18 abril 2024

A Decisão do TEDH (111)

 (Continuação daqui)

O Papá Encarnação e o filho, o Encarnaçãozinho, durante o julgamento, na visão do cartoonista Fernando Arroja


111. O advogado que melhor fala calado


Do Papá Encarnação eu guardei na memória três atributos principais.

O primeiro era a generosidade com que a sua sociedade de advogados, que ostenta o nome de um falecido barão do PSD na sua designação social - a Miguel Veiga, Neiva Santos e Associados - facturava horas de assessoria jurídica à Câmara Municipal do Porto (cf. aqui).  Mas neste ponto, ele não era inovador, porque o seu cliente Paulo Rangel, à frente da multinacional Cuatrecasas, quando o  colega de ambos de partido, Rui Rio, era presidente da Câmara, facturava, de certeza, muito mais (cf. aqui).

O segundo eram os salamaleques com que ele se dirigia ao juiz,  Vossa Excelência para aqui, Meritíssimo Juiz para acolá,  a tal ponto que o juiz João Manuel Teixeira se devia sentir como uma donzela a quem um mancebo acaba de pedir namoro.

Estes dois atributos sempre me fizeram recordar um advogado que eu conheci, por acaso também de nome Adriano, no dia em que facturou Josefa Pistolas, a cunhada do célebre pistoleiro JPS, pelos seus serviços de assessoria jurídica - mas qualquer semelhança com o Papá Encarnação é pura coincidência (cf. aqui).

Finalmente, gosto de o recordar a fazer bolinhas no papel, no sentido inverso ao dos ponteiros do relógio, nos momentos mortos do julgamento (cf. aqui).

Já quanto ao filho, o advogado Ricardo Encarnação, também conhecido por Encarnaçãozinho, aquilo que eu mais apreciei nele foi a sua contenção.

Os advogados, e mais geralmente os juristas, são conhecidos por sofrerem de uma doença, que eles próprios já hoje reconhecem ter (cf. aqui), que é uma variante das doenças mentais, conhecida por verborreia ou diarreia mental.  

Pois o Encarnaçãozinho é uma excepção.

Durante o julgamento, que durou seis sessões  e se estendeu por quatro meses, sentado ao lado do pai, o Encarnaçãozinho nunca pronunciou palavra. Enquanto o pai fazia bolinhas mas só nos momentos mortos do julgamento, ele fez bonecos no papel durante todo o julgamento.

Logo na altura, ele tornou-se, para mim, um herói. É o advogado que melhor fala calado (cf. aqui). 

(Continua acolá)

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