27 agosto 2011

precário

Depois de tudo o que tenho escrito acerca do catolicismo e da Igreja Católica, serei eu um grande católico? Não. Não sou. Sou mesmo um católico muito precário.

A razão é que eu cheguei ao catolicismo por via intelectual e a minha relação com o catolicismo é uma relação predominantemente intelectual. Por isso, eu não devo ser tomado, nem de longe, como exemplo do verdadeiro, do genuíno, do puro católico.

Eu cheguei ao catolicismo vindo do liberalismo, doutrina na qual eu detectei, ao fim de alguns anos, vícios intelectuais - sobretudo preconceitos, omissões deliberadas e agendas escondidas - que, no meu julgamento, se tornaram imperdoáveis, a maior parte das quais em relação à própria Igreja Católica e ao catolicismo.

No catolicismo, como doutrina, pelo contrário, eu encontrei verdade, simplicidade, abertura, racionalidade e consistência lógica. Fiquei encantado. A tal ponto que ainda recentemente escrevi que o meu maior prazer intelectual seria o de descortinar uma inconsistência grosseira na doutrina católica, a qual poderia revestir a forma de uma interpretação grosseiramente defeituosa das Escrituras ou de uma grossa inconsistência entre dois tópicos da doutrina. Ainda não consegui, mas continuarei a tentar.

Mas é precisamente por aqui que se vê como a minha relação com o catolicismo, sendo uma relação predominantemente intelectual, é uma relação muito precária, e que eu não posso ser referido a ninguém como o exemplo do católico por excelência. No dia em que eu encontrar - se é que vou conseguir - uma inconsistência grosseira no catolicismo, eu vou virar-lhe as costas com a mesma convicção que virei ao liberalismo, e talvez murmurando em relação aos autores católicos (o Papa Bento XVI é um deles), o mesmo que murmurei em relação a alguns autores liberais: "São uma cambada de gente preconceituosa, uma seita, e, nalguns casos, uns verdadeiros aldrabões".

O meu amor pelo catolicismo é um amor muito intelectual, que põe muitas questões e pergunta muitos porquês. Estes amores são sempre precários, seja entre um homem e uma doutrina seja entre um homem e uma mulher. São amores que caem na primeira ocasião em que a resposta a uma questão seja insatisfatória ou as respostas a dois porquês não sejam consistentes. Os grandes católicos, tal como os grandes amantes, são aqueles em que o amor brota espontâneamente do coração, que não põem questões nem fazem perguntas. Este é que é o verdadeiro amor, porque é incondicional, não depende de nada.

Na população laica, os grandes católicos, os puros e genuínos, encontram-se sobretudo entre as mulheres.

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