08 março 2009

o primeiro avião


Neste post, eu gostaria de responder à questão formulada pelo Tiago Moreira Ramalho aqui. A questão tem uma história, que se resume brevemente. Eu comecei por caracterizar o homem de elite da tradição católica (aqui) e afirmei que ele não pode ser homossexual. O Tiago levantou a questão da reprodução (aqui), à qual eu respondi aqui.
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A questão agora é a seguinte: Então os padres, que não se podem reproduzir, não serão homens verdadeiros e, como tal não podem ser homens de elite?
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Antes de responder, uma precisão. A descrição que fiz do homem de elite da tradição católica, na sua forma pura - representada pela classe dos professores - é uma descrição que se ajusta plenamente aos padres - na realidade, os padres são a primeira classe profissionalizada de professores da nossa civilização. O homem de elite não aceita o aborto, a eutanásia e a homossexualidade, e isso a Igreja também não aceita. O homem de elite adquire a sua sabedoria junto do povo e complementa-a com a sabedoria e a capacidade de julgamento que adquire nos livros - e é isso que os padres fazem também. Portanto, sendo o padre o candidato ideal a qualificar como homem de elite porque é que ele não pode ter filhos? Trata-se aqui de uma questão onde a verdade tem de ser temperada com julgamento - e esta é que é a marca distintiva do homem de elite da tradição católica. A resposta é que se os padres pudessem ter filhos a Igreja seria destruida.
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Um padre não pode ter filhos e muito menos mulher. A mulher põe sobre o homem exigências e solicitações, para além de tentações, muito variadas e custosas. A primeira é a de o responsabilizar pelo sustento da família. E um homem ocupado a sustentar a família não tem disponibilidade para se dedicar ao serviço de Deus.
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Mais, à medida que o padre fosse subindo na hierarquia da Igreja, e atingisse altas posições, como a de Papa, a tentação seria para legar o seu lugar a um filho, tranformando a Igreja numa dinastia sucessória, com os defeitos que são conhecidos. Houve um período da história da Igreja (vg, séc. XV), em que os padres, violando a lei canónica, tinham mulheres e filhos, e os Papas não eram excepção. Foi o pior período da Igreja, que conduziu ao movimento da Reforma, e quase levou à sua ruina.
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Não apenas isso. Um Papa nascido na Alemanha, e com a família em Hamburgo, perante a morte iminente da mulher ou de um filho, abandonava o Vaticano e apanhava o primeiro avião para o seu país natal para ir acudir à família e assistir ao funeral. As pessoas iriam perguntar-se: Mas que Deus tão importante é este que o seu representante na Terra abandona facilmente o seu lugar para ir acudir a meros seres humanos? A Igreja não resistiria.
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A Igreja ficaria ainda mais vulnerável com uma mulher a Papa. Perante a doença de um irmão, da mãe ou de outro parente chegado em Estrasburgo, a tendência seria para a Papisa apanhar o primeiro avião para Estrasburgo para ir tratar da família.

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