(Continuação daqui)
XV. Realismo
"A moldagem psicológica do campo de batalha", foi uma das expressões utilizadas pelo Almirante Gouveia e Melo perante os políticos que o ouviam quando assumiu funções de coordenador da Taskforce contra a pandemia do covid19 e que, segundo ele próprio, foi recebida com total incompreensão (cf. aqui, min 14:13 e segs.).
Creio que se trata daquela fase anterior ao planeamento da operação militar em que se vai mapear o campo de batalha, identificando os contornos do terreno, as forças inimigas e o material de que dispõem, a moral das tropas, os riscos e os níveis de ameaça, e em que se faz a preparação psicológica dos militares para aquilo que vão encontrar.
O que é que se pede aos militares nesta fase das operações (e em muitas outras que vêm a seguir)?
-Realismo, a capacidade para interpretar a realidade com rigor, uma qualidade que identifiquei abaixo como sendo um dos atributos do homem de elite (cf. aqui).
O realismo é o oposto do fantasismo, uma característica que é muito abundante nos povos de cultura católica, mas que não pode ter lugar numa operação militar. Se o terreno é montanhoso, que não se tome como sendo plano; que não se desvalorize o inimigo e as suas forças; que se identifique perfeitamente o material de guerra ao dispôr das forças adversas; que se tenham em atenção realisticamente os principais riscos e ameaças. É que, se o fantasismo prevalecer sobre o realismo, a guerra vai ser perdida e os militares vão acabar todos mortos.
A cultura católica é uma cultura de tudo - um dos seus lemas é "Há de tudo" - e, tal como o fantasismo pode nela ser levado ao extremo, assim acontece também com o realismo. A cultura católica, quando interpretada pelas suas elites, pode ser tão extremamente realista que se fala mesmo do realismo católico (cf. aqui) como um atributo desta cultura. Trata-se da capacidade para identificar o problema e encontrar soluções para o resolver.
O Almirante Gouveia e Melo, na sua condição de comandante militar, virá trazer realismo à vida pública portuguesa. Mas é caso para perguntar, onde é que esse atributo se fará sentir mais intensamente?
Na Justiça, porque é na Justiça que se encontram os maiores fantasistas institucionais que existem no país, e que são largamente responsáveis pelo estado deplorável em que se encontra o sector.
Refiro-me aos advogados. Não há classe mais capaz de dizer que o branco é preto, que o criminoso é inocente, que o inocente é criminoso, que o assassino é um santo, que o ladrão é a vítima, que roubar carteiras é uma arte, que aquilo que se compra por cinco vale cinco mil, que a terra é plana, e que os porcos voam, do que a dos advogados.
Por isso, quando o Almirante Gouveia e Melo se lançar na batalha para a Presidência da República e fizer a "Moldagem psicológica do campo de batalha" - algo que provavelmente já está a fazer - que não tenha dúvidas. O seus principais inimigos serão os advogados e, mais geralmente, os juristas porque todos os juristas começam normalmente a carreira como advogados. É em torno da Ordem dos Advogados que a corporação se reúne. São mais de 40 mil.
Eu tenho fundadas esperanças que, se o Almirante for eleito, uma das primeiras instituições a entrar na ordem seja precisamente a Ordem (dos Advogados) e, com ela, a Justiça em Portugal.