02 fevereiro 2009

Teixeira de Pascoaes


Quando comecei a convencer-me que o liberalismo de inspiração anglo-saxónica - a chamada democracia-liberal - não estava a dar bons resultados em Portugal, e não iria dar bons resultados no futuro, quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista social e político, fiz aquilo que me parecia racional fazer: "Esquece tudo o que aprendeste, e começa de novo".

Neste recomeço, no sentido de saber qual o regime mais adequado para Portugal - económico, social e político - comecei por aquele domínio que me é mais familiar - a economia. E voltei a estudar a história económica de Portugal, dando ênfase ao período do Estado Novo, por ser o mais recente. A performance económica do Estado Novo não pode deixar de impressionar um economista (veja aqui).

O passo seguinte foi o de me interrogar que segredos conduziram o Estado Novo a uma performance económica tão extraordinária - a melhor da Europa durante o seu tempo de vida. Como a doutrina do Estado Novo se baseia essencialmente na doutrina de um único homem, o passo seguinte foi o de estudar o pensamento de Salazar à procura das soluções do mistério.

No final desse estudo, aquilo que mais me impressionou no pensamento de Salazar não foi nem a sua doutrina económica, nem o seu pensamento político. Foram, antes, pequenas observações, dispersas aqui e ali nos seus discursos e entrevistas acerca do povo português. Postas em conjunto, elas davam uma teoria acerca do povo português, uma ciência do Ser Português . Passei a acreditar na tese de que Salazar conhecia muito bem as características culturais do povo português e que o seu segredo consistiu em construir um regime económico e político adaptado a essas características e às circunstâncias da época. (veja, em resumo, aqui, mas também aqui, aqui, aqui , aqui, aqui)

Salazar era um homem muito inteligente e arguto - uma qualidade que ele também reconhecia aos portugueses (a inteligência rápida). Aquilo que ainda hoje impressiona nele é que, praticamente sem nunca ter saído de Portugal e sem os meios de informação que hoje existem, ele possuía um conhecimento extraordinário de Portugal, dos portugueses, e da cena internacional, incluindo as correntes filosóficas e políticas dominantes no estrangeiro.

Como o pensamento da Salazar nos foi transmitido sobretudo por entrevistas e discursos, e não por trabalhos académicos que mencionem as fontes, é, por vezes difícil descortinar as fontes e os autores em que ele formou o seu pensamento. Para mim foi um grande prazer ter descoberto recentemente que esse extraordinário conhecimento que ele possuía do povo português se fundava, em grande parte, num pequeno livro publicado em 1915 por Teixeira de Pascoaes (1877-1952), o poeta de Amarante - A Arte de Ser Português.

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