Porque é que os portugueses são tão falhos de originalidade intelectual, porque é que não existe uma corrente de ideias, uma doutrina filosófica ou política, uma teoria científica da autoria de portugueses? Por outras palavras, porque é que os portugueses nunca deram uma contribuição original à história do pensamento ocidental?
Por medo.
Salazar (citado aqui) já tinha notado a fraca originalidade intelectual dos portugueses, a sua tendência para imitar, glosar, resumir e adoptar ideias dos outros, a par de uma franca incapacidade para produzir ideias novas. Esta característica torna Portugal um país de intelectuais de segundo plano e totalmente desinteressante, e hostil, para um intelectual verdadeiro.
É este tema que me proponho explicar no presente post.
Como argumentei anteriormente, o português forma as suas convicções ou verdade íntimas em oposição às dos outros. Estas convicções ou verdades são portanto exclusivamente suas, e por isso ele duvida delas uma a uma. A sua insegurança acerca das suas verdades íntimas leva-o a procurar nos outros confirmação para elas. Por isso, o português só exprime em público aquelas verdades que os outros também exprimem. Quanto às outras, aquelas onde poderia residir alguma originalidade, ele guarda-as para si. Tem medo que elas não sejam verdadeiras e receia expô-las em público.
Esta circunstância confere à vida intelectual portuguesa uma característica distintiva e que lhe rouba toda a originalidade. O português só exprime em público ideias que outros também exprimam. Mais nenhumas. E não apenas isso. Ele só exprime ideias em público quando apoiado nalgum grupo, porque é precisamente o grupo que lhe dá a confiança acerca das suas próprias ideias. Portanto, quando não há grupo que partilhe, não há ideias - este bem poderia ser o lema português das ideias.
A vida intelectual pública em Portugal é, assim, feita de seitas, cada uma partilhando o seu conjunto de verdades. Estas seitas caracterizam-se por todos os seus membros partilharem o mesmo conjunto de ideias, e definem-se precisamente contra as ideias de alguma outra seita, cujos membros, obviamente, partilham o mesmo, embora diferente, conjunto de ideias. O debate de ideias em Portugal é, por isso, sempre conduzido em termos do verdadeiro ou falso, do binómio é verdade ou é mentira, sendo verdade as ideias da própria seita e mentira as de qualquer outra seita. Ocasionalmente as ideias de diferentes seitas intersectam-se.
Uma das principais características destas seitas é a de que elas não podem passar umas sem as outras, e quanto mais diferentes forem as suas ideias, mais as seitas precisam uma da outra, porque é precisamente pela diferenciação que elas cimentam a sua identidade, isto é, as suas próprias ideias.
A discussão de ideias entre seitas é rara, porque a falta de capacidade de abstracção dos portugueses inclina-os mais para a discussão de factos do que para a discussão de ideias. A maior parte das discussões entre seitas versam sobre factos, não sobre ideias. Mas quando conseguem discutir uma ideia, é certo que a ideia é importada, em virtude da radical falta de originalidade dos portugueses nesta matérias.
.
A discussão reveste então um carácter predominantemente adjectivo ou interpretativo das ideias de um certo autor ou de vários autores pertencentes a uma dada corrente de pensamento. Fazem-se citações, disputam-se interpretações e em breve está-se a discutir o mero significado das palavras que o autor utilizou em certa frase. Os portugueses representam o povo típico daquilo a que o economista F. A. Hayek um dia chamou "comerciantes de ideias em segunda mão"
.
Poderá, porventura, perguntar-se o que acontece neste ambiente a um intelectual português mais afoito que decida produzir ideias originais. A resposta é que, só acreditando os portugueses nas ideias que são partilhadas por outros, as ideias deste intelectual serão consideradas falsas. Esta é a primeira reacção e é generalizada.
.
Porém, se o intelectual fôr suficientemente persistente, e as suas ideias forem realmente originais, racionais e interessantes, ele pode capitalizar sobre uma característica cultural dos portugueses - a sua imensa curiosidade. Os portugueses consideram as ideias falsas, mas como as ideias são novas, e eles são muito curiosos, não vão deixar de as ler e de seguir o autor com atenção, não vá a verdade estar com ele e com as suas ideias
.
Finalmente, como os portugueses são pessoas geralmente muito inteligentes ou sabedoras e profundamente racionais - a sua maior qualidade -, embora muito injustas, - o seu pior defeito -se as ideias forem de facto verdadeiras, eles acabarão por se render, embora até lá o autor tenha de estar preparado para receber e ouvir toda a sorte de injustiças. A maior é que dificilmente lhe renderão homenagem, excepto, talvez, depois da morte. Outra é que não faltarão portugueses a plagiar as suas ideias, citando-as como sendo deles, sem sequer mencionarem a fonte.
.
A minha conclusão final é que, a despeito do péssimo registo histórico, é possível criar uma corrente de ideias originais e genuinamente portuguesas na filosofia, na política ou na ciência, embora seja muito difícil. Para além da originalidade, o autor tem é de ser uma espécie de Cristo, um homem persistente e pronto a receber toda a espécie de injustiças em defesa das suas ideias.
Por medo.
Salazar (citado aqui) já tinha notado a fraca originalidade intelectual dos portugueses, a sua tendência para imitar, glosar, resumir e adoptar ideias dos outros, a par de uma franca incapacidade para produzir ideias novas. Esta característica torna Portugal um país de intelectuais de segundo plano e totalmente desinteressante, e hostil, para um intelectual verdadeiro.
É este tema que me proponho explicar no presente post.
Como argumentei anteriormente, o português forma as suas convicções ou verdade íntimas em oposição às dos outros. Estas convicções ou verdades são portanto exclusivamente suas, e por isso ele duvida delas uma a uma. A sua insegurança acerca das suas verdades íntimas leva-o a procurar nos outros confirmação para elas. Por isso, o português só exprime em público aquelas verdades que os outros também exprimem. Quanto às outras, aquelas onde poderia residir alguma originalidade, ele guarda-as para si. Tem medo que elas não sejam verdadeiras e receia expô-las em público.
Esta circunstância confere à vida intelectual portuguesa uma característica distintiva e que lhe rouba toda a originalidade. O português só exprime em público ideias que outros também exprimam. Mais nenhumas. E não apenas isso. Ele só exprime ideias em público quando apoiado nalgum grupo, porque é precisamente o grupo que lhe dá a confiança acerca das suas próprias ideias. Portanto, quando não há grupo que partilhe, não há ideias - este bem poderia ser o lema português das ideias.
A vida intelectual pública em Portugal é, assim, feita de seitas, cada uma partilhando o seu conjunto de verdades. Estas seitas caracterizam-se por todos os seus membros partilharem o mesmo conjunto de ideias, e definem-se precisamente contra as ideias de alguma outra seita, cujos membros, obviamente, partilham o mesmo, embora diferente, conjunto de ideias. O debate de ideias em Portugal é, por isso, sempre conduzido em termos do verdadeiro ou falso, do binómio é verdade ou é mentira, sendo verdade as ideias da própria seita e mentira as de qualquer outra seita. Ocasionalmente as ideias de diferentes seitas intersectam-se.
Uma das principais características destas seitas é a de que elas não podem passar umas sem as outras, e quanto mais diferentes forem as suas ideias, mais as seitas precisam uma da outra, porque é precisamente pela diferenciação que elas cimentam a sua identidade, isto é, as suas próprias ideias.
A discussão de ideias entre seitas é rara, porque a falta de capacidade de abstracção dos portugueses inclina-os mais para a discussão de factos do que para a discussão de ideias. A maior parte das discussões entre seitas versam sobre factos, não sobre ideias. Mas quando conseguem discutir uma ideia, é certo que a ideia é importada, em virtude da radical falta de originalidade dos portugueses nesta matérias.
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A discussão reveste então um carácter predominantemente adjectivo ou interpretativo das ideias de um certo autor ou de vários autores pertencentes a uma dada corrente de pensamento. Fazem-se citações, disputam-se interpretações e em breve está-se a discutir o mero significado das palavras que o autor utilizou em certa frase. Os portugueses representam o povo típico daquilo a que o economista F. A. Hayek um dia chamou "comerciantes de ideias em segunda mão"
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Poderá, porventura, perguntar-se o que acontece neste ambiente a um intelectual português mais afoito que decida produzir ideias originais. A resposta é que, só acreditando os portugueses nas ideias que são partilhadas por outros, as ideias deste intelectual serão consideradas falsas. Esta é a primeira reacção e é generalizada.
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Porém, se o intelectual fôr suficientemente persistente, e as suas ideias forem realmente originais, racionais e interessantes, ele pode capitalizar sobre uma característica cultural dos portugueses - a sua imensa curiosidade. Os portugueses consideram as ideias falsas, mas como as ideias são novas, e eles são muito curiosos, não vão deixar de as ler e de seguir o autor com atenção, não vá a verdade estar com ele e com as suas ideias
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Finalmente, como os portugueses são pessoas geralmente muito inteligentes ou sabedoras e profundamente racionais - a sua maior qualidade -, embora muito injustas, - o seu pior defeito -se as ideias forem de facto verdadeiras, eles acabarão por se render, embora até lá o autor tenha de estar preparado para receber e ouvir toda a sorte de injustiças. A maior é que dificilmente lhe renderão homenagem, excepto, talvez, depois da morte. Outra é que não faltarão portugueses a plagiar as suas ideias, citando-as como sendo deles, sem sequer mencionarem a fonte.
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A minha conclusão final é que, a despeito do péssimo registo histórico, é possível criar uma corrente de ideias originais e genuinamente portuguesas na filosofia, na política ou na ciência, embora seja muito difícil. Para além da originalidade, o autor tem é de ser uma espécie de Cristo, um homem persistente e pronto a receber toda a espécie de injustiças em defesa das suas ideias.
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