26 agosto 2011

não tiveram tempo

Na doutrina católica, a palavra Verdade tem, em primeiro lugar, um sentido teológico e significa Deus. Mas a palavra tem também um outro sentido, mais laico ou filosófico, e que é muito importante, certamente para as ciências sociais, como a Economia, a Política e a Sociologia.

Esse sentido é o seguinte: Existe ou não uma maneira certa - verdadeira - de fazer cada coisa na vida? A doutrina católica responde afirmativamente a esta questão. Acerca de cada questão da vida existe uma Verdade que é absoluta. O protestantismo (e, consequentemente, a filosofia moderna e as ciências sociais modernas) responde a esta questão de forma negativa: existem várias maneiras de fazer a coisa, cada uma é apenas relativa. Daí o relativismo cultural do protestantismo.

Eu hoje penso que a doutrina católica é que está correcta, que existe uma maneira certa de fazer cada coisa na vida (v.g., tomar banhos de mar), de que todas as outras maneiras são meras imitações mais ou menos defeituosas, e que essa maneira certa demora tempo a descobrir na vida. Mas existe e, se eu tiver tempo e a procurar com afinco, acabarei por descobri-la. O tempo é uma variável essencial da doutrina católica. Definitivamente, esta não é uma doutrina facilmente compreensível para jovens. Eles ainda não tiveram tempo.

Não é possível a um homem de trinta anos ter um debate racional sobre as questões essenciais da vida com uma criança de 5 anos. A diferença de 25 anos deu ao primeiro experiências da vida que o segundo ainda não pode ter. Será possível a um homem de 55 ter um debate racional sobre questões essenciais da vida com outro de 30 anos? A diferença de idades é a mesma - 25 anos.

Mas a resposta é também negativa, e pela mesma razão, embora seja certo que a proximidade e a possibilidade do diálogo é agora maior do que no caso anterior. Não obstante, existem certas questões sobre as quais o entendimento parece vedado.

E entre um homem de 95 e outro de 70? Sim, agora o diálogo racional sobre praticamente todas as questões da vida já é possível, e os consensos vão ser numerosos, coisa que não acontecia nos dois casos anteriores, especialmente no primeiro. É que estes dois homens já tiveram a oportunidade de ter praticamente as mesmas experiências de vida, ambos foram pais e avós, tiveram carreiras profissionais, gozaram a reforma, conheceram milhares de pessoas muitos diferentes, etc. A Verdade absoluta existe - nos consensos entre estes dois últimos homens - demora é tempo a chegar-se lá.

Recentemente, um senhor das minhas relações, com 83 anos de idade, virou-se para mim e disse-me: "Oh Pedro, aquilo que é o mais importante na vida descreve-se por uma palavra: Equilíbrio. Demorei 83 anos a chegar a esta conclusão". Oitenta e três anos para chegar à verdade. Ele diz-se ateu, mas a verdade a que ele chegou é a verdade católica. (cf. aqui, aqui e aqui).

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