A Carolina Augusta Xavier de Novaes (1), mulher do escritor Joaquim Machado de Assis (JMA) — a Carol, emigrou (do Porto) para o Brasil em 1866, aos 31 anos, e por lá andou durante mais 38 anos, 35 dos quais casada com o escritor.
A Wikipedia faz o grande favor de nos explicar que a vida matrimonial da Carol “decorreu sem grades complicações”, para logo de seguida vincar que o Joaquim e a Carol viveram uma grande paixão e que o escritor lhe dedicou o seu mais famoso soneto — A Carolina. Talvez a paixão fosse apenas uma complicação.
Ao contrário do JMA, que não tinha educação formal, a Carol era uma mulher da cultura, versada em literatura portuguesa e inglesa, e terá tido uma influência notável no estilo do Machado de Assis.
A Carol editava e corrigia os textos do escritor, que este lhe deixava quando saía para o seu ofício de funcionário público.
Quando li o “Dom Casmurro” (1899) impressionou-me o conhecimento profundo que o escritor revelava do comportamento feminino, através da personagem da Capitu – com o seus olhos como “a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca”. Olhos que mesmerizam, mas que também traem com “o olhar oblíquo e dissimulado”.
Pensei que das duas uma, ou o JMA foi um mulherengo certificado ou teve ao seu lado a musa ideal. Pesquizando alguns dados biográficos percebi que a minha segunda hipótese é que estava certa: a Carolina Machado foi a musa encantada do escritor e creio que podemos afirmar que todas as suas obras têm a sua marca indelével.
Este cruzamento da cultura portuguesa e brasileira, patente na relação especial do Joaquim e da Carol, revela o mundo de oportunidades que o aprofundamento do relacionamento de Portugal e do Brasil pode oferecer.
Portugal foi um grande País, uma grande potência, que deu novos mundos ao mundo e que pode ser considerado o pai da “Primeira Aldeia Global”. Contudo, o nosso tempo passou, envelhecemos e retiramo-nos para o Lar da Terceira Idade que é a UE. Perdemos ambição e o nosso único sonho são as papas Cerelac.
O RU passou pelo mesmo processo e actualmente tem pouca influência, mas alavancou a sua geoestratégia com a relação especial com os EUA. Podemos gastar muita tinta a analisar a causas deste enamoramento, mas no final, quando nos perguntarmos qual é o factor mais importante, a resposta é clara: “É a língua, estúpido!”.
O mesmo se passa com Portugal, o Brasil é um “país de futuro” – Stefan Zweig, imenso e rico, com 200 milhões de irmãos que falam a nossa língua. Devemos alavancar a nossa posição global com uma relação especial com esta potência do novo mundo e dos BRICS.
Os brasileiros, que são sul-americanos, ainda terão alguns preconceitos sobre o velho mundo, mas chegará a altura em que perceberão a força criativa de uma grande paixão, como a do JMA e da Carol.
Pode ser então que nos ajudem a soltar o grito do Ipiranga (Portexit), da prisão esclavagista em que se tornou a velha europa.
1) Sem relação familiar com o Carlos Novais (afirmado pelo próprio quando lhe perguntei).
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