Não fosse o Estado e estas cidades já tinham fechado. Virtuamente, os únicos empregos existentes são na Câmara Municipal, nos CTT, na CGD, na Segurança Social, no Tribunal. Visitei Penamacor há cerca de dois anos. Cheguei lá um domingo à tarde, depois do almoço. Parecia uma ciadade-fantasma. O único movimento na cidade era em torno da prisão. Em Trancoso, a qualidade e a profusão de equipamentos sociais, incluindo o Castelo, levou-me a pensar que os trancosenses devem ser os cidadãos que, em termos per capita, mais caros devem saír aos contribuintes portugueses.
Esta e outras observações semelhantes levaram-me a concluir que a principal razão da crescente concentração económica e centralização política em Lisboa não é o resultado de nenhuma tradição centralista dos portugueses, mas a consequência inevitável da concorrência que o mercado trouxe da Europa e do Mundo. Portugal é hoje o sexto país no mundo onde uma maior percentagem da população vive numa só cidade (Lisboa, mais de 30%). Embora o Estado Central, dominado por racionalidades socialistas nas últimas décadas, possa ter contribuido para este resultado, a principal contribuição veio do mercado. Não é de mais insistir que, se não fosse o Estado, mais de metade das pequenas cidades, vilas e aldeias do interior estariam fechadas.
O momento vai chegar em que nós vamos ter de nos desligar da União Europeia e da globalização e proteger as aldeias, vilas e cidades de Portugal, porque é aí que está a fonte de novos empregos, onde o capital físico está disponível (casas de habitação, piscinas, escolas, etc.), mas subutilizado ou simplesmentos inutilizado. Outros países vão ter de fazer como nós, os principais candidatos são a Espanha e a Grécia. E quanto mais depressa melhor, porque o desemprego não pára de subir.
É claro que ao invocar a Doutrina Social da Igreja para desenvolver este argumento, não se pode concluír que a Igreja defende o proteccionismo económico como princípio, porque tal não é verdade. Aquilo que a Igreja defende são soluções flexíveis, conforme as circunstâncias, soluções de equilíbrio para a comunidade e para as pessoas. Se a população de Vilar de Papagaios e a sua economia estivessem em franca expansão, de tal modo que o Sr. João e os outros pudessem rapidamente arranjar empregos alternativos ou até melhores, nenhuma objecção existiria ao comércio livre de charutos com a China. A Igreja não tem soluções ortodoxas, definitivas e universais para os problemas da economia e da sociedade. Só os economistas e outros cientistas sociais é que as têm. Aí eles são muito mais papistas que o Papa.
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