15 outubro 2024

A Decisão do TEDH (375)

 (Continuação daqui)




375. Peter Boone


Foram ontem anunciados os galardoados com o Prémio Nobel da Economia de 2024 (cf. aqui). São três economistas norte-americanos, confirmando a regra, que deixei expressa no último post (cf. aqui), de que nunca um economista vivendo em algum dos países católicos do sul da Europa ou nos seus descendentes da América Latina foi distinguido com este galardão.

Na realidade, fui mais longe e fiz uma previsão - a de que um economista vivendo num qualquer destes países católicos, que alguma vez fosse candidato ao Prémio Nobel, antes de receber o Prémio seria posto na prisão.

Ora, quanto a esta previsão estive próximo de acertar.  O economista em causa não é português nem espanhol,  italiano, brasileiro, argentino ou mexicano. É inglês e chama-se Peter Boone. Não ganhou o Prémio Nobel, mas é autor de artigos escritos em parceria com um dos Prémios Nobel deste ano, Simon Johnson. E já o quiseram pôr na prisão. E quem o fez foi o Ministério Público de Portugal.

A história é hoje relembrada pelo ECO: cf. aqui.

Em 2010, Boone e Johnson escreveram um artigo  num blogue do New York Times a prever que, a seguir à Grécia, seria Portugal, na altura governado por José Sócrates, a entrar em colapso financeiro, uma previsão que se viria a revelar acertadíssima.

Boone era consultor de um Fundo de Investimento que pôs dinheiro onde Boone só tinha posto a boca, e "shortou" os títulos da dívida pública portuguesa, vendendo a descoberto e comprando mais tarde a um preço mais baixo, ganhando pelo caminho mais de 800 mil euros.

Brilhante!, diria eu.

Crime!, disse o Ministério Público.

Vai daí o DIAP de Lisboa abriu um processo crime contra Boone por manipulação de mercado, um crime com uma pena que pode ir até 5 anos de prisão, acusando-o de, com o seu artigo no blogue, ter deitado abaixo o mercado da dívida pública portuguesa e, de seguida, ter beneficiado com isso.

Como se um artigo de blogue pudesse deitar abaixo um mercado... 

Peter Boone só se livrou da acusação no Tribunal da Relação de Lisboa. 

Era o ano de 2015, o ano da caça aos economistas liberais por parte do Ministério Público, e com uma certa tendência para os Peter's. Foi nesse mesmo ano, que o DIAP, desta feita no Porto, aceitou a queixa-crime que viria a dar origem à Decisão do TEDH Almeida Arroja v. Portugal.

A comparação deixa-me roído de inveja. O Fundo de que Boone era consultor encaixou 800 mil euros com a operação, ao passo que eu andava a gastar do meu dinheiro (e de outros mecenas) para fazer um hospital pediátrico que o Estado português há anos não fazia. 

A estupidez, o provincianismo, a avidez quando cheira a dinheiro, a total incompreensão do valor social do risco e da especulação, a cultura justiceira, persecutória e inquisitorial que não conhece fronteiras destes caluniadores profissionais, criminosos oficiais, especialistas em criminalizar inocentes. Eis o Ministério Público português, cuja merecida reputação, em ambos os casos, conseguiu chegar a Nova Iorque (cf. aqui).

(Continua acolá)

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