26 fevereiro 2010

Pêndulo


Num post anterior defini aquilo que na minha opinião constitui a essência do Catolicismo - equilíbrio. Trata-se do equilíbrio entre uma multiplicidade de extremos opostos, uma conciliação permanente entre todos os extremos e todos os opostos, um balanço delicado que, quando é perturbado, desencadeia as suas próprias forças correctoras. A Doutrina Católica é uma espécie de força invisível, semelhante à força da gravidade, que permite ao pêndulo oscilar livremente, mas que a todo o momento o puxa para a posição de equilíbrio.

Esta acção moderadora da Igreja entre extremos opostos, uma espécie de equilibrador automático, deixa às sociedades de tradição católica uma tendência para a oscilação, uma variabilidade ou variância, uma tendência para o exagero, que não está presente nas sociedades sujeitas à influência protestante. Mas, ao mesmo tempo, confere-lhes uma capacidade espontânea para voltarem ao equilíbrio que as sociedades a protestantes não possuem. (Por outras palavras, apesar dos seus exageros, nunca virá mal ao mundo de um país de tradição católica. Mas de um país sujeito à influência protestante pode vir, na realidade, já veio, e por mais de uma vez)

Nas sociedades de tradição protestante, onde a Igreja Católica não é uma instituição central, certos comportamentos que representam excessos, vícios ou exageros não podem ser tolerados, sob pena de a sociedade ficar em risco e, no limite, se desmoronar. Daí a tradição proibicionista do protestantismo, que visa limitar as oscilações do pêndulo dentro de limites bem definidos. Pelo contrário, na tradição católica, o pêndulo pode oscilar livremente entre os seus extremos, porque a acção invisível, mas moderadora da Igreja Católica, está lá para o trazer de volta à posição de equilíbrio. O mais provável é que, com o balanço, o pêndulo oscile então até ao extremo oposto, mas a Igreja lá estará então de novo para o trazer de volta.

A história dos países católicos, como Portugal e Espanha, é disto o exemplo acabado. São capazes do melhor e do pior. Por exemplo, nos últimos cem anos, à liberdade da Primeira República, que foi levada ao extremo da libertinagem, seguiu-se a autoridade de Salazar, que também foi levada ao extremo; e a esta seguiu-se a liberdade saída do 25 de Abril, que agora também está a ser exagerada. A mão invisível do catolicismo, porém, estará lá mais uma vez para puxar o país para a posição de equilíbrio, a qual envolverá inevitavelmente menos liberdade e mais do seu oposto - autoridade.

Eu não estou certo de saber como é que a Igreja Católica consegue operar este milagre. Mas que ele existe, existe, e eu próprio sou uma das suas manifestações. Se há vinte anos me tivessem perguntado se eu alguma vez me veria na posição de defender convictamente as posições da Igreja Católica como remédio para os males da sociedade portuguesa, eu teria respondido com um rotundo Não. E, no entanto, é o que se vê.

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