Admitamos que os chineses vêm para Portugal, em número igual aos portugueses - dez milhões. E que substituem os portugueses em todas as actividades que estes desempenham, por metade do salário. Todos os portugueses perdem o emprego. Os bens e serviços passam agora a custar metade. Este é o exemplo rematado dos benefícios do comércio livre - os portugueses dispõem agora de todos os bens e serviços a metade do preço.
Mas para que lhes serve se, estando todos desempregados, nenhum deles tem dinheiro para os comprar?
Mas para que lhes serve se, estando todos desempregados, nenhum deles tem dinheiro para os comprar?
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O Princípio da Vantagem Comparativa, formulado pelo economista inglês David Ricardo, ainda hoje constitui o argumento principal para a defesa da liberdade comercial entre as nações. Na essência, o Princípio diz que as populações de dois países beneficiam ambas se cada um deles se especializar na produção do bem em que é relativamente mais eficiente, e ambos estabelecerem entre si um regime de trocas livres.
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Na sua operatividade, o Princípio da Vantagem Comparativa implica desemprego em cada um dos países, naqueles sectores em que cada um deles é comparativamente ineficiente. Para que o ditame do Princípio se cumpra - as vantagens para ambos os países resultantes da especialização e da troca livre - é necessário que algumas hipóteses de base que estão implícitas no Princípio se cumpram - a saber, que os trabalhadores desempregados em cada país possuam mobilidade para trabalharem noutro sector ou até mudarem de cidade, e que existam oportunidades de emprego em algum outro sector.
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Numa situação de crise económica - como aquela que atravessamos - não há oportunidades de emprego praticamente em nenhum sector. E quanto à mobilidade dos trabalhadores - profissional, geográfica ou ambas - existem países onde, por virtude da sua cultura, ela é mínima (vg., Portugal vs. Inglaterra ou EUA). Não se cumprindo estas condições de base, o Princípio da Vantagem Comparativa perde efeito.
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Na realidade, a melhor maneira para segurar o nível de vida da população num período de crise económica é o proteccionismo - e tanto mais quanto menos mobilidade existir na sua força de trabalho.
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