27 outubro 2008

impessoalidade da democracia


Papa Bento XVI, então Cardeal Ratzinger, sobre a impessoalidade da democracia:

"No passado, as instituições exprimiam-se através das pessoas. A delimitação da liberdade podia ser reportada ao arbítrio das pessoas. A liberdade querida nas grandes revoluções configurava-se como libertação do arbítrio das pessoas e como transferência do poder das pessoas para as instituições, para garantir controlo do poder e objectividade no seu exercício.

Ora, a partir do momento em que este processo se verificou, as instituições apresentam-se no seu cinzento anonimato, como um poder indeterminado e sem rosto, como Kafka o descreveu nos seus romances 'O Processo' e 'O Castelo'. Não suscita, então, espanto o facto de as instituições criadas como instrumentos de libertação serem encaradas cada vez mais como o contrário da liberdade e de haver vontade de combater também a ordem da liberdade, para se chegar finalmente à liberdade verdadeira".
(op. cit., p. 143)
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Este argumento ajuda a compreender porque é que tantas pessoas que, em Portugal, de algum modo lutaram contra o Estado Novo e pela Democracia, se encontrem hoje profundamente frustradas com a Democracia. No Estado Novo, era Salazar que concedia a liberdade e, perante qualquer delimitação da liberdade, elas protestavam contra Salazar. No regime democrático, não existe ninguém, em particular, que concede a liberdade; perante qualquer delimitação da liberdade que o Estado Democrático lhes imponha, elas não têm agora contra quem protestar. De igual modo, no Estado Novo, perante uma injustiça, elas podiam queixar-se a uma pessoa, em última instância a Salazar ele próprio. E agora, queixam-se a quem?

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