No seguimentos destes posts (aqui e aqui) gerou-se uma discussão acerca da produtividade dos trabalhadores portugueses em relação aos alemães. Um dos comentadores argumentou que, quando trabalham na Alemanha, os portugueses são tão produtivos ou mais que os alemães. Por isso, também podem sê-lo em Portugal.
Este é um erro fatal e um erro típico do pensamento abstracto, o qual, simplificando a realidade, ignora, por vezes, detalhes que são, de facto, decisivos. O detalhe ignorado aqui é o meio cultural envolvente.
A cultura exprime-se através de instintos e hábitos e escapa ao escrutínio da razão. Por isso, a cultura está sempre pronta a passar rasteiras à razão, quando esta menos espera. Existem centenas, senão milhares, de factores culturais de que nós não nos damos conta e que tornam impossível que os portugueses (em Portugal) igualem a produtividade dos alemães (ou dos portugueses na Alemanha). Demonstrarei com uma situação figurada - a do operário português Quim Silva a trabalhar alternativamente numa fábrica da Alemanha e numa de Portugal.
Numa linha de fabrico, os atrasos à chegada ao trabalho, nem que sejam de um só operário, paralisam toda a cadeia de produção. Constituem, por isso, uma falta grave que acarreta elevados prejuízos para a fábrica. O Quim Silva chega atrasado ao trabalho na Alemanha. O diálogo com o seu chefe Schmidt será assim:
Schmidt: Quim, porque é que chegaste atrasado?
Quim: Desculpe ... sr. Schmidt ... desculpe lá ... foi o trânsito.
Schmidt: Tu sabes que há trânsito todos os dias... portanto, passas a levantar-te mais cedo.
Quim: Sim, senhor ... sr. Schmidt.
E o Quim passa a levantar-se mais cedo ou, na próxima, será despedido na hora, sem apelo nem agravo.
Consideremos agora a mesma situação, mas em Portugal, entre o Quim e o seu chefe, o Sr. Sousa. (Admito, por hipótese que o próprio Sr. Sousa não se atrasa a chegar ao trabalho).
O diálogo começa por ser idêntico ao anterior, só que o Quim continua, volta não volta, a chegar atrasado ao emprego. Um dia o chefe decide despedi-lo.
O Quim recorre ao Tribunal de Trabalho, onde uma juíza lhe dá razão, considerando que chegar ao trabalho atrasado por causa do transito não é uma falta grave. O advogado do Quim até levou filmes para o tribunal com extensas filas de trânsito no trajecto que ele habitualmente percorre. A fábrica é obrigada a reintegrar o Quim e a pagar-lhe uma indemnização.
E, na realidade, como pode ser uma falta grave chegar atrasado ao trabalho por causa do trânsito, se a própria juíza, marca os julgamentos para as dez, e chega sempre atrasada por volta das onze por causa do trânsito?
Este é um erro fatal e um erro típico do pensamento abstracto, o qual, simplificando a realidade, ignora, por vezes, detalhes que são, de facto, decisivos. O detalhe ignorado aqui é o meio cultural envolvente.
A cultura exprime-se através de instintos e hábitos e escapa ao escrutínio da razão. Por isso, a cultura está sempre pronta a passar rasteiras à razão, quando esta menos espera. Existem centenas, senão milhares, de factores culturais de que nós não nos damos conta e que tornam impossível que os portugueses (em Portugal) igualem a produtividade dos alemães (ou dos portugueses na Alemanha). Demonstrarei com uma situação figurada - a do operário português Quim Silva a trabalhar alternativamente numa fábrica da Alemanha e numa de Portugal.
Numa linha de fabrico, os atrasos à chegada ao trabalho, nem que sejam de um só operário, paralisam toda a cadeia de produção. Constituem, por isso, uma falta grave que acarreta elevados prejuízos para a fábrica. O Quim Silva chega atrasado ao trabalho na Alemanha. O diálogo com o seu chefe Schmidt será assim:
Schmidt: Quim, porque é que chegaste atrasado?
Quim: Desculpe ... sr. Schmidt ... desculpe lá ... foi o trânsito.
Schmidt: Tu sabes que há trânsito todos os dias... portanto, passas a levantar-te mais cedo.
Quim: Sim, senhor ... sr. Schmidt.
E o Quim passa a levantar-se mais cedo ou, na próxima, será despedido na hora, sem apelo nem agravo.
Consideremos agora a mesma situação, mas em Portugal, entre o Quim e o seu chefe, o Sr. Sousa. (Admito, por hipótese que o próprio Sr. Sousa não se atrasa a chegar ao trabalho).
O diálogo começa por ser idêntico ao anterior, só que o Quim continua, volta não volta, a chegar atrasado ao emprego. Um dia o chefe decide despedi-lo.
O Quim recorre ao Tribunal de Trabalho, onde uma juíza lhe dá razão, considerando que chegar ao trabalho atrasado por causa do transito não é uma falta grave. O advogado do Quim até levou filmes para o tribunal com extensas filas de trânsito no trajecto que ele habitualmente percorre. A fábrica é obrigada a reintegrar o Quim e a pagar-lhe uma indemnização.
E, na realidade, como pode ser uma falta grave chegar atrasado ao trabalho por causa do trânsito, se a própria juíza, marca os julgamentos para as dez, e chega sempre atrasada por volta das onze por causa do trânsito?
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