Num post anterior, um comentador chamou-me a atenção para uma lacuna no meu argumento. Referi então que na tradição protestante chega-se à verdade da palavra de Cristo pelo debate com vista a atingir um consenso. Para esta tradição a verdade está no consenso ou, quando ele não é atingível, na interpretação da maioria.
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Na tradição católica é diferente. Referi então que nesta tradição a verdade está na autoridade. E isto é de facto assim para os leigos que não possuem nenhuma participação no processo de descoberta da verdade. A questão que me faltou abordar foi: "E como é que a autoridade católica - genericamente, o clero - chega à verdade?". A resposta é: pelo debate racional também.
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Existem, porém, duas diferenças que são marcas distintivas das culturas católica e protestante. A primeira é a de que no debate protestante sobre a verdade todos podem participar e ninguém é excluido, ao passo que o debate católico sobre o mesmo tema é reservado a uma corporação de especialistas e o povo (os leigos ou a populaça, na versão do Joaquim) é excluido. A segunda é que, na ausência de consenso, o debate protestante é resolvido pela decisão da maioria, enquanto que o debate católico é resolvido pela decisão pessoal da autoridade suprema (o Papa). Para a tradição protestante, então, a verdade está na maioria, enquanto para a tradição católica a verdade está no chefe.
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Nestas duas diferenças assenta a tradição democrática dos países protestantes e a ausência dela nos países católicos.
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