27 outubro 2008

a state of mind


Lawrence E. Harrison abre o capítulo 7 do seu clássico Underdevelopment is a State of Mind colocando um quiz aos leitores. Traduzo do inglês:

"1. Em que país, durante o período 1814-1876, existiram sete constituições, duas guerras civis, e trinta e cinco tentativas feitas pelos militares para derrubar o governo (onze delas com sucesso)?
2. Qual foi o primeiro país que, em face do caos político e da desordem civil, estabeleceu um sistema sob o qual liberais e conservadores alternariam no poder?
3. Em que país, no início do século XX, um por cento dos proprietários rurais possuiam 42 por cento das terras?
4. Qual foi o país que teve seis revoltas camponesas e cinco revoltas urbanas entre 1827 e 1917?
5. Qual foi o país no século XX em que uma guerra civil, com intervenção estrangeira, conduziu à instauração de uma ditadura militar que durou quatro décadas?"

(Lawrence E. Harrison, Underdevelopment is a State of Mind, Boston: Madison Books, 1985, p. 132).

O argumento do Papa que citei no meu post anterior, e que ilustrei para Portugal, descreve uma característica peculiar dos povos de cultura católica, a saber, a de que a ideia de liberdade nesta cultura está associada ao sentimento de revolta - e uma revolta pessoalizada. Para as nações católicas, a ideia de liberdade é idêntica à possibilidade de se revoltarem contra uma pessoa que elas vêem como sendo aquela que lhes tolhe a liberdade. Nesta cultura, não existe liberdade sem revolta.

A história moderna de Portugal ilustra este ponto. Esta é uma história de múltiplas revoltas contra pessoas (reis, ditadores) que eram vistas como tolhendo a liberdade do povo. Tais revoltas foram quase sempre conduzidas em nome da democracia. Porém, das vezes que a democracia venceu, os portugueses nunca se sentiram livres e, em consequência, a democracia nunca durou no país, precisamente porque lhes faltava uma pessoa contra quem se revoltarem.

As nações católicas precisam de um poder político pessoalizado para se sentirem livres, o mesmo é dizer, para se revoltarem. Em democracia, estas nações não se sentem livres, porque não havendo um poder político pessoalizado, elas não têm contra quem se revoltarem. Pelo contrário, sentem-se agrilhoadas e por isso, mais cedo ou mais tarde, dão cabo da democracia. Como sempre aconteceu.

Sem o pretender, eu acabo de dar uma ajuda para a solução do quiz de Harrison. Trata-se de um país católico. Mas o leitor vai ter de identificar qual é. (Em post a publicar mais tarde fornecerei a solução. Esteja atento. Pode ficar surpreendido)

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