Modernizar Portugal é uma ambição que existe no país pelo menos desde o século XVIII e continua ainda hoje a ser uma ideia popular especialmente entre os intelectuais.
Em primeiro lugar, o que significa realmente modernizar Portugal? Significa importar no país as ideias, os valores e as instituições do protestantismo que seriam também, mais tarde, as do Iluminismo e da Revolução Francesa. Ao longo dos últimos dois séculos e meio não faltaram tentativas para modernizar Portugal, mas a permanência da ambição sugere que o país se recusa sistematicamente a ser modernizado.
O primeiro modernizador, talvez o Grande Modernizador, foi o Marquês de Pombal. Sebastião de Carvalho e Melo era o típico homem do povo, oriundo de uma família modesta, com um curso de Direito iniciado mas nunca acabado em Coimbra, e uma carreira de funcionário público que em determinada altura o levou a ocupar a posição de consul de Portugal em Londres.
Foi após o seu regresso que se tornou o primeiro-ministro do rei D. José, cuja falta de julgamento, lhe colocou o poder absoluto nas mãos. A minha primeira questão neste post é a seguinte: Se o homem português típico, como argumentei no meu último post, não tem ideias próprias e muito menos originais, onde é que Carvalho e Melo foi buscar as ideias para modernizar Portugal?
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A resposta a esta questão é óbvia. A verdade acerca do que era a modernidade, ele foi buscá-la ao estrangeiro, a Inglaterra, país onde viveu sete anos, porque é ao estrangeiro que os portugueses vão invariavelmente buscar as ideias para modernizar o país. Nunca a verdade sobre o que era a modernização alguma vez poderia ter saído da sua própria cabeça, porque da cabeça de um português do povo nunca saem ideias modernas e originais. Um século mais tarde, Eça também foi a Inglaterra e a Paris buscar as ideias para modernizar Portugal. Por essa altura Ramalho estagiou na Holanda para saber a verdade sobre a modernidade. Mais recentemente, o nosso primeiro-ministro foi importar modernidade da Finlândia, e daí resultou o célebre computador Magalhães.
De volta ao Marquês, a segunda questão é mais complexa: O que é que terá Carvalho e Melo visto em Inglaterra, ou não visto de todo, que lhe terá ficado gravado no espírito, e que ele tomou como a verdade, a marca distintiva, da modernidade de um país, como era a Inglaterra?
Padres. Padres foi aquilo que ele não viu de todo. De resto, ele viu tudo o que também via em Portugal. Por essa altura, a Inglaterra há mais de um século que perseguia os católicos e não os tolerava. Para um homem pouco sofisticado intelectualmente como Carvalho e Melo, o raciocínio não poderia deixar de ser óbvio, dois mais dois igual a quatro. Se a Inglaterra, aos seus olhos - na realidade, aos olhos de todos os portugueses, sobretudo os intelectuais -, era um país moderno, e Portugal não era; se a grande diferença entre a Inglaterra e Portugal é que lá não havia padres e aqui havia padres, então a solução para modernizar Portugal, a verdade acerca da modernidade de um país, estava encontrada - expulsar os padres. (Na imagem, a expulsão dos jesuítas)
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E foi isso que ele fez. Não vou comentar de novo a tragédia que isso representou para Portugal, em especial para o seu sistema de educação. Num país de professores, de que os padres católicos e, especialmente, os jesuítas, representam ainda hoje o arquétipo, substituir os padres por intelectuais de terceira classe foi uma tragédia para a escola e para a universidade portuguesa. Cinquenta anos depois Portugal entrava em guerra civil.
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Aquilo que pretendo sublinhar é diferente. Tenho reiterado neste blogue que a falta de julgamento (ou de juizo ou de equidade) é o pior defeito dos portugueses, e que ele se exprime pela iniquidade. Normalmente, a iniquidade ocorre como um subproduto do seu apego à verdade e em consequência da prossecução da verdade. Mas quando a verdade é deste quilate, a saber, que um país se moderniza expulsando os padres, não é de surpreender as iniquidades monstruosas que vão ser cometidas pelo caminho.
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E, na realidade, o Marquês de Pombal permanece ainda hoje na nossa história como o governante mais iníquo de todos, ao ponto da crueldade. Ele representa a incapacidade de julgamento dos portugueses em pessoa. A estátua que está em Lisboa é, em primeiro lugar, uma irónica homenagem ao maior defeito dos portugueses - a sua radical falta de julgamento.
Em primeiro lugar, o que significa realmente modernizar Portugal? Significa importar no país as ideias, os valores e as instituições do protestantismo que seriam também, mais tarde, as do Iluminismo e da Revolução Francesa. Ao longo dos últimos dois séculos e meio não faltaram tentativas para modernizar Portugal, mas a permanência da ambição sugere que o país se recusa sistematicamente a ser modernizado.
O primeiro modernizador, talvez o Grande Modernizador, foi o Marquês de Pombal. Sebastião de Carvalho e Melo era o típico homem do povo, oriundo de uma família modesta, com um curso de Direito iniciado mas nunca acabado em Coimbra, e uma carreira de funcionário público que em determinada altura o levou a ocupar a posição de consul de Portugal em Londres.
Foi após o seu regresso que se tornou o primeiro-ministro do rei D. José, cuja falta de julgamento, lhe colocou o poder absoluto nas mãos. A minha primeira questão neste post é a seguinte: Se o homem português típico, como argumentei no meu último post, não tem ideias próprias e muito menos originais, onde é que Carvalho e Melo foi buscar as ideias para modernizar Portugal?
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A resposta a esta questão é óbvia. A verdade acerca do que era a modernidade, ele foi buscá-la ao estrangeiro, a Inglaterra, país onde viveu sete anos, porque é ao estrangeiro que os portugueses vão invariavelmente buscar as ideias para modernizar o país. Nunca a verdade sobre o que era a modernização alguma vez poderia ter saído da sua própria cabeça, porque da cabeça de um português do povo nunca saem ideias modernas e originais. Um século mais tarde, Eça também foi a Inglaterra e a Paris buscar as ideias para modernizar Portugal. Por essa altura Ramalho estagiou na Holanda para saber a verdade sobre a modernidade. Mais recentemente, o nosso primeiro-ministro foi importar modernidade da Finlândia, e daí resultou o célebre computador Magalhães.
De volta ao Marquês, a segunda questão é mais complexa: O que é que terá Carvalho e Melo visto em Inglaterra, ou não visto de todo, que lhe terá ficado gravado no espírito, e que ele tomou como a verdade, a marca distintiva, da modernidade de um país, como era a Inglaterra?
Padres. Padres foi aquilo que ele não viu de todo. De resto, ele viu tudo o que também via em Portugal. Por essa altura, a Inglaterra há mais de um século que perseguia os católicos e não os tolerava. Para um homem pouco sofisticado intelectualmente como Carvalho e Melo, o raciocínio não poderia deixar de ser óbvio, dois mais dois igual a quatro. Se a Inglaterra, aos seus olhos - na realidade, aos olhos de todos os portugueses, sobretudo os intelectuais -, era um país moderno, e Portugal não era; se a grande diferença entre a Inglaterra e Portugal é que lá não havia padres e aqui havia padres, então a solução para modernizar Portugal, a verdade acerca da modernidade de um país, estava encontrada - expulsar os padres. (Na imagem, a expulsão dos jesuítas)
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E foi isso que ele fez. Não vou comentar de novo a tragédia que isso representou para Portugal, em especial para o seu sistema de educação. Num país de professores, de que os padres católicos e, especialmente, os jesuítas, representam ainda hoje o arquétipo, substituir os padres por intelectuais de terceira classe foi uma tragédia para a escola e para a universidade portuguesa. Cinquenta anos depois Portugal entrava em guerra civil.
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Aquilo que pretendo sublinhar é diferente. Tenho reiterado neste blogue que a falta de julgamento (ou de juizo ou de equidade) é o pior defeito dos portugueses, e que ele se exprime pela iniquidade. Normalmente, a iniquidade ocorre como um subproduto do seu apego à verdade e em consequência da prossecução da verdade. Mas quando a verdade é deste quilate, a saber, que um país se moderniza expulsando os padres, não é de surpreender as iniquidades monstruosas que vão ser cometidas pelo caminho.
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E, na realidade, o Marquês de Pombal permanece ainda hoje na nossa história como o governante mais iníquo de todos, ao ponto da crueldade. Ele representa a incapacidade de julgamento dos portugueses em pessoa. A estátua que está em Lisboa é, em primeiro lugar, uma irónica homenagem ao maior defeito dos portugueses - a sua radical falta de julgamento.
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