04 março 2009

Québec


Não é possível o diálogo entre duas culturas diferentes. A prazo, é o conflito certo. E assim aconteceu ao longo da história entre a cultura católica e a protestante. A forma como as duas culturas se acomodaram uma à outra para evitar o conflito, varia de país para país, conforme ele seja predominantemente católico ou protestante.

Os países de tradição católica (v.g., Portugal, Espanha, Itália), com a sua intolerância radical no espaço público, nunca permitiram que outras culturas emergissem nesse espaço por forma a fazer concorrência à cultura católica dominante. Daí que estes países sejam constituídos por populações homogéneas que, ou integraram as culturas estranhas, ou, quando estas não se deixaram integrar, as expulsaram - como aconteceu com os judeus e os muçulmanos.

Diferente é a solução oferecida pela cultura protestante. Devido à sua tolerância no espaço público, esta cultura aceita conviver com outras, desde que estas últimas vivam de forma separada ou segregada. A Irlanda, no caso do Reino Unido, a Baviera, no caso da Alemanha, o Apartheid na África do Sul, o Québec no Canadá, o mosaico de culturas em que consiste a América, constituem evidência desta tese.

Questão diferente é a de saber qual é a origem do conflito entre estas duas culturas, porque é que, se vivessem misturadas, elas entrariam inevitavelmente em conflito, como muitas vezes sucedeu ao longo da história, e nada garante que não volte a suceder no futuro. A resposta tem a ver com a ideia que está na base de cada uma delas - a verdade, no caso da cultura católica, a justiça, no caso da cultura protestante, e do facto de a verdade e a justiça nem sempre serem coincidentes. Os protestantes acusam os católicos de serem injustos e não possuirem julgamento, de serem intolerantes e crueis, e de serem irresponsáveis. De volta, os católicos acusam os protestantes de não serem verdadeiros ou de serem hipócritas, de serem ignorantes e fúteis, e de serem excessivamente estritos. Por vezes, dependendo das circunstâncias históricas, os ânimos aquecem. Pode acontecer brevemente na União Europeia, os primeiros sinais estão já aí.

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