Na caixa de comentários deste post, gerou-se uma discussão, não já acerca da produtividade entre Portugal e a Alemanha, mas acerca da capacidade de um e outro país para promoverem os seus próprios produtos. A tese explicativa centrou-se na dimensão do mercado nacional. Foi dado o exemplo do calçado Mariano.
A dimensão do mercado nacional é certamente um factor - e um factor importante - de alavancagem da promoção de um produto. Porém, na minha opinião, não é, nem de longe, o principal. O principal é de natureza cultural e, por isso mesmo, escapa frequentemente ao escrutínio da razão.
Mesmo que a Alemanha tivesse a dimensão de Portugal e o mesmo nível de vida, o calçado Mariano já seria provavelmente a esta hora conhecido e exportado para todo o mundo. E se fosse nos EUA, então, já teria recebido vários óscares, o fundador da empresa seria um herói nacional e apareceria em todos os talk shows se ainda fosse vivo, os seus descendentes fariam parte da lista dos homens mais ricos do mundo, a própria empresa seria hoje uma multinacional, com fábricas em todos os países do mundo. Pois se os americanos até conseguiram universalizar uma sande de carne com queijo e uma bebida que sabe a remédio, mais facilmente conseguiriam fazê-lo em relação ao calçado Mariano.
Em Portugal é diferente. Aquilo que impede a promoção do calçado Mariano são os portugueses e a própria cultura portuguesa, com a sua inveja, a sua má-língua, o seu desdém por tudo aquilo que seja feito por um outro português, que não eu. Aí é que está o problema, mas os portugueses não vão ser capazes de admitir - e, se fossem, não gostariam de admitir - que são invejosos, que se comprazem na má-língua e que desdenham de tudo aquilo que é original e feito por outro português - e até são capazes de o caluniar ("Como é que ele enriqueceu a produzir aqueles chanatos? Ali há negócio escuro..."). E não são capazes de admitir porque estas são atitudes profundamente enraizadas na sua cultura, e de que eles próprios não se apercebem ("Quem, eu, invejoso? Má-língua? Não me ofenda, pá. Você está aqui está a ser corrido a pontapé... ").
Gostaria, a este propósito, de admitir que, embora talvez não pareça, tenho uma filha a estudar em Londres, desde Setembro. Sempre que falo com ela, pergunto-lhe as suas impressões, e as diferenças que ela nota em relação a Portugal. Uma das que ela primeiro salientou foi a seguinte: "Aqui as pessoas são simpáticas. Quando fazemos uma coisa bem, cumprimentam-nos e dão-nos os parabéns. Em Portugal, não".
E o caso não é para menos quanto ao poder desta cultura para seduzir uma jovem de 18 anos e a promover. Apenas dois episódios. O primeiro ocorreu quando ela se deslocou a uma discoteca com colegas da universidade. Havia karaoke nesse dia. Ela cantou. No final foi rodeada por várias pessoas a darem-lhe os parabéns. Uma delas convidou-a para participar num concurso destinado a jovens talentos. Ela aceitou. Ficou em segundo lugar, o que me leva a recear que, daqui por uns anos, em lugar de uma licenciada em ciências, me entre pela casa dentro uma pop star.
O segundo ocorreu quando ela andava às compras com a mãe - que então a visitava -, no centro de Londres. Uma pessoa de máquina fotográfica na mão dirigiu-se respeitosamente a ambas e pediu se a podia fotografar. Identificou-se como sendo de uma agência de modelos, entregou um cartão e pediu autorização para entrar em contacto posteriormente. A minha preocupação agora é que, em lugar de uma licenciada em ciências, me venha um dia a entrar pela casa dentro a Miss Universo.
É esta a diferença.
A dimensão do mercado nacional é certamente um factor - e um factor importante - de alavancagem da promoção de um produto. Porém, na minha opinião, não é, nem de longe, o principal. O principal é de natureza cultural e, por isso mesmo, escapa frequentemente ao escrutínio da razão.
Mesmo que a Alemanha tivesse a dimensão de Portugal e o mesmo nível de vida, o calçado Mariano já seria provavelmente a esta hora conhecido e exportado para todo o mundo. E se fosse nos EUA, então, já teria recebido vários óscares, o fundador da empresa seria um herói nacional e apareceria em todos os talk shows se ainda fosse vivo, os seus descendentes fariam parte da lista dos homens mais ricos do mundo, a própria empresa seria hoje uma multinacional, com fábricas em todos os países do mundo. Pois se os americanos até conseguiram universalizar uma sande de carne com queijo e uma bebida que sabe a remédio, mais facilmente conseguiriam fazê-lo em relação ao calçado Mariano.
Em Portugal é diferente. Aquilo que impede a promoção do calçado Mariano são os portugueses e a própria cultura portuguesa, com a sua inveja, a sua má-língua, o seu desdém por tudo aquilo que seja feito por um outro português, que não eu. Aí é que está o problema, mas os portugueses não vão ser capazes de admitir - e, se fossem, não gostariam de admitir - que são invejosos, que se comprazem na má-língua e que desdenham de tudo aquilo que é original e feito por outro português - e até são capazes de o caluniar ("Como é que ele enriqueceu a produzir aqueles chanatos? Ali há negócio escuro..."). E não são capazes de admitir porque estas são atitudes profundamente enraizadas na sua cultura, e de que eles próprios não se apercebem ("Quem, eu, invejoso? Má-língua? Não me ofenda, pá. Você está aqui está a ser corrido a pontapé... ").
Gostaria, a este propósito, de admitir que, embora talvez não pareça, tenho uma filha a estudar em Londres, desde Setembro. Sempre que falo com ela, pergunto-lhe as suas impressões, e as diferenças que ela nota em relação a Portugal. Uma das que ela primeiro salientou foi a seguinte: "Aqui as pessoas são simpáticas. Quando fazemos uma coisa bem, cumprimentam-nos e dão-nos os parabéns. Em Portugal, não".
E o caso não é para menos quanto ao poder desta cultura para seduzir uma jovem de 18 anos e a promover. Apenas dois episódios. O primeiro ocorreu quando ela se deslocou a uma discoteca com colegas da universidade. Havia karaoke nesse dia. Ela cantou. No final foi rodeada por várias pessoas a darem-lhe os parabéns. Uma delas convidou-a para participar num concurso destinado a jovens talentos. Ela aceitou. Ficou em segundo lugar, o que me leva a recear que, daqui por uns anos, em lugar de uma licenciada em ciências, me entre pela casa dentro uma pop star.
O segundo ocorreu quando ela andava às compras com a mãe - que então a visitava -, no centro de Londres. Uma pessoa de máquina fotográfica na mão dirigiu-se respeitosamente a ambas e pediu se a podia fotografar. Identificou-se como sendo de uma agência de modelos, entregou um cartão e pediu autorização para entrar em contacto posteriormente. A minha preocupação agora é que, em lugar de uma licenciada em ciências, me venha um dia a entrar pela casa dentro a Miss Universo.
É esta a diferença.
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