06 março 2009

um verdadeiro padreca


Num post anterior afirmei que na cultura protestante são os homens que decidem o que é a verdade, ao passo que na cultura católica é Deus, e que esta é a faceta mais ameaçadora e mais perigosa da cultura protestante. Este último aspecto ficou claro no post seguinte quando demonstrei que a violência da cultura católica em relação a outras culturas se exprime pela mera expulsão, enquanto a violência da cultura protestante em relação a outras culturas se exprime pela agressão física, e pela pior forma de agressão física, que é aquela que é fundada na sede de vingança, a qual pode ir até à morte.

A conclusão que deriva daqui é que nunca virá mal ao mundo da cultura católica. A cultura católica pode originar guerras civis dentro de um mesmo país - que normalmente terminam com a expulsão dos vencidos - mas nunca originará guerras mundiais. Esta cultura quando entra em choque com outra cultura, ou a absorve ou, não conseguindo, expulsa-a. Mas não vai atrás dela para se vingar e para a matar.

Diferente é a cultura protestante. Esta é uma cultura que, quando entra em conflito com outra cultura, vai atrás dela pelo mundo fora para a agredir e, no limite, para a aniquilar. Não é por acaso que as duas guerras mundiais tiveram origem num país protestante, na realidade um dos berços do protestantismo - a Alemanha. E, se houver uma terceira, não será diferente, só que o país mais provável deixou de ser a Alemanha para passar a ser os EUA. Se algum dia a humanidade vier a ser aniquilada, como já esteve em risco de ser no último século por duas vezes, será por violência e por ideias nascidas num país protestante. Nunca num país católico.

Como se chegou aqui, como é possível que se tenha chegado a um ponto em que o destino da humanidade - a sua sobrevivência ou a sua aniquilação - fica colocado nas mãos dos próprios homens e depende agora discricionariamente deles? A razão é que a civilização ocidental desenvolveu no seu seio uma tradição cultural que colocou a verdade nas mãos do homem - a tradição protestante - retirando-a das mãos de Deus, que é onde a tradição católica sempre a guardou.

Dentre todos os homens de pensamento, qual aquele que mais contribuiu para este resultado, o qual representa a maior ameaça que a humanidade jamais conheceu, uma ameaça concretizada por duas vezes somente no último século? A resposta é Immanuel Kant.

Descartes, o católico devoto, que inaugurou a era da filosofia moderna, colocou a verdade em Deus, que iluminava a razão humana. No outro extremo, David Hume, o ateu convicto, colocou a verdade na Natureza, que iluminava os sentidos. Até que chegou Kant, o jurista feito juiz, que à boa maneira protestante resolveu fazer justiça e daí extraír a verdade. Admitiu as duas teses à litigação, a tese cartesiana e a sua antítese humeana, e produziu um julgamento que é distintamente protestante na sua procura de equidade. Deu razão aos dois, sem dar razão a nenhum deles, e sentenciou que a verdade nem está no céu, como pretendia Descartes, nem está na terra, como pretendia David Hume. Está no meio, a um nível intermédio. Está nos homens.

Este julgamento foi catastrófico, como a história viria a demonstrar - e corre o risco de continuar a demonstrar no futuro- e a catástrofe começou logo no seu país de origem - a Alemanha , para se propagar depois ao mundo. Nem podia ser de outro modo. Os países protestantes, ao contrário dos países católicos, são países em que "santos" à porta fazem "milagres". Foi este o "milagre" de Kant, duas guerras mundiais começadas na sua nativa Alemanha, e não se sabe quantas mais no futuro, para não me deter aqui sobre a morte e o sofrimento entretanto produzido pelo comunismo, uma ideologia de origem distintamente kantiana.

A conclusão a extraír é que os homens de pensamento verdadeiramente interessados na paz mundial, e em salvaguardar a sobrevivência da humanidade, devem ter como primeira prioridade demonstrar a falsidade do julgamento kantiano, e eu próprio espero contribuír para essa empresa. Este "Destruidor", como o alcunharam os seus próprios conterrâneos, este padreca protestante (*), este Manel Relógio, tem de ser apeado do pedestal que ocupa na filosofia moderna. Não pela trapaça intelectual ou pela violência. Mas por argumento racional puro e verdadeiro, assente na realidade, como é próprio da genuína tradição católica

(*) Sem pretender ser ofensivo - mas fazendo jus às características da minha cultura católica e a alguns dos seus defeitos -, Kant é o padreca típico, o exemplo acabado do homem que ambiciona ser padre renunciando a sê-lo, e que portanto reune os piores defeitos do padre e do homem comum, sem conseguir possuír nenhuma das suas qualidades. Ele foi o padre de imitação, o padre amador que ambiciona imitar o verdadeiro padre, que é o padre profissional e católico. Nunca casou, nunca teve filhos, nunca viajou (mais de 100 Km fora da sua terra natal, Konnisberg). Ambicionou ser professor, que é a marca distintiva do padre católico, mas só o conseguiu ser tarde na sua vida. Não escreveu em latim, mas escreveu numa linguagem rebuscada e contraditória mil vezes mais incompreensível para a maioria das pessoas. Professava uma versão ultra-piedosa do protestantismo, mas só causou divisão e destruição, como os seus vizinhos não deixaram de reconhecer. Em suma, um verdadeiro padreca.

Sem comentários: