05 novembro 2020

Um juiz à solta (V)

 (Continuação daqui)

"Só a liberdade é sagrada?" (cf. aqui)


V. A agenda política


"Não há unidade enquanto existir personalidade", escreveu Chiara Lubich, a fundadora dos Focolares (cf. aqui). 

É através de um processo de despersonalização que os Focolares realizam o seu objectivo de unidade universal entre os homens, tomando como lema a prece de Cristo: "Pai, que todos sejam um só" (Jo: 17:21). 

Muitos membros dos Focolares não resistem a este desumano e doloroso processo de terem de renunciar à sua personalidade e abandonam a Obra. Existem casos reportados de suicídio.

Gordon Urquhart é um ex-membro dos Focolares que se tornou famoso pelo seu livro "The Pope's Armada" (cf. aqui). Renata Patti, que foi membro dos Focolares entre os 10 e os 50 anos de idade, descreve em detalhe a tecnologia do processo de despersonalização seguido pelos Focolares  numa Memória dedicada a uma focolarina que se suicidou (cf. aqui).

Os focolares vivem em comunidades (em Portugal em Abrigada, concelho de Alenquer) e fazem votos de castidade, pobreza e obediência. Pessoas casadas podem aderir à Obra sob certas condições (cf. aqui)

Segundo Patti, todas as raparigas (focolarini) são chamadas Chiaras e são supostas ser réplicas da fundadora;  a submissão à autoridade e à hierarquia é absoluta; a manipulação emocional é constante, através de técnicas como a confissão colectiva; não existe liberdade de expressão absolutamente nenhuma e ninguém pode falar ou escrever sem autorização da hierarquia (cf. aqui).

Segundo outra ex-focolarina, Monique Goudsmit, a liberdade de pensamento não existe e mesmo os pensamentos mais íntimos são devassados e reprimidos. Nas reuniões está sempre presente um capo que zela pelos progressos realizados no processo de despersonalização (cf. aqui). O sistema de controlo dos Focolares tem sido comparado ao dos Guardas Vermelhos de Mao (cf. aqui).

Nada que possa surpreender. Na verdade, o objectivo de tornar todos um só conduz à igualdade absoluta entre os focolares, um valor que é caro à extrema esquerda. Por isso, os antigos esquerdistas a quem a maturidade e as necessidades de criar uma família incutiram, entretanto, um forte espírito de comunidade são o terreno fértil no qual a Obra geralmente recruta os seus quadros.

(Neste flagrante, o juiz Vaz Patto parece preencher perfeitamente este perfil: o discurso improvisado, o gosto pelo comício, a tendência para a palavra fácil mesmo quando ninguém presta atenção, o palanque que lhe dá uma sensação de superioridade sobre as massas, a postura militante, são sinais que levam a crer tratar-se de um antigo militante da extrema esquerda, agora com uma família para criar: cf. aqui). 

A Obra cultiva activamente o anti-intelectualismo e desencoraja absolutamente a razão, pressionando os seus membros à obediência cega e penalizando quem protesta. "Não pensem!" é a mensagem permanente que é passada aos membros da comunidade (cf. aqui).

As comunidades focolares precisam de meios económicos para sobreviver. Por isso, os focolares exercem na sociedade as mais diversas profissões. Fazem-no, em geral, de forma discreta. O Movimento dos Focolares é um movimento discreto, embora em várias situações não se saiba onde termina o discreto e começa o secreto, como é típico das seitas (cf. aqui).

Possuindo profissões normais na sociedade, os focolares não guardam para si o produto do seu trabalho. Pelo contrário, tendo feito votos de pobreza, entregam-no na totalidade à comunidade, que o distribui depois pelos seus membros, segundo as suas necessidades. Os empresários membros da Obra entregam os lucros das suas empresas à comunidade.

Como em todas as formas de socialismo, seja na sua versão mais radical de comunismo seja na versão mais moderada da social-democracia, as críticas são as mesmas. Enquanto os membros da comunidade vivem na mais completa frugalidade, os chefes passeiam-se, às vezes, em bons carros, vestem-se com bons fatos  e viajam com frequência (cf. aqui).

Chegado a este ponto, é possível, finalmente, responder à questão de saber qual é o projecto político do Movimento dos Focolares e que o político Pedro Vaz Patto discretamente prossegue disfarçado de juiz. 

Mas para responder a esta questão da maneira a mais simples e esclarecedora possível, talvez seja conveniente reformulá-la e colocá-la do seguinte modo: "Como é que seria Portugal, e como seria a socio-economia portuguesa, se todos os portugueses constituíssem uma grande comunidade focolare?".

A resposta é: Portugal seria um pais ultra-conservador nos costumes e comunista na economia.

É esta a agenda política do juiz Pedro Vaz Patto e dos Focolares.  Trata-se de um projecto de sociedade que nos leva de regresso às comunidades cristãs primitivas do tempo de Constantino, uma ideologia que nos faz ir de volta ao tempo das catacumbas.

Esta ideologia, e o modelo de sociedade que propõe, contende directamente com as ideologias modernas - o liberalismo e o socialismo -  que disputam o espaço público nas modernas democracias liberais, embora muito mais com o liberalismo do que com o socialismo.

É que a ideologia focolare partilha com o socialismo a colectivização da economia, embora difiram quanto à questão dos costumes. Já quanto ao liberalismo, a oposição é total pois o liberalismo defende não só a liberdade de costumes, como também a individualização da economia.

Em suma, a ideologia que o político Vaz Patto, discretamente disfarçado de juiz, pretende impôr aos portugueses é uma ideologia retrógrada e primitiva, totalitária que visa, em primeiro lugar, subjugar as mulheres, e que tem como principal inimigo o liberalismo moderno.

Para o juiz Vaz Patto e os Focolares o diabo está na liberdade e a liberdade é o diabo. 

À luz do Código de Conduta dos juízes e do seu Artº 5º, nº 3, fica, portanto a questão: "Se amanhã o juiz Vaz Patto tiver de julgar um caso envolvendo um conhecido liberal e uma outra parte qualquer, como é que vai decidir? Vai condenar o liberal, independentemente das questões de justiça, num esgar de prazer equivalente a um orgasmo judicial?".

É de presumir que sim. É esta presunção que põe em causa a imparcialidade da Justiça e a corrompe.

(Continua)

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