09 fevereiro 2009

a culpa

A direita portuguesa não é, decididamente, liberal. Sobre o fenómeno podem encontrar-se duas explicações: a culpa é da direita, ultramontana e conservadora, incapaz de perceber a bondade e os méritos evidentes do liberalismo; a culpa é dos liberais, que nunca conseguiram explicar ao que vinham e que frequentemente vieram por maus caminhos. Por mim, considero a primeira hipótese muito superficial e a segunda mais adequada.

Sumariamente, diria que o liberalismo teve, em Portugal, dois momentos em que poderia ter convertido a direita à sua razão: após 1834 e depois de 1910. Falhou nos dois. Em qualquer um dos casos, se bem que no segundo não se possa dizer que existisse um “partido” liberal português, o liberalismo escolhido foi o pior: francófono, anti-clerical, frequentemente ateu, racionalista, voluntarista e desrespeitador da tradição portuguesa. Nessa medida, nunca os liberais portugueses foram portadores de uma visão conservadora/evolucionista da sociedade, que respeitasse as suas tradições ancestrais e as impusesse como limite à acção de um estado centralizador emergente. Ao invés, pretenderam construir uma “sociedade nova”, a partir do estado e à revelia do que era genuinamente português. Por isso falharam, e afastaram-se do seu espaço político natural - a direita - a quem empurraram para os braços mais inteligentes da esquerda social-democrata.

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