Cada dia que passa, parece caír uma nova bomba económica sobre o mundo e as bombas estão agora a caír em força sobre a Europa. Esta semana o Japão reportou que o seu PIB caiu 12.3% no último ano. A Ucrânia fez o mesmo: -12.1% no último ano, desencadeando algum pânico na zona euro devido à exposição de bancos desta zona (especialmente, austríacos, italianos e gregos) ao país. Pior para a Europa é que se prevê uma queda no PIB da Alemanha superior a 8% no trimestre corrente, pondo em risco a capacidade da Alemanha para salvar a economia europeia. Estas são quedas extraordinárias. Para avaliar a gravidade da situação bastará talvez dizer que a última vez que Portugal caiu 12% ou mais foi em 1921 (-14.4%).
E para Portugal, o que se espera? Não existem previsões oficiais, mas a minha própria estimativa é que Portugal cairá 5% neste trimestre. Menos que a Alemanha? Sim, e por uma boa razão. As sociedades de cultura católica como Portugal - ao contrário daquilo que, por vezes, parece em público-, com o seu liberalismo de base, são sociedades sólidas como uma rocha, quase indestrutíveis - à semelhança, aliás, da Igreja Católica que lhes deu origem e que já vai no terceiro milénio -, muito mais resistentes do que as sociedades de cultura protestante.
A história de Portugal dos últimos 200 anos (o mesmo é válido para Espanha), nos períodos de crise económica ou política, que foram muitos, mostrou frequentemente, na sua aparência pública, um aspecto que era desolador - desordens, golpes de Estado, caos social, como durante a I República. Saiu sempre delas e, em geral, rapidamente. Como economista, e tendo vivido a enorme agitação posterior à Revolução do 25 de Abril de 1974, ainda hoje fico impressionado contemplando a performance económica do país nessa altura. Só teve um ano de crescimento negativo (1975: -5.1% ), que recuperou logo a seguir, e depois continuou a crescer como se nada tivesse acontecido (cf. aqui).
A esfera pública é o pior de Portugal e de todas as sociedades de cultura católica. Por isso, quando as instituições públicas se estão a desfazer, os portugueses cerram fileiras em torno das instituições onde são quase inexcedíveis - as instituições da esfera privada, como a família, o grupo de amigos, a freguesia ou a vizinhança, a pequena empresa, e aí são imbatíveis, porque é aí que eles podem dar largas ao seu liberalismo de base - algo que a sua cultura lhes veda na esfera pública -, inventando, dando as mãos, deitando abaixo e refazendo num instante, remendando, improvisando, desenrascando, em suma, sendo autênticos.
Diferente é uma sociedade de cultura protestante, que exibe o seu melhor na esfera pública e é muito frágil na esfera privada (cf. aqui). Quando as instituições da esfera pública cedem e as pessoas precisam resguardar-se nas instituições da esfera privada para sobreviver, elas ficam a olhar umas para as outras sem saberem o que fazer. Estas são sociedades que se desmoronam com alguma facilidade em relação às sociedades católicas, como o triângulo invertido (P - o da direita) sugere aqui em comparação com o triângulo assente na base sólida (C - o da esquerda).
Na presente crise económica há uma sociedade que já se desmoronou e outras se seguirão. Foi a Islândia, naturalmente uma sociedade de cultura protestante. A Islândia era considerado o país mais desenvolvido do mundo. Está agora de volta à pesca.
E para Portugal, o que se espera? Não existem previsões oficiais, mas a minha própria estimativa é que Portugal cairá 5% neste trimestre. Menos que a Alemanha? Sim, e por uma boa razão. As sociedades de cultura católica como Portugal - ao contrário daquilo que, por vezes, parece em público-, com o seu liberalismo de base, são sociedades sólidas como uma rocha, quase indestrutíveis - à semelhança, aliás, da Igreja Católica que lhes deu origem e que já vai no terceiro milénio -, muito mais resistentes do que as sociedades de cultura protestante.
A história de Portugal dos últimos 200 anos (o mesmo é válido para Espanha), nos períodos de crise económica ou política, que foram muitos, mostrou frequentemente, na sua aparência pública, um aspecto que era desolador - desordens, golpes de Estado, caos social, como durante a I República. Saiu sempre delas e, em geral, rapidamente. Como economista, e tendo vivido a enorme agitação posterior à Revolução do 25 de Abril de 1974, ainda hoje fico impressionado contemplando a performance económica do país nessa altura. Só teve um ano de crescimento negativo (1975: -5.1% ), que recuperou logo a seguir, e depois continuou a crescer como se nada tivesse acontecido (cf. aqui).
A esfera pública é o pior de Portugal e de todas as sociedades de cultura católica. Por isso, quando as instituições públicas se estão a desfazer, os portugueses cerram fileiras em torno das instituições onde são quase inexcedíveis - as instituições da esfera privada, como a família, o grupo de amigos, a freguesia ou a vizinhança, a pequena empresa, e aí são imbatíveis, porque é aí que eles podem dar largas ao seu liberalismo de base - algo que a sua cultura lhes veda na esfera pública -, inventando, dando as mãos, deitando abaixo e refazendo num instante, remendando, improvisando, desenrascando, em suma, sendo autênticos.
Diferente é uma sociedade de cultura protestante, que exibe o seu melhor na esfera pública e é muito frágil na esfera privada (cf. aqui). Quando as instituições da esfera pública cedem e as pessoas precisam resguardar-se nas instituições da esfera privada para sobreviver, elas ficam a olhar umas para as outras sem saberem o que fazer. Estas são sociedades que se desmoronam com alguma facilidade em relação às sociedades católicas, como o triângulo invertido (P - o da direita) sugere aqui em comparação com o triângulo assente na base sólida (C - o da esquerda).
Na presente crise económica há uma sociedade que já se desmoronou e outras se seguirão. Foi a Islândia, naturalmente uma sociedade de cultura protestante. A Islândia era considerado o país mais desenvolvido do mundo. Está agora de volta à pesca.
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