01 novembro 2008

o maior dos reviralhistas


Os jornais do fim-de-semana estão cheios de alusões à insatisfação que reina entre os militares e o Público até faz disso título de primeira página. É a tendência que o Joaquim identificou aqui como a tendência ao Reviralho.

Não será exagero dizer que a maior parte dos portugueses vivos não sabe o que é o Reviralho e provavelmente nunca ouviu falar na expressão, quanto mais dar-lhe conteúdo real. Eu vou procurar explicar a seguir fazendo sempre de conta que estou a falar de religião, de católicos e protestantes. O Reviralho é uma característica dos povos de cultura católica (veja um exemplo aqui) e significa a revolta contra a ordem estabelecida que é vista como injusta ou imoral. Naturalmente, sendo uma característica católica, o maior dos reviralhistas há-de ser o Papa. E, na realidade é isso que ele quer dizer aqui, quando afirma que não causa espanto haver vontade de combater a democracia (que ele, eufemisticamente, chama a ordem da liberdade) para se chegar à verdadeira liberdade.
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Quando um homem ou grupo de homens considera a ordem social prevalecente uma ordem injusta e se interroga o que fazer, a resposta é diferente consoante ele pertença à cultura protestante ou à cultura católica.
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A resposta da cultura protestante é a seguinte: Faça uma seita - modernamente, um think-tank, um lobby, um partido político - propagandeie as suas ideias e leve a opinião pública atrás de si por forma a ganhar influência e poder e, por essa via, modifique o actual estado de coisas.
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A resposta da cultura católica, sendo uma cultura de elite, que não acredita em seitas nem em propaganda, muito menos na opinião pública, é uma resposta muito diferente: Desobedeça, revolte-se e, em última instância, faça uma revolução. (N.B. Foi o actual Papa que presidiu à comissão que elaborou o Catecismo e nela colocou o artigo citado).
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O Papa Bento XVI não faz segredo daquilo ao que anda: "Talvez os homens possam perceber que contra a ideologia da banalidade, que domina o mundo, é necessária uma oposição, e que a Igreja pode ser moderna, sendo precisamente antimoderna, opondo-se àquilo que todos dizem. Cabe à Igreja um papel de oposição profética e ela deve ter a coragem de exercê-lo" (in Dag Tessore, op. cit., p. 19)

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