07 dezembro 2008

as mães portuguesas


Ao reler A Rebelião das Massas vinte e cinco anos depois, e agora na língua original, houve vários aspectos que me chamaram a atenção. Um deles referi no post anterior, a semelhança entre as circunstâncias em que o livro foi escrito e as circunstâncias actuais, designadamente uma grave crise económica e financeira e o desprestígio da democracia.

Outro aspecto é a analogia que Ortega estabelece entre o homem-massa e o menino mimado, um tema que eu próprio tenho desenvolvido neste blogue e, antes, no Blasfémias (ver, em resumo, aqui). É sobre o tema do menino mimado que gostaria de tecer duas considerações.

A primeira para referir que, na minha opinião, Ortega generaliza em excesso e vê a Civilização Ocidental com olhos excessivamente espanhóis ou de cultura católica, quando estabelece a analogia referida. Na realidade, a analogia do menino-mimado para o homem-massa de Ortega é muito mais adequada e precisa nos países de tradição católica do que nos países de tradição protestante, com a Itália e Portugal em primeiro lugar. Não se trata de negar que a analogia seja igualmente válida nos países de tradição protestante; trata-se de afirmar uma diferença considerável de grau.

A segunda para referir uma contribuição do Joaquim a propósito da tese do menino-mimado. Em conversa informal, o Joaquim sugeriu-me recentemente que o fenómeno do menino-mimado em Portugal (e provavelmente assim também nos outros países) é um fenómeno essencialmente masculino - um fenómeno de menino-mimado e não de menina-mimada - e isso deve-se, na opinião dele, à maneira diferencial como as mães portuguesas educam os filhos e as filhas.

Na interessante contribuição do Joaquim, enquanto as mães portuguesas mimam os rapazes, elas são muito mais ríspidas na educação das filhas, a tal ponto que as relações mãe-filha em Portugal se tornam frequentemente relações conflituosas e de competição. São os homens portugueses que são mimados, não as mulheres. Segue-se que, para modificar a cultura portuguesa actual, segundo o Joaquim, seria essencial dirigirmo-nos às mulheres portuguesas chamando-lhes a atenção para a maneira perversa, ainda que bem intencionada, como educam os seus filhos rapazes.

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