Eu gostaria agora de voltar aos meus dois posts anteriores para analisar como é que seria avaliado aos olhos de uma população de cultura católica, primeiro, o debate entre o intelectual catante e o intelectual protestante que repoduzi aqui; depois, os amesquinhamentos pessoais, as ofensas e os insultos que o primeiro produziu sobre o segundo relatados aqui.
Antes de o fazer, alguma revisão da matéria é devida. A cultura católica focaliza-se na ideia de verdade, e a verdade realiza-se nos factos. Assim sendo, a cultura católica é dualista, uma afirmação ou é verdadeira, se há factos que a sustentem, ou é falsa, se eles não existem. Uma afirmação não pode ser ao mesmo tempo verdadeira e falsa; não existe compromisso possível entre a verdade e a mentira.
.
Pelo contrário, a cultura protestante focaliza-se na ideia de justiça é é por aí que chega à verdade. A verdade emerge como um veredicto justo entre duas teses, que são frequentemente opostas. Quando o preço de um bem aumenta, ceteris paribus, há pessoas que compram mais desse bem e outras que compram menos. Mas qual é o comportamento dominante? É o comportamento dos que compram menos. Daí a lei da procura: "Quando o preço de um bem aumenta, ceteris paribus, a quantidade procurada desse bem diminui, e vice-versa". Esta afirmação não é verdade nem mentira - mas é mais verdade do que mentira. No final da litigação, um júri imparcial daria razão à verdade.
Ora, quando esta afirmação é posta perante um intelectual catante, que só sabe pensar em termos de verdade e de mentira, e de uma maneira que é mutuamente exclusiva; um intelectual catante que, ainda por cima, tem uma tia Marcolina que comprou ontem um novo BMW depois de os preços terem aumentado 20% - um facto provado à vista de todos porque a tia Marcolina foi à televisão confirmá-lo - que vai uma população católica dizer da afirmação do intelectual protestante? Que é mentira (falsa).
.
Se o intelectual catante passava aos olhos da população protestante como um obstinado, um teimoso, um casmurro, no limite, um estúpido, o intelectual protestante passa aos olhos da população católica como um charlatão, um mentiroso, um aldrabão.
Passo agora a analisar como uma população católica avaliaria o debate descrito aqui entre o intelectual catante e a sua contraparte - suposta ser um intelectual protestante - e os amesquinhamentos, as depreciações gratuitas, no limite, as ofensas e os insultos que o primeiro desfere sobre o segundo.
Antes de avançar, um ponto é devido. Aquilo que caracteriza uma população católica é a sua generalizada falta de julgamento e de sentido de justiça, e daqui resulta a sua parcialidade,l como demonstrei noutro post. Segue-se que, antes do debate começar, as pessoas já tomaram partido por uma das partes. Cada vez que o intelectual catante deprecia, amesquinha ou ofende o outro, metade da assembleia, senão mesmo a maioria, rejubila e, se puder, até bate palmas. Se, antes do debate começar, a maioria na assembleia era favorável ao intelectual catante, quando o debate terminar é o intelectual catante que é considerado o vencedor.
Eu gostaria apenas de acrescentar o que uma pessoa de cultura protestante que esteja a assistir a este espectáculo - porque na realidade é de um espectáculo que se trata, não mais de um debate intelectual - pensa dele e do povo que concedeu a vitória ao intelectual catante: "Que brutalidade de povo, que falta de sentido de justiça! De um lado, um intelectual, bem-educado, sério, competente a apresentar os seus argumentos em defesa da sua tese. Do outro, um brutamontes, um ignaro, sem argumentos, que só depreciou o outro e o ofendeu. E o povo dá a vitória a este batoteiro indecente!".
É por esta razão que os protestantes não gostam dos países de tradição católica, e os intelectuais protestantes não aspiram a imitar os intelectuais católicos. Por alguma razão foram os protestantes a separar-se dos católicos, e não o inverso. Se fizeram bem ou mal, é uma questão acerca da qual ainda não estou certo.
Sem comentários:
Enviar um comentário