Viver é fatal
É um cliché dizer que “Viver é Fatal”, mas os clichés são-no pelo motivo de acertarem na mouche. A ideia é que quase todos os seres vivos acabam por morrer e, portanto, estar vivo é uma sentença de morte.
Digo quase todos porque muitos organismos, especialmente os unicelulares, reproduzem-se por simples divisão física e portanto não se pode dizer que morrem (chama-se cissiparidade a este processo).
A morte, propriamente dita, afeta os que se reproduzem de forma sexuada, como todos os mamíferos, incluindo obviamente o Homo Sapiens.
A reprodução sexuada garante maior diversidade genética à descendência, mas condena os progenitores à morte. É assim, a natureza trocou o sexo pela morte.
Os seres humanos, pela sua consciência, têm mais intuição da morte e também da imortalidade, que podem atingir apenas pela descendência. Há um verdadeiro instinto da “Vida Depois da Morte” – que a minha filha Sarah chamou “After Life Instinct” – que nos motiva a procriar e a defender as crias acima da própria vida porque elas representam a permanência dos nossos genes.
Aos 72 anos, não ando por aí a pensar na morte da bezerra, mas dois acontecimentos obrigaram-me a sair da minha zona de conforto e a tentar aproveitar ao máximo o que me resta de esperança de vida.
O primeiro foi a reforma e a “transladação” para Viana do Castelo, a cidade relicário. Como a urbe me pareceu uma residência sénior a céu aberto, deu para me perguntar muitas vezes se o meu destino próximo seriam as postas de pescada.
O segundo foi o diagnóstico de cancro do pulmão, estadio IV, de uma familiar bastante próxima. Lá está, viver é fatal.
Aos 70, se não fores atropelado para o típico – SEPTUAGENÁRIO ATROPELADO FATALMENTE NOS CLÉRIGOS, se não sofreres um enfarte fatal do miocárdio, lá virá o misericordioso caranguejo (Câncer) para te roer as entranhas.
Tendo assegurado a minha imortalidade através de três filhas maravilhosas, de dois casamentos, achei que era altura de sair da minha zona de conforto e dar o meu melhor nas consultas online, a escrever e a viver noutras paragens.
Terminei um conto a que chamei ZIRCANIS, que protagoniza a Louise (foto) e vou iniciar outros projetos literários (tosse, tosse!)
É natural que algumas pessoas não compreendam as minhas opções, mas esperem até chegarem à minha idade e vão ver que fazem todo o sentido.
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