(Continuação daqui)
10. Política cataláctica
O populismo da Administração Trump possui uma característica à qual já fiz referência, mas que merece maior desenvolvimento. Trata-se de fazer política, não predominantemente pela imposição, isto é, pelo uso bruto do poder e da força, mas pela negociação, isto é, pela troca.
O Presidente Trump faz Política cataláctica. As suas decisões políticas raramente se traduzem em situações em que the winner takes it all, em que o poder é usado inteiramente a favor de quem o possui não deixando uma porta de saída à outra parte, que é esmagada e humilhada. Esta é a maneira tradicional de fazer política na Europa, fruto da herança cultural associada aos papas, aos reis absolutos e aos czares.
Ora, a América nasceu em reacção a esta cultura do poder absoluto, em que uma parte sai sempre a ganhar e a outra sempre a perder, em que uma ganha tudo e a outra perde tudo, substituindo-a por uma cultura de negociação ou de troca em que ambas as partes têm o potencial para sair a ganhar.
Esta Política cataláctica que os americanos estão a mostrar ao mundo - e à qual o mundo assiste sem ainda a compreender - representa um progresso civilizacional considerável. A humilhação é substituída pela negociação, a obrigação é substituída pela liberdade de escolha. Na esmagadora maioria das decisões políticas do Presidente Trump ninguém é obrigado a fazer aquilo que não quer. Existe sempre uma porta de saída para a outra parte, uma equitativa liberdade de escolha, uma margem de negociação, o potencial to strike a deal.
O caso das tarifas impostas recentemente pela administração americana a vários países do mundo é ilustrativo. Primeiro, as tarifas são "recíprocas", isto é, os EUA só impõem tarifas aos países que as impõem aos EUA e por um montante igual, e frequentemente inferior. Mas não apenas isso. Ao mesmo tempo que impõe as tarifas, a administração americana anuncia que está disposta a reduzi-las e até a eliminá-las se os outros países fizerem o mesmo. Por outras palavras, só é alvo de tarifas americanas quem quer.
O caso das sociedades de advogados, referido anteriormente (cf. aqui), fornece outro exemplo. O Presidente Trump poderia ter emitido uma ordem executiva proibindo as sociedades de advogados de litigar contra o Governo federal. Seria anti-democrático e não foi isso que ele fez. Ele apenas disse que as sociedades de advogados que litigassem contra o Estado para anular as suas ordens executivas nunca mais teriam contratos do Governo federal. As sociedades de advogados ficaram com inteira liberdade de escolha.
O Presidente Trump poderia também ter emitido uma ordem executiva proibindo os professores e alunos das universidades da Ivy League de fazerem campanha contra Israel e promoverem o anti-semitismo (cf. aqui). Não o fez, seria uma intolerável interferência com a liberdade de expressão. Aquilo que o Presidente Trump fez foi dizer às universidades que continuassem a promover aquelas ideias que nunca mais receberiam subsídios do Governo federal. A liberdade de escolha ficou com as universidades.
Fica a pergunta: E o Presidente Trump terá legitimidade para fazer tudo isto? Claro que tem, ele é que foi eleito pelo povo americano para mandar no Governo federal e decidir aquilo que se faz com o dinheiro dos contribuintes, não as sociedades de advogados ou as universidades, ou sequer os juízes.
Em Portugal, um governo populista e democrático como o do Presidente Trump não proibiria o Professor Boaventura de Sousa Santos e o seu Centro de Estudos Sociais de andar a divulgar aquela lenga-lenga terceiro-mundista das "epistemologias do sul" contra "o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado". Cortava-lhe era a colecta de dois milhões e tal de euros em fundos públicos (cf. aqui), e o Professor Boaventura que os fosse angariar junto de outros mecenas para continuar a divulgar a sua lenga-lenga. Ou que o fizesse com o seu próprio dinheiro.
Adenda: cf. aqui (É caso para dizer: "They are all bending": cf. aqui)
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