17 outubro 2013

Pedro

Mas, então, é criando uma família que se encontra Deus, foi isso que eu quis dizer no post anterior?

Exactamente, foi isso que eu quis dizer. Deus não se encontra só na família, mas se você não o encontrar aí, eu duvido que você o encontre a olhar para o ar. Pois aí é que ele está mesmo debaixo dos seus olhos e a viver em intimidade consigo. Assim você o queira ver.

O Kant dizia que não se pode discutir Deus, o livre arbítrio e a imortalidade pela razão. Não me surpreende que o Kant tenha dito isto, porque o Kant foi um homem que sempre viveu sozinho, era um tímido, isolado dos outros, nunca teve uma família.

A Deus chega-se, em primeiro lugar, através da comunidade - através das outras pessoas que convivem connosco - e também à liberdade e à eternidade, e a família é a mais próxima de todas as comunidades. Sem comunidade é muito difícil chegar a Deus, na realidade quase impossível.

Não é sem razão que o Papa emérito Bento XVI insistia na importância da missa e da comunhão. Cristo quis que nós formássemos uma comunidade (a palavra Igreja não tem outro significado) e uma comunidade que não excluísse ninguém, que fosse uma comunidade universal (a palavra católico não tem outro significado). Por isso, Deus está presente sobretudo quando nós estamos em comunidade, e a mais próxima de todas - insisto - é a família. É aí em primeiro lugar que nós recebemos os sinais de Deus.

Posso exemplificar?

O Kant achava que não se pode chegar à eternidade pela razão. Mas isso era o Kant, que não tinha uma família. Eu posso, porque eu tenho uma família. E foi aí, em primeiro lugar, que eu me convenci que, de facto, existe a vida eterna, e eu vou ter uma. Foram vários os sinais que já recebi, vou apenas relatar o mais recente.

No seguimento daquela conversa em que a F. me disse que me iria dar meninas (e meninos), ela terá talvez ficado a pensar que eu gostava mais de meninas do que de meninos, porque todo o ênfase da conversa foi colocado nas meninas.

Dias depois ela voltou à conversa para me dizer que iria ter muitas meninas (era a forma de me fazer muito feliz, dado o ênfase que, dias antes, eu tinha colocado nas meninas) e que a primeira se iria chamar Graziela. E depois acrescentou que também iria ter meninos, mas só um:

-Vai-se chamar Pedro, como tu, avô...

Daqui por cem anos, correndo tudo normalmente, o Pedro Arroja ainda andará por aí. Os primeiros cem anos da minha eternidade já estão sinalizados.

Se Deus não fala comigo, às vezes, através da F., então quem é que fala?

11 comentários:

Ricciardi disse...

Ah bom. Entao a Eternidade é deixar descendencia.
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Um gajo eternizasse nos filhos. Sangue do mesmo sangue.
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Como um cao se eterniza nas ninhadas.
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Se a palavra "vida eterna" quer significar isso, pois q seja. Mas provavelmente quer dizer outra coisa.
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Eu nao fico lá mto feliz porque depois de morto vou ter por aí um melro com o meu sanguinho e com o meu nome. Eu fico mais feliz se viver depois da morte morrida. Ir para o inferno ou para o paraíso (de preferencia o paraiso muculmano que me agrada bastante). Em alternativa tambem ficaria feliz se tivesse realmente uma alma q reencarnasse. Chateia-me pensar no purgatório. Lá está, esse reptil lugar q nao é carne nem peixe, nao me faz feliz.
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Rb

Anónimo disse...

E a Sta Trindade tb é, de algum modo, "comunidade".

Anónimo disse...

Sem dúvida, querido Amigo, Deus está no TU, não está no Eu.
Que bom que tenha esse carisma de falar da sua fé sem confessionalidades formais.
Abraço FC

Anónimo disse...

"Se Deus não fala comigo, às vezes, através da F., então quem é que fala?"

Acredito e admiro a sua Fé.
Mas coloco uma questão ainda mais profunda.
Tendo em conta essa fé inabalável pergunto:
Se assim é então qual a necessidade do PA (Professor Arroja) escrever estas coisas? a que público se dirige?
Será que deseja confirmar as sua visão através dos comentadores mais sérios neste blog? Não deveria remeter-se ao silêncio e ficar por aí? a sua subjectividade na certezas absolutas necessita, de alguma forma, de uma confirmação externa?
Se assim for não está a dar razão a Kant?

D. Costa

Anónimo disse...

Plenamente de acordo.

Anónimo disse...

Zeca, deus não está fora de ti, está dentro!
Eu encontrei-me sozinho, encontrei-o sozinho, não que seja regra, calhou...
Não busques regras para explicar deus, não busques explicar deus, ele está dentro de ti e portanto ou o tocas ou não e cada um toca-o ou encontra-o à sua maneira. É das poucas coisas que embora consiga entender... não consigo explicar, porque não dá!

Vivendi disse...

Deus, está dentro.

Razão para tal? Desconheço.

Vivendi disse...

E os que estão ao nosso redor?

Existem para os amarmos e os apoiarmos espiritualmente e vice versa incluindo aqueles que já partiram.

Mas o caminho de Deus é interior.

Pedro Sá disse...

As tentativas do ser humano para ser mais do que realmente é, para conseguir mais do que aquilo que é capaz...a razão humana não tem simplesmente capacidade para o sobrenatural. Ponto. Daí que Kant tenha razão.

Anónimo disse...

A assim nasce mais uma dinastia... a dinastia Arroja... que dure muitos anos... -- JRF

Anónimo disse...

D. Costa

"remerte-se ao silêncio e ficar por aí?"

Não. Seria um erro. Perder-se-iam lições admiraveis.