LOUISE
Quando regressei dos EUA e comecei a exercer em regime liberal, no Porto, um dos primeiros congressos a que me desloquei decorreu em Paris. Se bem me recordo foi o “1º Congresso Europeu de Cirurgia” e decorreu no Palais des Congrès daquela cidade deslumbrante.
A abertura do congresso contou com uma palestra (keynote speach) do célebre e saudoso Michel Piccoli, que começou por dizer que não sendo médico se sentia muito à vontade entre médicos porque tinha representado a profissão no cinema em múltiplas ocasiões.
Seguiu-se nova palestra do Presidente da Associação Francesa de Cirurgia, de que tomei uma excelente recomendação:
— Não façam figuras tristes a arrastarem a vossa senilidade pelos teatros operatórios. Reformem-se na altura certa e comprem um cão! Os que nunca tiveram o amor de um cão não sabem o que é o verdadeiro amor.
O restante congresso não teve qualquer interesse porque me pareceu que a organização se limitou a convidar representantes de cada Faculdade de Medicina. De Portugal foram 3, Porto + Coimbra + Lisboa.
Há dois anos, resolvi seguir o conselho que mencionei e adquiri/ adotei uma cadelinha Bulldog Francês que chamei Louise porque a cegonha a trouxe de Paris, aí está.
Desde então, eu e a Louise somos companheiros inseparáveis. Eu sei o que ela pensa e calculo que vice-versa, damos longos passeios juntos e, confesso, deixo-a dormir na minha cama. No inverno debaixo dos lençóis com a cabeça no travesseiro e de Verão aos pés da cama.
O Woody Allen diz que detesta cães porque lhe parecem seres humanos pouco desenvolvidos. Eu amo a Louise precisamente por esse motivo, ela tem as mesmas emoções básicas de qualquer mamífero, mas sem filtros. O seu contentamento é esfusiante, o apetite é descontrolado e a sua energia para passear é uma loucura. Adora ir à praia e tomar banho no mar. E quando chego a casa faz-me uma festa como nunca tive de nenhuma GF.
O Homo Sapiens é muito mais manhoso e traiçoeiro e é por isso que se diz que quanto mais conhecemos os homens mais gostamos dos Canis Lupus Familiaris.
Claro que eu nunca digo que comprei a Louise, para parecer moderno. Digo que a adotei na sequência de uma tragédia que inventei e que contarei noutro post. As moças que param na rua para afagar a Lu adoram a minha história e eu aprecio os elogios e os lânguidos olhares.
Esqueci-me de mencionar que a Louise e eu temos a mesma esperança de vida. Mais ou menos 10 anos. É pouco para tanto amor, mas pensem bem: há casamentos que não duram tanto.
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