21 outubro 2008

o mais católico


De todos os posts que escrevi hoje, aquele que me deu mais prazer foi este, embora tenha sido este a atraír as atenções. Ambos tratavam do mesmo tema, a influência da tradição religiosa nos nossos comportamentos individuais e colectivos.

Quando trato este assunto levantam-se várias objecções que mostram que este é um tema naturalmente impopular - e é isso, precisamente, que me leva a insistir nele. Entre as mais frequentes, a primeira é a de que estou a escrever sobre religião, um tema que está claramente fora de moda. A segunda é a de que as pessoas já não vão hoje à missa nem possuem uma educação religiosa como dantes, e portanto o catolicismo deixou de ter influência nos seus comportamentos. Os meus críticos são geralmente pessoas jovens e com um pendor político tipicamente de esquerda.

Como não podia deixar de ser. O pensamento socialista em todas as suas variantes, na sua atitude construtivista, considera que o homem pode fazer o mundo de novo. Não surpreende que um socialista menos sofisticado, menos dado ao estudo e à reflexão, confunda os desejos com a realidade, e considere que o mundo, tal como o encontrou e o vive, foi feito por ele e pelos da sua geração.

Nada de mais errado. De todas as ideias que habitam no espírito dum homem não existe um por cento sequer que tenham sido criadas por ele e pelos da sua geração. E dentro deste um por cento, a maior parte são profundas asneiras que ele e os da sua geração têm todas as probabilidades de vir um dia a pagar caro - como acontece presentemente com as ideias modernistas importadas de países protestantes, como a Inglaterra e os EUA, acerca da liberalização do aborto, da facilitação do divórcio, da igualdade entre os sexos e da normalização social da homossexualidade, para mencionar apenas algumas.

A esmagadora maioria das ideias que habitam o espírito de um homem e dos da sua geração vieram do passado e foram-lhe colocadas no espírito pela família, pela escola, pelos amigos e por todas as outras instituições da sociedade (universidades, empresas, igrejas, grupos desportivos, etc.) que contribuem para educar e socializar os homens. Algumas dessa ideais têm milénios de idade.

Como é que estas ideias se formaram, e de onde é que elas vêm, corresponde a procurar as causas e a origem daquilo que nós chamamos geralmente a cultura de um povo. No seu livro Liberty and Equality, Erik von Kuehnelt-Leddihn dá uma resposta que, antes dele, outros autores como Max Weber ou, em Portugal, Antero de Quental já tinham reconhecido:

"Dentre todos os elementos externos que contribuem para formar o carácter das pessoas bem como dos grupos, a religião é, talvez, o mais forte. Isto não nos deve surpreender porque cada uma das grandes religiões oferece uma visão quase completa de um universo que faz sentido; aponta um destino e um caminho.
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É, portanto, evidente que diferentes religiões impliquem culturas de vida diferentes: elas influenciam o nosso temperamento. Não devemos subestimar os efeitos de outros factores, como a geografia, a metereologia, a biologia, a alimentação, a história e a sociologia; ainda assim, as grandes mudanças resultantes da conversão de grandes grupos não podem deixar de nos impressionar. Mesmo no curto prazo, padrões de comportamento inteiramente novos acabam por emergir".

Não é fácil quantificar o peso de cada um destes factores, e em particular do factor religioso, na determinação da cultura de um povo. Na minha apreciação, a religião católica terá um peso que eu estimo em 75% na cultura do povo português. Como Salazar observou "Portugal é um país que nasceu à sombra da Igreja Católica". Viveu quase sempre fechado e isolado do resto da Europa porque o seu principal inimigo - a Espanha - lhe barrava o acesso por terra. E, quando se abriu, navegando para outros continentes, fê-lo a pregar a fé católica e foi grande à custa disso.
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Os melhores momentos da história de Portugal e os mais pujantes - como os Descobrimentos ou, mais recentemente o Estado Novo (cuja organização foi concebida à imagem da cúria romana) - foram vividos em perfeita comunhão com a Igreja Católica; os piores - como a I República - no mais completo divórcio.

Portugal é, talvez, na sua cultura, o mais católico dos países católicos e ninguém, nem de longe, propagou o catolicismo por esse mundo fora como fizeram os portugueses. Este é o povo católico por excelência, ainda que vá cada vez menos à missa.

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