Num post anterior referi-me à falta de cultura económica existente em Portugal e, mais geralmente, nos países de cultura católica. Observar de fora do país, na condição de emigrante ou expatriado, a forma como os problemas económicos são tratados e discutidos, permite revelar os sinais essenciais desta cultura, ou da falta dela.
(1) Perante um problema de natureza económica, a primeira reacção dos portugueses é a de que isso não é nada com eles. Só afecta os outros. Ficam portanto à espera que o mundo lhes caia em cima.
(2) Quando a discussão do problema é finalmente desencadeada, gera-se uma extraordinária mistura entre aquilo que é essencial e aquilo que é acessório. O ruído trazido à discussão pelos argumentos relativos aos aspectos acessórios torna virtualmente impossível a concentração nos aspectos essenciais. Perante um problema grave e a necessitar resolução urgente, os portugueses ficam entretidos a discutir os aspectos laterais.
(3) Em resultado do anterior, nunca se gera um consenso acerca do disgnóstico do problema e das soluções para o tratar. Cada português tem uma tese única e pessoal acerca das causas do problema e da maneira de o tratar. A esmagadora maioria destas teses são falsas. Mas quando confrontados com os factos que desmentem as suas teses, eles ignoram a realdade e persistem nas suas teses. Por vezes geram-se grupos de opinião, a maior parte deles verdadeiros grupos de ficção.
(4) A discussão evolui quase sempre no sentido de arranjar um culpado para o problema. Por isso, as discussões económicas em Portugal acabam sempre em discussão política e em moralismo, recriminando moralmente os culpados pela situação.
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(5) Uma autoridade, que não necessariamente no domínio que respeita ao problema, é chamada à rádio ou à televisão para explicar a questão. Diz meia dúzia de generalidades que os portugueses escutam com atenção - não pelo conhecimento que a autoridade possui na matéria, mas pelo facto de ser uma autoridade (v.g., um ex-ministro, um dirigente partidário, um escritor laureado com o Prémio Pessoa)
(6) As soluções ao problema são sempre tomadas in extremis. E são tomadas pelo Estado porque a sociedade civil nunca se consegue entender. Nestas condições de aflição, os portugueses aceitam qualquer solução que lhes seja imposta. Ainda que a solução seja má, desajustada ou simplesmente irrelevante para tratar o problema, a discussão termina com um sentimento de alívio de quem quer dizer: Este problema está arrumado.
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