Inicio aqui este tema e o meu propósito neste post é o de reconstruir por argumento abstracto, racional e lógico como terá surgido o mercado. A minha tese é que surgiu como uma solução para resolver conflitos (entre produtores e compradores).
Começo por reiterar algumas teses que deixei dispersas ao longo de muitos posts e que funcionam aqui como hipóteses ou premissas da tese que pretendo provar. Por isso, tomo-as como assentes e não tenciono discuti-las de novo.
A Grã-Bretanha tem sido por vezes considerada o mais protestante dos países protestantes. O traço dominante das sociedades protestantes é o protesto contra a autoridade e o conflito (de religiões, de ideias, de interesses, etc. - em geral, de claims). Ao separar-se de Roma e da tradição católica, a qual está assente no conformismo, a Grã-Bretanha, para sobreviver e prosperar, teve de desenvolver novas instituições capazes de lidar com o conflito e de o resolver. A teoria da separação de poderes de Montesquieu é uma delas e foi desenvolvida pelo autor a pensar na Grã-Bretanha. O Constitucionalismo, o Estado de Direito, a Democracia, a Liberdade de Expressão são outras. A minha tese é que o mercado também é.
Não é sequer surpreendente que o mercado tenha sido teorizado pela primeira vez em grande escala por um autor britânico e, curiosamente, na região mais protestante (presbiteriana) da Grã-Bretanha - a Escócia. O livro de Adam Smith, "Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações" (1776), com a sua teorização do mercado (a mão invisível) marca o nascimento de uma nova ciência social - a Economia.
A organização económica genuína da tradição católica é o corporativismo. Os produtores de um certo bem (B) estão organizados numa corporação. A corporação fixa várias regras no que respeita à organização da produção e também fixa o preço do produto. Não é difícil imaginar, no ambiente de uma pequena cidade medieval, onde todos se conhecem, o conflito a que a fixação do preço pelos produtores vai conduzir.
Quando os produtores de um bem estão organizados e fixam o preço do produto, eles tendem a fixá-lo muito alto. Ao fazê-lo, eles dão um poderoso incentivo aos compradores para se organizarem também. E não é difícil imaginar este conflito a acabar na praça pública, onde 150 vendedores do bem B, pertencentes à corporação, se defrontam com 230 compradores que protestam contra o preço elevado do bem, e o regateiam. (A tendência da cultura católica para regatear já foi notada aqui). Como resolver o problema? A discussão entre 380 pessoas não vai conduzir a lado nenhum. Nomear comissões de um lado e doutro também não, sobretudo ao fim de vários dias de discussão e quando os ânimos já estão exaltados.
Alguém emerge da multidão e decide propôr uma solução. A solução consiste no seguinte: cada produtor passa a ser livre de vender o produto ao preço que quer, e cada comprador também é livre de o comprar ao preço que aceitar. A corporação dos produtores está destruída a partir deste momento, e a dos compradores - caso eles se tivessem entretanto organizado - também.
O produto B pode inicialmente ter diferentes preços em diferentes transacções. Mas supondo as hipóteses habituais (homogeneidade do produto, informação perfeita, etc), a prazo vigorará um preço único - o preço do mercado. Este preço é aceite por todos - vendedores e compradores - como justo, porque não foi fixado por ninguém. O mercado acaba de surgir como um mecanismo para resolver conflitos entre vendedores e produtores.
Eu não consigo imaginar o mercado a nascer para resolver um problema de afectação de recursos (quem colocaria esse problema?), nem um problema de escassez de informação (a informação escasseava a quem?). Estas são racionalizações a posteriori dos economistas, focalizadas em algumas propriedades que o mercado também possui. O mercado nasceu para resolver um conflito entre produtores e compradores e foi aceite porque a solução que ele dava a esse problema - o preço do mercado - foi considerada por todos como uma solução justa.
Começo por reiterar algumas teses que deixei dispersas ao longo de muitos posts e que funcionam aqui como hipóteses ou premissas da tese que pretendo provar. Por isso, tomo-as como assentes e não tenciono discuti-las de novo.
A Grã-Bretanha tem sido por vezes considerada o mais protestante dos países protestantes. O traço dominante das sociedades protestantes é o protesto contra a autoridade e o conflito (de religiões, de ideias, de interesses, etc. - em geral, de claims). Ao separar-se de Roma e da tradição católica, a qual está assente no conformismo, a Grã-Bretanha, para sobreviver e prosperar, teve de desenvolver novas instituições capazes de lidar com o conflito e de o resolver. A teoria da separação de poderes de Montesquieu é uma delas e foi desenvolvida pelo autor a pensar na Grã-Bretanha. O Constitucionalismo, o Estado de Direito, a Democracia, a Liberdade de Expressão são outras. A minha tese é que o mercado também é.
Não é sequer surpreendente que o mercado tenha sido teorizado pela primeira vez em grande escala por um autor britânico e, curiosamente, na região mais protestante (presbiteriana) da Grã-Bretanha - a Escócia. O livro de Adam Smith, "Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações" (1776), com a sua teorização do mercado (a mão invisível) marca o nascimento de uma nova ciência social - a Economia.
A organização económica genuína da tradição católica é o corporativismo. Os produtores de um certo bem (B) estão organizados numa corporação. A corporação fixa várias regras no que respeita à organização da produção e também fixa o preço do produto. Não é difícil imaginar, no ambiente de uma pequena cidade medieval, onde todos se conhecem, o conflito a que a fixação do preço pelos produtores vai conduzir.
Quando os produtores de um bem estão organizados e fixam o preço do produto, eles tendem a fixá-lo muito alto. Ao fazê-lo, eles dão um poderoso incentivo aos compradores para se organizarem também. E não é difícil imaginar este conflito a acabar na praça pública, onde 150 vendedores do bem B, pertencentes à corporação, se defrontam com 230 compradores que protestam contra o preço elevado do bem, e o regateiam. (A tendência da cultura católica para regatear já foi notada aqui). Como resolver o problema? A discussão entre 380 pessoas não vai conduzir a lado nenhum. Nomear comissões de um lado e doutro também não, sobretudo ao fim de vários dias de discussão e quando os ânimos já estão exaltados.
Alguém emerge da multidão e decide propôr uma solução. A solução consiste no seguinte: cada produtor passa a ser livre de vender o produto ao preço que quer, e cada comprador também é livre de o comprar ao preço que aceitar. A corporação dos produtores está destruída a partir deste momento, e a dos compradores - caso eles se tivessem entretanto organizado - também.
O produto B pode inicialmente ter diferentes preços em diferentes transacções. Mas supondo as hipóteses habituais (homogeneidade do produto, informação perfeita, etc), a prazo vigorará um preço único - o preço do mercado. Este preço é aceite por todos - vendedores e compradores - como justo, porque não foi fixado por ninguém. O mercado acaba de surgir como um mecanismo para resolver conflitos entre vendedores e produtores.
Eu não consigo imaginar o mercado a nascer para resolver um problema de afectação de recursos (quem colocaria esse problema?), nem um problema de escassez de informação (a informação escasseava a quem?). Estas são racionalizações a posteriori dos economistas, focalizadas em algumas propriedades que o mercado também possui. O mercado nasceu para resolver um conflito entre produtores e compradores e foi aceite porque a solução que ele dava a esse problema - o preço do mercado - foi considerada por todos como uma solução justa.
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