23 julho 2024

ILIBERALISMO

 

ILIBERALISMO

 

Emmanuel Todd, o autor de “La Défaite de l’Occident" (2024) expressou recentemente a opinião de que já não há democracia em França. A tese do ET é que as eleições deixaram de ter consequências porque os líderes eleitos não adoptam a visão dos eleitores, persistindo aliás em políticas contrárias à vontade dos eleitores. As eleições ter-se-iam tornado apenas num golpe de teatro.

 

Eu concordo com esta perpectiva, mas acrescento que se passa o mesmo em quase todos os outros países da UE. As excepções são talvez a Hungria e a Sérvia, que por esse motivo estão a ser marginalizadas.

 

ET pensa que a morte da democracia francesa resultou da perda da soberania monetária com o Tratado de Maastricht, que entrou em vigor em 1993. A perda da soberania monetária implicou a perda da soberania orçamental e, portanto, a incapacidade para a democracia funcionar.

 

O ET é um esquerdista, ex-comunista e actual apoiante da NFP (Nouveau Front Populaire) com uma visão intervencionista do Estado, daí o seu posicionamento. Eu penso que uma moeda forte e estável não poria em causa a democracia se os Estados não se tivessem endividado de forma tresloucada — quem deve teme!

 

Entretanto, a UE abandonou a defesa germânica da estabilidade monetária e entregou-se à “flexibilização quantitativa” (Quantitative Easing), utilizando essa "arma financeira" para prosseguir as suas próprias políticas, alheias aos interesses dos 400 milhões de europeus. Enfim!

 

Sem eleições consequentes, a Democracia Liberal e Capitalista (DLC) — o Fim da História do Fukuyama — morreu na Europa (a exemplo dos EUA). A democracia musculada da Rússia e a ditadura da China começam a parecer alternativas viáveis, para mal dos nossos pecados.

 

Censura, perseguições políticas, violações constantes dos direitos cívicos e tribunais inquisitoriais (kangaroo courts) passaram a ser o nosso dia-a-dia. De algum modo pior para os portugueses do que no tempo do Salazar. Pelo menos o velho das botas conhecia bem a nossa cultura e não se servia do País para ganho pessoal. O mesmo não se pode dizer dos apparatchiks de Bruxelas.


Vamos ter muito menos liberdade, menos igualdade de oportunidades e mais conflituosidade social — habituem-se.


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