06 abril 2010

um Domingo de Páscoa

Foi um Domingo de Páscoa, na aparência, totalmente improdutivo. De manhã, quando liguei o computador, deparei com este post do Joaquim e com os artigos que são lá citados. Já conhecia a maior parte deles. Não conhecia o último (este), porque era do próprio dia.

Saí para tomar café e quando regressei voltei a ler o artigo. Na realidade, fiquei o resto do dia a ler o artigo e os comentários que, entretanto, iam sendo feitos, alguns ainda mais violentos que o próprio artigo. A questão no meu espírito era sempre a mesma. Como é que se lida com uma besta destas, como é que se trata um paneleirão deste calibre? Como é que o Papa vai lidar com tudo isto? O que é que eu faria se fosse Papa?

No meio de todos estes pensamentos essencialmente negros, houve um que me animou. Em Portugal, aquele artigo não sairia publicado em nenhum jornal respeitável, mesmo se em Inglaterra, ele foi publicado por um jornal que passa por respeitável, o Times. Aquela vaga de ódio e rebaixamento moral contra o Papa que perpassa por todo o artigo, e na maior parte dos comentários dos leitores, seria impossível em Portugal. Portugal ainda não atingiu aquele estado de bestialidade.

Depois, chamou-me a atenção que o autor do artigo é doutorado em Harvard. Sim senhor, se até Harvard já produz deste lixo, o que se poderá esperar das outras universidades anglo-saxónicas e protestantes?

Concentrei-me então no Papa, como é que Ele estaria a lidar, na privacidade do Vaticano, com este problema da pedofilia na Igreja, e que consequências tirará daí. Não fiquei surpreendido quando mais tarde li que o Papa considera esta questão um teste à sua pessoa. Na realidade, ao longo de toda a sua vida, primeiro como Professor de Teologia na Alemanha, depois, no Vaticano, como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ele dedicou uma considerável energia intelectual ao tema da vocação sacerdotal. (*)

A primeira reacção que me ocorreu foi a do silêncio. Depois de já ter escrito uma Carta, especialmente dirigida aos católicos irlandeses, onde pede desculpa em nome da Igreja pelos abusos sexuais cometidos pelos padres, só lhe resta, para já, em público, o silêncio. Ele não pode responder às ofensas e às calúnias com ofensas e calúnias.

Mas eu gosto de o imaginar, qual Cristo a expulsar os vendilhões do templo, a partir a mobília toda na privacidade do Vaticano. Ultimamente, ao que parece, especialmente no mundo anglo-saxónico, os padres nem eram educados pela Igreja. Aparentemente, qualquer jovem chegava aos 18 ou 20 anos e lembrava-se que queria ser padre. Dirigia-se à Igreja e, depois de passar um certo número de testes, e de passar por uma certa formação, era ordenado padre.

Já se vê os padres que saíam daqui. Educados desde pequenos a cederem a todas as tentações terrenas, era agora aos vinte e tal anos que eles se predispunham a submeterem-se aos rigores da vida eclesiástica. É claro que passados os primeiros anos de entusiasmo, o resultado não podia ser senão a tentação e o pecado.

Portanto, uma consequência segura, pelo menos, vai saír desta crise. Os novos padres vão passar de novo a ser escolhidos a dedo, voltarão a ser educados nos rigores da disciplina eclesiástica, voltarão a ser verdadeiras incarnações de Cristo. Não é uma consequência menor para o futuro próximo da Igreja.
(*) Cf., p. ex., John F. Thornton and Susan B. Varenne, Pope Benedict XVI: His Central Writings and Speeches, N. YorK: HarperCollins, 2006.

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