05 fevereiro 2009

aguentar


Neste post eu pretendo aplicar ao mercado político, em regime de democracia, as ideias desenvolvidas aqui e aqui. Neste mercado, do lado da oferta estão os partidos políticos (os produtores) oferecendo diferentes projectos de governação (os produtos); do lado da procura está o povo ou os eleitores (os consumidores), adjudicando os seus votos entre os vários partidos e os correspondentes projectos políticos.

Interessa-me, em particular, saber como é que um país protestante e um país católico reagem a uma situação em que os produtos políticos oferecidos no mercado são percebidos, por uma parte da população, como sendo generalizadamente de má qualidade.

Começo pelo país protestante. Neste caso, os cidadãos insatisfeitos formam um novo partido, concebem um novo programa e apresentam-se ao eleitorado. Os cidadãos insatisfeitos são os primeiros consumidores deste produto político e é neste sentido que os consumidores são soberanos.

E num país católico? Nada de igual vai ocorrer. Aqui são os produtores - os partidos políticos existentes - que são soberanos, não os consumidores - o povo. Não apenas o povo não tem tradição de se organizar para oferecer alternativas aos partidos existentes, como estes - à semelhança do que fez a Igreja Católica em relação aos judeus, muçulmanos e protestantes - farão tudo para impedir a emergência de novos partidos que lhes façam concorrência.
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Aos consumidores - o povo - não resta senão aguentar a má qualidade dos produtos que os partidos políticos existentes têm para lhe oferecer. Até ao dia em que não conseguindo aguentar mais, se revoltam. E revoltam-se contra quem? Contra os partidos políticos existentes que são generalizadamente varridos da cena.

Olhando a história dos países católicos nos últimos séculos, as revoltas são o seu elemento recorrente. E quando as revoltas foram contra a democracia, os partidos políticos foram sempre o alvo da ira do povo.

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