17 novembro 2008

Ámen (II)


A propósito deste post, no qual descrevi uma cerimónia evangélica a que assisti durante o fim de semana, alguns leitores ficaram muito decepcionados comigo, em particular este, tendo sido taxativos na avaliação que fazem destes cultos: são seitas!

Em primeiro lugar, gostava de afirmar que não sou evangélico. Fui educado na moral cristã tradicional. Aliás, entre a 3ª classe e o 6º ano, até frequentei um conhecido colégio católico referenciado neste post do PA.

Mas isso não me impede de criticar a Igreja Católica naquilo que me parece ser a sua maior fragilidade: o distanciamento face aos fiéis. Não se trata da rigidez dos seus valores - a Igreja não deve correr atrás de qualquer modernismo. Trata-se somente da falta de interacção entre clero e crentes. É, por isso, que a missa tem hoje em Portugal uma componente meramente simbólica. Na maioria dos casos, "ir à missa", é apenas uma rotina como outra qualquer. A única interacção humana dá-se na altura dos beijinhos e dos abraços - absolutamente impessoais quando se tratam de desconhecidos. Ou então, no momento de passar a cesta para recolher o dinheirinho - um ritual que me repugna profundamente.

Neste aspecto, a cerimónia evangélica parece ser diferente. Primeiro, ali ninguém me pediu dinheiro e o pastor garantiu-me que neste culto essa é a regra. Segundo, ali as pessoas conhecem-se e formam uma comunidade. E é dessa comunhão que emerge uma aura espiritual que eleva os seus crentes à abstracção associada ao acto da reza. É claro que para nós católicos existem aspectos na cerimónia evangélica que nos chocam, em particular a sofreguidão com que todos rezam em voz mais ou menos alta. Mas isso faz parte do processo que, de acordo com a minha percepção, se pretende indutor da espiritualidade desejada.

Uma nota final: não é a primeira vez que lido com evangélicos. Aqueles com quem tive a oportunidade de conversar, revelaram-se sempre pessoas educadas, conhecedoras das escritas bíblicas e tolerantes em relação às escolhas de cada um. É essa abertura de espírito que eu aprecio. Quanto ao resto, cada um acredita naquilo que quiser.

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