31 agosto 2018

os novos clérigos

Rui,

Obrigado (*).


"Se, ao longo deste livro, eu não consegui transmitir ao leitor a importância que atribuo à experiência prática dos americanos, aos seus hábitos, opiniões e, numa palavra, aos seus costumes na manutenção das suas leis, então é porque falhei no meu objectivo principal"
(Alexis de Tocqueville, Democracy in America)

Os hábitos e os costumes, bem como a maior parte das opiniões, não são objecto de deliberação racional por parte da geração presente. São herdados. Actuam acima da consciência de cada um. São aquilo que se designa por cultura. Na opinião de Tocqueville são eles que fizeram a América.

Mas não apenas a América. São eles que fazem qualquer país, como Portugal. Nenhum de nós desenhou Portugal (felizmente). Herdámo-lo com os seus hábitos e costumes e as opiniões que nos povoam a cabeça. E a Igreja Católica é central nessa herança e na formação dos hábitos, dos costumes e das opiniões que constituem a cultura portuguesa.

Ora, aquilo que eu tenho vindo a procurar mostrar é que essa herança cultural é radicalmente anti-liberal e anti-democrática, no sentido moderno destas palavras. Na realidade, Portugal foi com a Espanha, um dos países que mais combateram - e nunca aceitaram - o liberalismo.

O clericalismo a que me referi noutro post é apenas mais um aspecto dessa cultura anti-liberal dos portugueses. E se é certo que hoje já não são principalmente os padres que se metem no caminho entre o homem e o seu destino, a cultura clerical está de tal modo enraizada na sociedade portuguesa, que os padres foram substituídos por novos clérigos, que lhes tomaram o lugar.

Esses novos clérigos estão genericamente descritos aqui.
(Este post foi recentemente citado com grande frequência no Tribunal de Matosinhos e foi junto ao processo, cf. aqui. Na minha opinião, uma grande honra para o Portugal Contemporâneo)

Passei o último ano a combatê-los. Se acho que consegui alguma coisa?

Sim. Acho que consegui bastante. Estou satisfeito com o que fiz, graças ao Portugal Contemporâneo. Só tenho agora de terminar a tarefa.


(*) Quanto á questão religiosa, "ateu militante" é um exagero. Talvez agnóstico seja mais apropriado: "Isso não interessa para nada...".
Já agora, mais uma citação do Tocqueville: "A religião, a qual nunca intervém directamente no governo da sociedade americana, deve portanto ser considerada a primeira das suas instituições políticas, porque embora não lhe tenha dado o gosto pela liberdade, facilita imensamente o seu uso".

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