07 dezembro 2008

o único


José Ortega y Gasset (1883-1955) é talvez o único filósofo de dimensão internacional saído dos países de tradição católica do sul da Europa e América Latina nos últimos três séculos. Este facto seria já de si um feito considerável numa tradição que na época moderna tem sido extraordinariamente adversa à produção de homens de pensamento, não por causa do catolicismo, mas crescentemente por falta dele. Seria talvez desnecessário acrescentar que Ortega teve de se exilar da sua nativa Espanha, e entre os países que o acolheram estiveram o Brasil e Portugal.

A Rebelião das Massas volta a ser um livro actual. Publicado pela primeira vez em 1930, reunindo textos publicados em jornais sobretudo no período de 1926-28, acerca dele escreveu a Revista Atlantic Monthly por ocasião da sua primeira tradução em língua inglesa (1937): "Aquilo que O Contrato Social de Rousseau foi para o século XVIII e O Capital de Karl Marx para o século XIX, A Rebelião das Massas de Ortega y Gasset sê-lo-à para o século XX".

A tese central do livro é amplamente conhecida: as massas que, ao longo da história, sempre obedeceram, decidiram agora mandar - e é neste fenómeno que consiste a rebelião das massas. Aquilo que tornou este fenómeno possível foram a democracia-liberal e o desenvolvimento técnico e científico moderno. As massas, quando agem, agem sempre pela violência. O Estado, que possui o monopólio legal da violência na sociedade, é o instrumento privilegiado de acção das massas. A moderna sociedade de massas conduz à violência e à opressão e, em última instância, à destruição da civilização. O homem-massa típico é aquele que nós, em português, chamaríamos o licenciado.

A Rebelião das Massas foi escrito em circunstâncias que, sob dois aspectos importantes, se assemelham às circunstâncias actuais: o advento de uma grave crise económica e financeira (a Grande Depressão) e o desprestígio generalizado das instituições democráticas. Na altura em que Ortega escreveu estavam já em curso, ou viriam a estar em breve, os movimentos de massas que conduziram ao comunismo, ao fascismo e ao nazismo, e a Segunda Guerra Mundial estava ainda por acontecer.

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