15 outubro 2008

Risco e consenso

O colapso sistémico é um produto do consenso. Do consenso entre os banqueiros centrais que fixaram taxas de juro baixas, do consenso entre os políticos que promoveram habitação social colocando em risco os mercados financeiros, do consenso entre os banqueiros que adoptaram modelos de negócio muito semelhantes e do consenso dos traders que em simultâneo sobrevalorizaram os mesmos activos.

Em contrapartida, a segurança sistémica emerge da diversidade de modelos de negócio, da diversidade de métodos de avaliação activos, da fixação de taxas de juro de acordo com a valorização por múltiplos agentes e da existência de sistemas políticos e de regulação diferentes entre si. Os agentes mais importantes para a segurança sistémica não são os que aderem à posição maioritária. Como existe o risco de a posição maioritária estar errada, quem adere a ela contribui para aumentar o risco de colapso sistémico. Os agentes mais importantes para a segurança do sistema são os que seguem estratégias minoritárias porque essas estratégias reduzem o risco de colapso sistémico.

Isto é fácil de perceber retrospectivamente. A bolha do imobiliário resultou da convicção, por parte da maioria dos agentes, de que o imobiliário continuaria a valorizar. Quem aderiu à posição maioritária contribuiu com as suas compras para valorizar ainda mais o imobiliário. Quem, por outro lado, seguiu estratégias minoritárias e apostou na queda do imobiliário contribuiu para reduzir a dimensão da bolha e da crise subsequente.

O mesmo fenómeno pode ocorrer na regulação. Se todos os países aderirem ao mesmo sistema regulador, o risco de colapso sistémico é maior do que se cada país seguir regras de regulação diferentes. Regras de regulação iguais tornam todos os países vulneráveis aos mesmos problemas. Regras de regulação diferentes tornam os países vulneráveis a problemas diferentes e impedem crises simultâneas.

As medidas tomadas para combater esta crise são extremamente perigosas pelo simples facto de serem consensuais. Nenhum país ocidental seguiu estratégias minoritárias, o que implica que todos os países passaram a ter as mesmas debilidades. Um único problema pode causar o colapso simultâneo de todas as economias ocidentais. E como os Estados e os grandes agentes económicos seguem estratégias cada vez mais interdependentes, o colapso das economias poderá levar ao colapso de muitos estados. É por isso que, quem defende teses minoritárias num período em que é exigido consenso, contribui mais para a segurança sistémica do que quem se limita a aderir aos consensos.

A intervenção dos estados tem um segundo efeito adverso. Esta intervenção premeia as estratégias maioritárias que estavam erradas e pune as estratégias minoritárias que estavam certas. Os agentes ficaram a saber que as estratégias minoritárias, que são as que têm um efeito estabilizador no sistema, não compensam.

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