06 abril 2010

permanentemente apaixonado

Eu gostaria neste post de voltar ao tema que levantei aqui, e que constitui a interrogação de Chesterton: o que é que Cristo escondia, o que é que ele continha e não podia revelar? Não era alegria, não. Era tensão sexual.
Gautama Buda admitiu um dia que, se para chegar ao estado de êxtase contemplativo que constitui o nirvana, tivesse encontrado pelo caminho um outro obstáculo tão difícil de vencer como a contenção sexual, nunca teria lá chegado. A abstinência sexual foi para ele o obstáculo mais difícil de todos. Uma biografia recente do Papa João Paulo II, revela, alegadamente segundo os seus próximos, que ele se auto-flagelava frequentemente. A ser verdade, não é difícil antever porquê e em que altura da vida terá adquirido tal hábito.

E o que é um homem em estado de castidade, como é que ele se comporta, quais são os traços distintivos da sua personalidade? Mencionarei os dois principais.

Em primeiro lugar é um homem com todas as emoções à flôr da pele, precisamente aquilo que Chesterton viu em Cristo. Este homem tão depressa pode exprimir a maior alegria como a maior tristeza, a maior timidez como a maior valentia, a mais profunda compaixão como a mais indignada ira, ele pode ser o homem mais emocional e logo a seguir o mais racional, ele pode experimentar todas as emoções e todas as emoções opostas e deixar transparecer tudo isso na mais completa inocência. Um homem que consegue conter a tensão sexual de forma permanente é um homem que não consegue conter mais nada. É um homem que, como notou Chesterton, tão depressa está bem no meio da multidão como cede a isolamentos impetuosos, deixando à imaginação de cada um saber aquilo que ele procura em tais isolamentos.
Mas, acima de tudo, um homem em estado de castidade é um homem permanentemente apaixonado, é um romântico, um aventureiro, um homem que passa o tempo a sonhar e a imaginar, e que acredita que pode realizar todos os seus sonhos. É o homem cujo espírito está permanentemente concentrado numa figura feminina. É o homem que venera as mulheres. Todas a mulheres. Eu não consigo recordar uma passagem do Novo Testamento onde Cristo seja indelicado com as mulheres, ao contrário do que por vezes sucede com os homens. Ele atende-as a todas, cura-lhes as doenças, faz-lhes milagres, perdoa até a mulher adúltera. Existe apenas uma excepção - a sua Mãe. Por uma vez, ao menos, Ele parece tratá-La de forma indelicada (Mt: 12, 46-50), talvez por Ela ser a única Mulher no mundo que nunca o poderia libertar da tensão.

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