Há uns dez anos, quando comecei a trabalhar nos mercados, defendia-se que a tecnologia e a integração económica e financeira, em breve, permitiria a criação de um mercado de acções global, transaccionável 24 horas por dia. Pois bem, essa ideia nunca se concretizou.
Existe, contudo, um mercado, associado aos índices de acções, que transacciona 23 horas e 45 minutos por dia: os futuros sobre o S&P500 - versão Mini S&P's - que representam o cabaz de títulos individuais que compõe o índice S&P500 no mercado à vista. Em fusos horários normais, estes futuros começam a transaccionar às 21h30, hora de Lisboa, através da plataforma electrónica GLOBEX, e encerram às 21h15 de Lisboa, quinze minutos depois do fecho do mercado à vista. Pelo contrário, na Europa, os futuros do Eurostoxx 50, aqueles que a nível mundial possuem maior volume de transacções, não transaccionam durante a noite e só abrem uma hora antes do mercado à vista. No Japão, os futuros sobre o Nikkei fazem o mesmo.
Em teoria, a existência de um mercado a funcionar em permanência tem várias vantagens, nomeadamente a) permitir a abertura ou encerramento de posições com maior flexibilidade e; b) antecipar de forma mais rigorosa a abertura do mercado à vista (que no caso do S&P500 acontece às 14h30 de Lisboa). Contudo, na prática, sucede que o volume de transacções dos futuros do S&P500 é muitíssimo baixo fora das horas normais do mercado à vista, em particular durante a sessão asiática até à hora de almoço na Europa quando os traders norte-americanos começam a entrar em acção. Ou seja, a fiabilidade dos futuros do S&P500 neste período de tempo é quase nula, especialmente em momentos de maior volatilidade. Os propósitos que levaram à sua introdução não estão a ser atingidos.
Esta questão está já a gerar muitas críticas nos Estados Unidos, onde vários gestores profissionais se insurgem quanto ao carácter virtual das transacções realizadas em GLOBEX. Uma solução é abolir as transacções em GLOBEX e adoptar horários semelhantes aos que existem na Europa e no Japão. Outra alternativa é exigir à bolsa onde os futuros do S&P500 são cotados, o Chicago Mercantile Exchange (CME), a admissão de mais "market makers" durante o GLOBEX no sentido de assegurar a liquidez (e a credibilidade) deste mercado.
Eu prefiro a primeira solução. Outros parecem indicar no mesmo sentido. É o caso de Walter Hellwig que afirma "It's a 24 hour watch. I check the futures when I go to bed. I check them when I get up and sometimes I even get up and check them in the middle of the night." É que, caros leitores, garanto-vos, isto não é fantasia - acontece mesmo, sobretudo quando há posições abertas!
PS.: O dia de hoje é um bom exemplo do que acabei de descrever. A ausência de volume em GLOBEX conduziu o futuro do S&P500 a um mínimo muito inferior ao que foi registado a partir do momento em que abriu o respectivo mercado à vista. Veja aqui.
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