(Continuação daqui)
7. "Estão todas a ajoelhar"
Na revolta das massas, em que o populismo consiste, as elites visadas incluem políticos, administradores públicos, gestores de multinacionais, grandes empresários, economistas, universitários, advogados, juízes, até padres - numa frase, quem possua alguma forma de poder ou influência que tenha de ser utilizado para o bem-comum e que seja utilizado para promover interesses privados.
A revolta do demos é conduzida a partir do Estado, utiliza a autoridade do Estado e legitima-se no Estado democrático. É uma revolta do povo que está a ser liderada pela América do Presidente Trump e por uma espécie de traidores à sua própria pertença de elite, como são o próprio presidente Trump e muitos dos seus associados, como Elon Musk, J. D. Vance e Marco Rubio.
Esperar-se-ia que estes homens estivessem a promover os seus próprios interesses enquanto empresários e advogados, e não a liderar uma espécie de segunda revolução americana, esta conduzida não por uma elite como era a dos Founding Fathers, mas por verdadeiros traidores à elite. Esta revolução está destinada a ser imitada por todo o mundo. Nunca nenhuma nação na história da humanidade fez tanto pelo povo e pelos pobres como a América, e fê-lo com um sistema económico capitalista, não com um sistema económico socialista. Estamos a assistir a uma segunda manifestação do "Milagre Americano".
Recentemente, ao procurar uma imagem para ilustrar um post anterior, eu dei de caras com uma edição da Revista Advocatus, que tinha na capa o director português de uma das maiores sociedade de advogados do mundo - a Cuatrecasas (cf. aqui). Referindo-se à absorção de uma pequena sociedade de advogados (SLCM) pela gigante Cuatrecasas, o seu director justificou a operação pela necessidade de aumentar a facturação, não de uma maneira aritmética (isto é, somando) mas de uma maneira geométrica (isto é, multiplicando).
A frase é simplesmente obscena. O povo português, através do Estado democrático, concede aos seus advogados privilégios (que os seus colegas americanos não possuem, nem de longe), expressos num estatuto especial que é o Estatuto da Ordem dos Advogados, porque os vê como agentes da Justiça e, por essa via, ao serviço do Bem-comum. Aquilo que o director da Cuatrecasas veio sugerir, porém, é que isso da Justiça não lhe interessa para nada, ele está ali é para facturar.
O Estatuto da Ordem dos Advogados - como tenho insistido neste blogue -, foi criado para o exercício liberal (individual) da advocacia. Quando apropriado por grandes sociedades capitalistas, como a Cuatrecasas e as suas congéneres, ele passa a ser o Estatuto das Máfias Legais. O sigilo profissional do advogado passa a ser a omertà ou código de silêncio da máfia (cf. aqui) e tudo aquilo que é proibido a uma qualquer sociedade fazer, passa a ser possível através de uma sociedade de advogados - fuga ao fisco, branqueamento de capitais, financiamento ilegal de partidos, pagamentos por tráfico de droga ou armas e, naturalmente, aquilo que desde o início sempre caracterizou a máfia, o assassinato, nem que seja só do carácter, como me aconteceu a mim e ao Guardião do Tejo (cf. aqui), embora no meu caso estivesse prestes a ir para além do carácter (cf. aqui).
Não foi para isto que o povo português, através do seu Estado democrático, concedeu um estatuto de privilégio aos advogados.
Nos EUA o Presidente Trump está a travar uma batalha muito interessante com as grandes sociedades de advogados, que são as maiores do mundo. Muitas delas têm vindo a litigar nos tribunais contra o Governo federal patrocinando clientes que visam impedir a entrada em vigor das ordens executivas do Presidente.
Pois bem, por cada uma que o faz, o Presidente emite uma ordem executiva especialmente direccionada a essa sociedade proibindo o Governo federal de a contratar no futuro e proibindo os seus advogados de entrarem nos edifícios federais. A estratégia tem toda a lógica. Não faz sentido que sociedades de advogados que trabalham para o Governo federal, que representa o povo, ao mesmo tempo litiguem contra ele. Não se pode servir aos mesmo tempo a dois senhores.
Já se imaginou o que era o Governo português proibir a Cuatrecasas de trabalhar para o Estado e impedir os seus advogados de entrarem em edifícios públicos? Só para dar uma ideia, já em 2011, o escritório do Porto da Cuatrecasas, sob a direcção do Paulo Rangel, facturava só à Câmara Municipal de Porto (já na altura com um grande departamento jurídico) sob a presidência do seu amigo Rui Rio, a módica quantidade de 2459 horas de assessoria jurídica (cf. aqui). E o que dizer dos contratos milionários que a Cuatrecasas celebra com o Banco de Portugal por ajuste directo? (cf. aqui e aqui).
A Cuatrecasas iria à falência em Portugal.
Pois é isso mesmo que explica os resultados que o Presidente Trump está a obter com a sua estratégia em relação às sociedades de advogados que litigam contra o Governo federal. É ele próprio que o diz: "They are all bending" ("Estão todas a ajoelhar"):
“They’re all bending and saying: ‘Sir, thank you very much.’ Nobody can believe it,” Trump said last month. “Law firms are just saying: ‘Where do I sign? Where do I sign?’” (cf. aqui)
(Continua acolá)
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