-Um dos conceitos-chave dos Focolare é a unidade, a imagem-sonho de um mundo ideal. Mas isto é enquadrado numa grande hierarquia espiritual. Nas reuniões de comunidade, ou em encontros ocasionais, havia sempre um capo, um responsável com quem se tinha de fazer a unidade. Esta pessoa tinha a graça de exprimir o desejo de Deus. Objectar era inaceitável, não se faziam perguntas.
Emoções, criatividade ou uma ideia pessoal tinham de ser reprimidas para manter a unidade com o capo, que era a maneira de estarmos unas a Chiara, que tinha o carisma da unidade. Era como se estivéssemos unidos através das veias de um grande corpo místico. Usávamos os slogans dados por Chiara. Dessa maneira, tínhamos a nossa própria terminologia, frequentemente incompreensível para os outsiders. Em muitas ocasiões diziam-me: "A Monique não existe, a Monique tem de morrer pela unidade".
A unidade era mais importante do que a nossa própria consciência. Eu dei tudo por esse ideal sagrado e esperei encontrar a minha realização nele. Mas não me dei conta de que o preço a pagar era a minha própria identidade. Quanto mais caía na unidade, menos era capaz de formar as minhas opiniões e de manter uma atitude crítica. Fiquei sem identidade.
No ano passado, ouvi uma frase importante a Job Cohen, presidente da Câmara de Amsterdão: "Nós, humanos, somos todos iguais e diferentes uns dos outros. A beleza está em fazer sobressair as diferenças". Nos Focolare eu nunca senti a unidade como uma humanidade comum, mas como uma submissão comum a uma doutrina e a uma pessoa.
À medida que o Movimento crescia, havia um sistema de controlo total. Posso testemunhar como tudo, ao mais ínfimo detalhe, era reportado ao responsável. De tudo se dava conta, tudo se partilhava. Não havia liberdade de pensamento individual. Até os pensamentos mais íntimos eram trazidos para a unidade. Não existia qualquer espécie de privacidade."
(Monique Goudsmit, cf. aqui)
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