A verdadeira ironia não utiliza apenas a técnica de Swift mencionada aqui por Pessoa. Utiliza frequentemente uma outra técnica. Ambas exigem a capacidade de detachment a que se refere Pessoa, porque ambas são expressões de uma elevada capacidade para o pensamento abstracto, que é uma propriedade da cultura anglo-saxónica, mas não da portuguesa.
Admitamos que alguém pretende depreciar uma pessoa. Na ironia portuguesa, à la Eça, à la VPV ou à la Dragão, o autor pega num ou vários traços dessa pessoa, junta-lhe adjectivos até a ridicularizar, e depois chama-lhe nomes para a humilhar. Na ironia britânica tudo é diferente. Na técnica que agora pretendo descrever, o autor considera primeiro um grupo, do qual essa pessoa faz parte.
Em seguida, teoriza sobre o grupo, destacando as características principais ou dominantes que são comuns aos membros do grupo, e abstraindo tudo o mais - os detalhes, os pormenores, ou qualquer membro du grupo em particular. Ele chega assim a um retrato do membro típico do grupo. Em seguida elabora, sempre com a máxima generalidade, sobre as qualidades e os defeitos do membro típico do grupo, demorando-se mais, e carregando mais, sobre os defeitos do que sobre as qualidades.
Com o decorrer do tempo, a pessoa que é visada vai-se ver retratada ali, na figura do membro típico do grupo, e é ela propria que vai concluir acerca dos defeitos que o autor lhe atribui. Este é o ponto importante e onde está a arte. É ela própria que os vai deduzir, sem que o autor em algum momento tenha tido necessidade de lhos dizer directa e explicitamente.
Admitamos que alguém pretende depreciar uma pessoa. Na ironia portuguesa, à la Eça, à la VPV ou à la Dragão, o autor pega num ou vários traços dessa pessoa, junta-lhe adjectivos até a ridicularizar, e depois chama-lhe nomes para a humilhar. Na ironia britânica tudo é diferente. Na técnica que agora pretendo descrever, o autor considera primeiro um grupo, do qual essa pessoa faz parte.
Em seguida, teoriza sobre o grupo, destacando as características principais ou dominantes que são comuns aos membros do grupo, e abstraindo tudo o mais - os detalhes, os pormenores, ou qualquer membro du grupo em particular. Ele chega assim a um retrato do membro típico do grupo. Em seguida elabora, sempre com a máxima generalidade, sobre as qualidades e os defeitos do membro típico do grupo, demorando-se mais, e carregando mais, sobre os defeitos do que sobre as qualidades.
Com o decorrer do tempo, a pessoa que é visada vai-se ver retratada ali, na figura do membro típico do grupo, e é ela propria que vai concluir acerca dos defeitos que o autor lhe atribui. Este é o ponto importante e onde está a arte. É ela própria que os vai deduzir, sem que o autor em algum momento tenha tido necessidade de lhos dizer directa e explicitamente.
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