28 janeiro 2009

a secção de necrologia


Tenho vindo a defender a tese acerca da superioridade da vida intelectual inglesa (protestante) face à portuguesa (católica). Gostaria de ilustrar a diferença neste post comparando os trabalho dos historiadores nos dois países.

Um livro de história - digamos, de um país - escrito por um historiador inglês é um livro que se centra nas ideias que, em cada momento, comandaram os destinos do país - como essa ideias nasceram, como se transformaram, como conflituaram com outras, como desapareceram e foram substituídas por outras. A atitude cultural subjacente é a de que a história de um país é feita por pessoas, que as pessoas são racionais e possuem ideias, e que são as ideias prevalecentes que acabam por comandar o seu destino colectivo. Um livro de história assim lê-se com o prazer de um romance, um enredo em que as ideias nascem, crescem, declinam e morrem.

Diferente é a perspectiva do historiador português. O seu livro de história é um inventário de factos passados, uma espécie de cemitério de acontecimentos, sem uma tese, sem um elo, sem uma ideia directora que os ligue. Lê-se com o prazer que geralmente se sente ao ler a secção de necrologia dos jornais. Comentando recentemente este facto com o Joaquim, disse-lhe: "Os livros dos historiadores portugueses são de um pobreza infinita, nunca têm uma tese". Resposta do Joaquim: "Porque eles, mesmo que a tivessem, teriam medo de a apresentar".
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Existem, obviamente, excepções no mundo de tradição católica, como o livro referido aqui. Porém, o autor vive nos EUA há muitos anos e é professor numa Universidade americana. Em Espanha, menos ainda em Portugal, alguma vez ele teria desenvolvido aquela largueza de espírito, de que fala Pessoa, e que o livro contém.

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