foças Armadas que é só Comandante Supremo de aparência por um Comandante Supremo de verdade

Os militares são educados segundo uma obediência estrita à verdade. Entre os militares não pode haver mentira, insinuação, desconfiança, dúvida, trapaça, sob pena de morrerem todos no campo de batalha. Não há exército que resista a uma comandante que mente aos seus subordinados.

O Almirante Gouveia e Melo vem trazer verdade à sociedade portuguesa. A sua postura de militar e o seu apego à verdade vão tornar a vida mais difícil aos trapaceiros, aos aldrabões, aos chico-espertos, aos fala-baratos, aos vigaristas, aos habilidosos, aos incompetentes e aos criminosos em todos os sectores da vida pública nacional, incluindo, talvez principalmente, aquele que mais depende da verdade para realizar a sua missão - a Justiça. 

Sem verdade não é possível fazer justiça. O Almirante Gouveia e Melo trará uma e outra.

(Continua acolá)

Almirante Gouveia e Melo (X)

 (Continuação daqui)



X. O Bem-comum


Ao longo do último século, no universo dos países católicos do sul da Europa e da América Latina - tradicionalmente  menos progressivos do que as suas contrapartes protestantes do norte da Europa e da América do Norte - houve casos excepcionais de grande prosperidade económica e social.

Aconteceu assim na Argentina do General Perón, na Espanha do Generalíssimo Franco, no Portugal de Salazar  e o caso mais recente foi o Chile do General Pinochet que deixou de olhos esbugalhados até os mais reputados economista liberais do mundo, como Milton Friedman e Friedrich Hayek.

Aquilo que caracteriza todos estes casos é que na Presidência da República estava um militar. No caso português, Salazar não era um militar, mas foi posto aos comandos do poder executivo pelos militares e teve sempre na rectaguarda um presidente militar (General Óscar Carmona, General Craveiro Lopes e Almirante Américo Tomás).

O que é que os militares trarão de especial aos países de cultura católica, que eles tanto apreciam, e que os faz excederem-se a si próprios?

- A ideia do bem-comum.

Numa cultura comunitária como é a cultura católica (ao contrário da cultura protestante que é sectária), o bem-comum é o mais importante de todos os bens. 

Os militares são educados, na sua função principal de promover a paz, que é a primeira componente do bem-comum (a segunda é a justiça), a servir todos os portugueses sem distinção; a sua lealdade é para com a nação portuguesa como um todo, e não para com qualquer grupo, igreja ou partido.

Na palestra que o Almirante proferiu a semana passada na Gulbenkian (cf. aqui) as referências ao bem- comum são constantes, assim como a prevalência do bem-comum sobre os bens sectoriais ou partidários ("as capoeiras", na expressão do Almirante).

A segurança que os militares dão à população de que o bem de todos está acima do bem de cada um, do bem do seu grupo ou do seu partido,  cria um sentimento de imparcialidade e justiça num país de cultura católica que o faz superar-se a si próprio, em todos os sectores de actividade.

Até no futebol. Convém lembrar que as primeiras cinco Ligas Europeias dos Campeões foram para Espanha (Real Madrid) sob o Generalíssimo Franco, e as duas seguintes para Portugal (Benfica) sob o Almirante Américo Tomás. Nunca mais uma série assim se repetiu para os países ibéricos.

(Continua acolá)

07 dezembro 2024

A masturbação



Em relação a esta intervenção da Dra. Lara Martins (cf. aqui), vice-presidente da Ordem dos Advogados, e à sua menção aos "actos próprios de advogado", quer dizer, aos actos que só os advogados podem praticar, a minha questão é a seguinte:

A masturbação, é um acto próprio de advogado, ou é um acto que qualquer cidadão pode praticar livremente?  

E, no primeiro caso, o preço está tabelado ou o cliente deve pedir previamente um laudo à Ordem para não ser vigarizado?


(O corporativismo vigente e o carácter medieval da Ordem dos Advogados desafia toda a imaginação).

06 dezembro 2024

Almirante Gouveia e Melo (IX)

 (Continuação daqui)




IX. Assuntos sérios


Quando foi preciso tratar de assuntos sérios, como era a defesa de vidas humanas contra a pandemia do covid-19, o Governo português foi buscar um militar porque os políticos do regime eram manifestamente incompetentes para a tarefa.

(Continua acolá)

05 dezembro 2024

Almirante Gouveia e Melo (VIII)

 (Continuação daqui)




VIII.  A Eficiência

Eu fiquei encantado com a palestra que o Almirante Gouveia e Melo proferiu hoje na Gulbenkian acerca da sua experiência na liderança do combate à pandemia em Portugal, e que pode ser vista no site da CNN: cf. aqui.

Na sua palestra, o Almirante refere-se praticamente a todos os valores característicos da instituição militar em que foi formado e que são muito necessários à sociedade portuguesa actual e, em particular, à instituição do Estado. Alguns desses valores já foram referidos em posts anteriores desta série.

O sentido de comunidade, do bem comum e da lealdade a Portugal e a todos os portugueses perpassa todo o seu discurso mas atinge o seu ponto mais alto quando ele se refere ao episódio das "capoeiras". O Almirante acabou com as várias capoeiras e os seus galos e substituiu-as por uma só capoeira, "a população portuguesa"  (min. 19:30 e segs.).

O episódio do diálogo com a  ministra da Saúde envolvendo a dicotomia entre responsabilidade e poder é delicioso, acabando por triunfar a responsabilidade, que é um valor dos militares (o poder é um valor dos políticos). (min: 20:20 e segs.)

Um dos meus maiores encantos na palestra, como seria de esperar, aconteceu quando o Almirante se referiu à Justiça com que tudo foi feito. As vacinas não chegaram primeiro a uns portugueses e depois a outros. Chegaram a todos ao mesmo tempo, independentemente do lugar onde viviam ou de quaisquer outras considerações, e depois de vencer vários grupos de interesses. Não houve discriminação. Houve imparcialidade que é o atributo distintivo da Justiça em democracia (min. 23:20 e segs.).

A autoridade - uma "autoridade consentida" (min. 24:20) - e a hierarquia estiveram sempre presentes no discurso do Almirante, nomeadamente quando se refere, de forma recorrente, à liderança e à capacidade de organização no combate à pandemia. 

O Almirante só não mencionou explicitamente um valor que é característico da instituição militar e que é também imensamente caro aos economistas, o qual que resume toda a sua actividade e o seu sucesso na liderança do combate à pandemia.

A Eficiência, que significa acertar em cheio no alvo (isto é, atingir plenamente o objectivo), rapidamente e em força.

(Continua acolá)