07 dezembro 2008

o homem-massa


Quando se estuda a estrutura psicológica deste novo tipo de homem-massa do ponto de vista dos efeitos que ele produz na vida pública, encontra-se o seguinte: 1.º, uma impressão nativa e radical de que a vida é fácil, folgada, sem limitações trágicas; portanto, cada individuo médio encontra em si uma sensação de domínio e triunfo que, 2.º, o convida a afirmar-se a si mesmo tal como é, dar por bom e completo o seu saber moral e intelectual. Este contentamento consigo próprio leva-o a fechar-se a todas as instâncias exteriores, a não escutar, a não submeter a juízo as suas opiniões e a não contar com os demais. A sua sensação íntima de domínio incita-o constantemente a exercer predomínio. Actuará, portanto, como se só ele e os seus congéneres existissem no mundo; portanto, 3.º, intervirá em tudo impondo a sua opinião vulgar sem hesitações, contemplações, condições ou reservas, quer dizer, segundo um regime de "acção directa".

Este reportório de facetas fez-nos pensar em certos modos deficientes de ser homem, como o "menino-mimado" ou o rebelde primitivo, quer dizer, o bárbaro.
(Ortega y Gasset, op. cit., cap. XI)

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