O americano que vai viver para outra comunidade no seu país, onde arranjou emprego e comprou casa, a primeira coisa que faz é olhar para o que os seus vizinhos fazem. Se eles põem a bandeira à janela, ele também põe; se eles colocam o saco do lixo do lado direito da porta, ele também coloca.
No novo emprego, ele olha para a forma como os outros se comportam e comporta-se da mesma maneira. Todos vestem fato e gravata no emprego e ele também veste fato e gravata. Os colegas no trabalho tratam-se de forma distante e fria, very professional, e é assim que ele faz também. Todos seguem certos procedimentos no trabalho, e ele faz igual.
Às sextas-feiras, os colegas costumam reunir-se para a weekly party, e ele também vai. Todos se embebedam e ele embebeda-se também. As mulheres encavalitam-se nos homens, beijam-se na boca, saem todos abraçados para a rua a cantar, e ele assim faz também - e nada disto parece mal, porque todos se comportam de forma igual.
Quando lhe faltam os outros para lhe dizer como se deve comportar, o americano fica desorientado. Quem já recebeu americanos em Portugal, ou pessoas de qualquer outro país protestante, sabe que assim é. Fora do seu meio, longe das suas referências, eles ficam embaraçados em privado. Começa logo à mesa: três copos, três pares de facas e colheres, mais uma faca, uma colher e um garfo no topo do prato. É o embaraço total. Porém, ele nunca toma a iniciativa, com medo de parecer mal. Olha discretamente para um e para o outro lado da mesa para ver como os outros fazem, e depois faz rigorosamente igual.
Os americanos detestam parecer mal em privado, exactamente no mesmo plano em que os portugueses detestam parecer mal em público, e são muito susceptíveis a tudo aquilo e a todos aqueles que os possam fazer parecer mal em privado, como os portugueses são em relação a tudo o que os possa fazer parecer mal em público. Tomam isso como uma ofensa. É no espaço privado, sobretudo em ambiente estranho, onde eles mais correm o risco de não serem iguais aos outros, que eles se sentem mais embaraçados e tímidos e, por isso, mais susceptíveis.
Pelo contrário, os portugueses ficam embaraçados é se têm de agir em público em ambiente estranho, por exemplo, falar em público na América. Habituados ao seu meio em que o orador começa por cumprimentar o Excelentíssimo Senhor Presidente da Mesa, Distintíssimo Professor Doutor João Maria de Salema de Castro e Silva, bem como o Senhor Secretário da Mesa, Ilustríssimo Comendador, Capitão-de-Mar-e-Guerra, José Luís Saavedra de Vasconcelos Campos e Matos, sem esquecer o Meu Queridíssimo Amigo e Convidado de Honra, o Magnânimo Reitor da Universidade da Beira Interior, Professor Doutor Engenheiro Raúl de Queiroz e Mello, para em seguida produzir um discurso cheio de palavras bonitas e ôcas, o português fica embaraçado no meio americano. Aí não há nem Presidentes, nem Reitores Magnânimos, nem Capitães de Mar-e-Guerra. Há pessoas, que ainda por cima não são suas Queridíssimas Amigas, as quais esperam dele uma alocução curta e substancial, caso contrário vão-se todas embora da sala.
O americano precisa da referência dos outros para saber como se comportar em privado, e fazer igual aos outros. Pode perguntar-se, então, como é que ele actua nas relações privadas - por exemplo, as sexuais - em que não possui a referência dos outros para saber como se faz. Aí ele é extremamente desajeitado e falho de imaginação. Em última instância, ele paga a alguém para lhe ensinar como fazer. (Veja aqui: a imagem é inglesa, mas na América não é diferente).
Aquilo que torna os americanos imensamente iguais na esfera das suas relações e comportamentos privados, como salientei em post anterior a propósito das sociedades P, é a base doutrinal comum em que assenta a sociedade americana e que lhe confere a unidade - a religiosidade cristã. É a partir desta base comum em que eles se sentem todos iguais e unidos, que cada um pode então escolher o seu próprio caminho para chegar a Cristo, juntando-se a outros - as seitas do protestantismo - ou fazendo-o sozinho. E é assim que, na esfera pública, a sociedade americana aparece aos olhos do observador tão variada e com tantos matizes diferentes.
No novo emprego, ele olha para a forma como os outros se comportam e comporta-se da mesma maneira. Todos vestem fato e gravata no emprego e ele também veste fato e gravata. Os colegas no trabalho tratam-se de forma distante e fria, very professional, e é assim que ele faz também. Todos seguem certos procedimentos no trabalho, e ele faz igual.
Às sextas-feiras, os colegas costumam reunir-se para a weekly party, e ele também vai. Todos se embebedam e ele embebeda-se também. As mulheres encavalitam-se nos homens, beijam-se na boca, saem todos abraçados para a rua a cantar, e ele assim faz também - e nada disto parece mal, porque todos se comportam de forma igual.
Quando lhe faltam os outros para lhe dizer como se deve comportar, o americano fica desorientado. Quem já recebeu americanos em Portugal, ou pessoas de qualquer outro país protestante, sabe que assim é. Fora do seu meio, longe das suas referências, eles ficam embaraçados em privado. Começa logo à mesa: três copos, três pares de facas e colheres, mais uma faca, uma colher e um garfo no topo do prato. É o embaraço total. Porém, ele nunca toma a iniciativa, com medo de parecer mal. Olha discretamente para um e para o outro lado da mesa para ver como os outros fazem, e depois faz rigorosamente igual.
Os americanos detestam parecer mal em privado, exactamente no mesmo plano em que os portugueses detestam parecer mal em público, e são muito susceptíveis a tudo aquilo e a todos aqueles que os possam fazer parecer mal em privado, como os portugueses são em relação a tudo o que os possa fazer parecer mal em público. Tomam isso como uma ofensa. É no espaço privado, sobretudo em ambiente estranho, onde eles mais correm o risco de não serem iguais aos outros, que eles se sentem mais embaraçados e tímidos e, por isso, mais susceptíveis.
Pelo contrário, os portugueses ficam embaraçados é se têm de agir em público em ambiente estranho, por exemplo, falar em público na América. Habituados ao seu meio em que o orador começa por cumprimentar o Excelentíssimo Senhor Presidente da Mesa, Distintíssimo Professor Doutor João Maria de Salema de Castro e Silva, bem como o Senhor Secretário da Mesa, Ilustríssimo Comendador, Capitão-de-Mar-e-Guerra, José Luís Saavedra de Vasconcelos Campos e Matos, sem esquecer o Meu Queridíssimo Amigo e Convidado de Honra, o Magnânimo Reitor da Universidade da Beira Interior, Professor Doutor Engenheiro Raúl de Queiroz e Mello, para em seguida produzir um discurso cheio de palavras bonitas e ôcas, o português fica embaraçado no meio americano. Aí não há nem Presidentes, nem Reitores Magnânimos, nem Capitães de Mar-e-Guerra. Há pessoas, que ainda por cima não são suas Queridíssimas Amigas, as quais esperam dele uma alocução curta e substancial, caso contrário vão-se todas embora da sala.
O americano precisa da referência dos outros para saber como se comportar em privado, e fazer igual aos outros. Pode perguntar-se, então, como é que ele actua nas relações privadas - por exemplo, as sexuais - em que não possui a referência dos outros para saber como se faz. Aí ele é extremamente desajeitado e falho de imaginação. Em última instância, ele paga a alguém para lhe ensinar como fazer. (Veja aqui: a imagem é inglesa, mas na América não é diferente).
Aquilo que torna os americanos imensamente iguais na esfera das suas relações e comportamentos privados, como salientei em post anterior a propósito das sociedades P, é a base doutrinal comum em que assenta a sociedade americana e que lhe confere a unidade - a religiosidade cristã. É a partir desta base comum em que eles se sentem todos iguais e unidos, que cada um pode então escolher o seu próprio caminho para chegar a Cristo, juntando-se a outros - as seitas do protestantismo - ou fazendo-o sozinho. E é assim que, na esfera pública, a sociedade americana aparece aos olhos do observador tão variada e com tantos matizes diferentes.
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