(Continuação daqui)
69. O homem e a besta
Houve um momento no processo, ainda antes do julgamento no Tribunal de Matosinhos, em que me ocorreu dividir-me em dois, para usar a expressão feliz do Fernando Pessoa.
E vi-me no meio de uma tourada, mais precisamente na fase que eu mais gosto da tourada - a pega de caras.
Assisti a muitas touradas em criança, tal como muitas pessoas da minha geração, a maior parte na TV (cf. aqui), mas algumas também na arena. Eu vivia a curta distância da Praça de Touros do Campo Pequeno, e a uma distância ainda mais curta do Fernando Tordo, em Alvalade, que mais tarde levaria a Tourada ao Festival da Eurovisão para representar Portugal (cf. aqui).
A Tourada era um espectáculo muito popular na altura e a letra da canção, escrita pelo Ary dos Santos, ainda hoje se mantém actual, e foi para mim uma inspiração.
Naquele momento em que me dividi em dois, a tourada e a pega, em particular, ganharam um significado especial. Na pega o homem enfrenta a besta. Há muitas situações na vida em que um homem tem de enfrentar uma besta, e eu estava metido numa delas.
Quem iria prevalecer, o homem ou a besta?
A principal arma da besta é a força, a principal arma do homem é a inteligência.
No caso concreto, a minha arma iria ser a Espada de Cristo (cf. aqui)
Houve um momento, praticamente coincidente com a minha condenação no Tribunal da Relação do Porto, em que parecia que a besta tinha mandado o homem pelos ares e estava tudo acabado.
Foi este: cf. aqui.
Mas não.
No fim, o homem acabou por prevalecer.
(Continua acolá)
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